A importância da Organização do Partido
junto dos trabalhadores e as Campanhas Nacionais

 


Membro do CC do PCP

Os trabalhadores, principal força produtiva de toda a socie dade, continuam a ser a força determinante na luta pelo progresso social. As organizações do Partido junto dos assalariados assumem, assim, uma importância que supera a sua condição de base fundamental da estrutura partidária, projectando-os como eixos essen-ciais de ligação do Partido com as massas e o País, como alavancas privile-giadas para a intervenção e luta no debate ideológico e político que percorrem a sociedade portuguesa.

A célula da enpresa, questão central

A célula de empresa ou de local de trabalho não é a única forma de organização dos trabalhadores comunistas, ou a única via de aproximação do Partido aos trabalhadores. Mas é uma questão central, chave, para reforçar uma área decisiva e o desenvolvimento orgânico do Partido, em extensão, em influência, em quadros, em eficácia política e social. É no interior da empresa que se afrontam, em primeiro lugar, as duas grandes forças antagónicas da sociedade capitalista (o trabalho e o capital).
É a partir dos locais de trabalho, das questões concretas e dos problemas concretos que fundamentalmente se esclarece e mobiliza, que se evidencia a coincidência estratégica entre os interesses nevrálgicos do capital, dos partidos de direita e do PS, que se despertam consciências, libertam energias de luta e de combate.
É nesta perspectiva que o Partido, no quadro de uma intensa actividade e de um diversificado calendário de acções e iniciativas, tem vindo a realizar periodicamente as Campanhas Nacionais junto dos trabalhadores, sem tirar nenhuma validade, importância e ac-tualidade da orientação de assegurar o carácter interdependente e complementar da acção de massas, da acção institucional e da intervenção política geral do Partido, bem como da importância fundamental que constitui, para a manutenção da identidade do Partido, a organização da célula dentro da empresa ou local de trabalho.

Iniciativas legislativas e acções programadas pelas Direcções Regionais

Assim foi demonstrado nesta última campanha de contacto com os trabalhadores, realizada de 14 de Março a 15 de Abril, com o lema “Melhores Salá-rios, Emprego com Direitos, Mais Valor ao Trabalho”. Tomando a iniciativa legislativa, com importantes projectos-lei na área laboral e executando um vasto plano de acções programadas pelas Direcções Regionais. Acções que passaram por debates públicos, centenas de reuniões, colóquios e plenários, convívios e encontros promovidos pelas células, conferências de imprensa e outros contactos com a comunicação social, acções de rua e contactos directos com os trabalhadores e as suas organizações em centenas de empresas, entregando em mão cerca de 400 mil documentos centrais, aos quais se somam os muitos milhares editados por iniciativa das respectivas organizações. Tudo isto contou com o empenhamento de centenas de camaradas, de quadros e dirigentes do Partido.
De destacar, também, a realização de uma jornada nacional de venda do Avante!, integrada na campanha, em que participaram largas dezenas de camaradas e em que se venderam, num só dia, mais 800 exemplares do Avante! do que habitualmente se vendiam.
Salienta-se que, a par com uma grande manifestação de simpatia pelo Partido, que muitas vezes era traduzida através da simples afirmação de que somos os únicos que estamos presentes fora das épocas eleitorais, também se estabeleceram maiores aproximações ao Partido, deixando pontes para novos recrutamentos, alguns efectuados em plena campanha, e para começar ou recomeçar a organização em empresas e locais de trabalho.
Uma referência ao apoio prestado às organizações regionais através de duas carrinhas centrais, decoradas, que permitiram o contacto com centenas de empresas e milhares de trabalhadores, que de outra forma não teríamos condições de alcançar, envolvendo nestas acções mais de duas centenas de camaradas das respectivas organizações e uma dezena de camaradas que, com o espírito de militância que nos caracteriza, percorreram o País de lés-a-lés durante quatro semanas.

As Campanhas Nacionais e a luta de massas

É importante referir que esta campanha nacional se desenvolveu num pe-ríodo de intensa luta de massas e que a par das pequenas e grandes lutas dos trabalhadores, que se transformaram em afluentes da grande manifestação de 23 de Março, também o papel do Partido foi, aqui, mais uma vez, determinante para o grande êxito desta vigorosa manifestação, promovida pela grande central sindical dos trabalhadores portugueses, a CGTP-IN, por melhores salários e pelo emprego com direitos.
Já realizámos várias campanhas nacionais junto dos trabalhadores, das quais se destacam a campanha realizada de 26 de Setembro a 3 de Outubro de 1998 com o lema “Pelos Direitos dos Trabalhadores, Contra o Pacote Laboral, Desenvolver a Luta, Reforçar o PCP”, bem como a de 15 a 26 de Março de 1999 com o lema “Com o PCP, Valorizar os Direitos de Quem Trabalha”, que se enquadraram num dos momentos de luta mais dura e prolongada entre o Governo PS e os trabalhadores e que teve como eixo o pacote laboral emanado do “Acordo de Concertação Estratégica”, subscrito pelo Governo, confederações patronais e UGT.
Também aqui, e mais uma vez, o Partido cumpriu o seu papel, definindo na altura o conteúdo mais gravoso do famigerado pacote e organizando uma intensa campanha de denúncia e mobilização para a luta, contribuindo, desta forma, para travar a ofensiva em toda a sua dimensão, esclarecer os trabalhadores sobre os verdadeiros objectivos do Governo e do grande capital e reforçar, a sua consciência política e de classe.
É assim que, definindo-se o PCP como Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, defensor de todas as classes e estratos sociais que sofrem a exploração e opressão do capitalismo, tem como objectivo central de toda a sua intervenção a defesa dos seus interesses e anseios.
A identidade, a ideologia e o projecto do PCP - razão da sua força e in fluência - só serão assegurados se o Partido reforçar a sua ligação aos trabalhadores, afirmando-se como portador de uma teoria revolucionária anti-dogmática, dia-léctica e, por consequência, criativa - o marxismo- -leninismo, que não só permite ex plicar a vida social como indica como transformá-la.
Esta ligação também depende das formas de organização e capacidade de luta, do reforço da importância que assume na nossa actividade a acção permanente e continuada da ligação e contacto com os trabalhadores. Mas, por muito importante que seja a ida do Partido à porta das empresas, por todos os aspectos positivos que constituem estas acções, por permitirem um contacto com todos aqueles que precariamente, com baixos salários e sem direitos, entram diariamente no mercado de trabalho, com destaque para os jovens, consideramos que não basta ir lá, à porta da empresa; é preciso estar lá dentro, organizando e mobilizando, pois só assim se assegurará uma actividade e intervenção regular do Partido dentro da empresa ou local de trabalho.
Só assim estaremos em condições de reforçar o PCP junto da classe operária e dos trabalhadores e dar cumprimento às linhas orientadoras saídas dos últimos congressos, que têm apontado a necessidade de se “acentuar a prioridade das células por locais de trabalho, de reforçar o acompanhamento dos membros do Partido que intervêm nas estruturas sindicais e outras organizações dos trabalhadores e articular melhor a sua acção com a actividade das células de empresa e de sectores profissionais, de reforçar a atenção a empresas e sectores de âmbito nacional e pluridistrital”.
O Encontro Nacional de Quadros de 15 de Abril, realizado a encerrar a Campanha Nacional, onde estiveram presentes cerca de quatro centenas de camaradas com responsabilidades aos mais diversos níveis no Partido e nas Organizações Representativas dos Trabalhadores deu elementos importantes para a compreensão da actual situação política e social, da dimensão da ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e contributos fundamentais para o reforço da organização do Partido e elementos de análise para a preparação do nosso XVI Congresso.
Estamos profundamente convictos, pela justeza dos nossos ideais e objectivos, que se assegurarmos a execução das nossas muitas tarefas e no respeito pelos princípios que sempre orientaram a nossa actividade, estaremos a dar o contributo decisivo que os trabalhadores esperam de nós, para se construir a alternativa à política actual, alternativa que há-de conduzir à transformação social e à construção de uma sociedade mais justa e liberta da exploração do homem pelo homem. Como foi afirmado no XV Congresso e no Encontro Nacional: “façamo-lo no tempo que for preciso, porque vale a pena!”.

«O Militante» - N.º 247 - Julho/Agosto 2000