20 anos... muitas lutas |
Membro da Comissão Política
e do Secretariado da JCP
A Juventude Comunista Portuguesa completou no passado dia 10 de Novembro
20 anos de existência.
Há 20 anos realizava-se o encontro da UJC (União de Jovens Comunistas)
e da UEC (União dos Estudantes Comunistas) que viria a ficar na história
dos jovens comunistas como o encontro da Unificação. Foi deste
encontro que nasceu a Juventude Comunista Portuguesa, herdeira de longos e
muitas vezes penosos anos de lutas pelos direitos da juventude e, até
1974, da dura intervenção contra o fascismo.
É uma verdade inegável que o nascimento da JCP em 1979 não
significou o nascimento da luta dos jovens comunistas em Portugal. Significou,
sim, o continuar da luta de muitas outras gerações de jovens
comunistas que, encontrando em diversas alturas diferentes formas de organização,
sempre entenderam como necessária e fundamental a dinamização
da luta pelos direitos e aspirações da juventude. Significou
o continuar do trabalho e entrega daqueles que sempre encararam a intervenção
junto e com a juventude uma vertente vital da luta comunista.
Em luta e em festa
Com efeito tem sido na luta, em luta e em festa, que a JCP tem crescido.
Em luta, porque a JCP tem a consciência clara das responsabilidades
que tem para com a juventude portuguesa e da importância e significado
que tem e transporta, enquanto organização, para a conquista
e defesa dos seus direitos.
Na luta porque, cientes das suas responsabilidades, os jovens comunistas portugueses
têm pautado a sua intervenção por uma proximidade grande
à realidade juvenil, buscando na discussão colectiva dentro
da JCP e no movimento juvenil os instrumentos essenciais para a definição
das suas propostas e das suas reivindicações.
Em festa porque na JCP entendemos o trabalho, a discussão e a luta
como partes integrantes duma verdadeira escola de formação humana
que nos transmite os valores da camaradagem, da amizade, do respeito mútuo,
da liberdade e da alegria.
É esta a nossa forma de trabalhar, de discutir, de funcionar e de lutar.
É da discussão profunda, ampla e democrática que nascem
as orientações da JCP e que todos assumimos como nossas. É
da opinião colectiva, construída por todos e por todos assumida,
que nasce a união e a força dos jovens comunistas e das nossas
propostas.
E essa força, a das nossas propostas, assenta numa intensa ligação
à realidade e, sendo fruto dela, mergulha fundo nas reivindicações
que emergem da luta juvenil no nosso País.
Não somos espectadores da luta, nem comentadores, somos agentes da
verdadeira política, aquela que quer dar resposta às aspirações
dos jovens portugueses.
Esta é, assim, a organização que, não só
dá corpo às reivindicações do movimento juvenil,
como é parte integrante dele e contribui com a sua força, a
sua militância e as suas propostas para o seu reforço.
Só com a luta alcançamos um futuro melhor
O lema e os títulos das resoluções do nosso 6º
Congresso, realizado em Março passado, espelham bem esta nossa atitude
perante a vida, perante o mundo. Temos a certeza que só com a luta
no presente poderemos alcançar um futuro melhor, só com a luta
poderemos reforçar a nossa organização e ganhar mais
jovens para a defesa dos nossos ideais.
Assim, a JCP - organização revolucionária para
a juventude é a organização que intervém
na dinamização da luta e que através dela se reforça.
É com a luta que podemos e queremos ganhar fôlego para continuar
a caminhada para um mundo diferente. Não entendemos a luta como um
fim em si mas sim como a expressão concreta da vontade dos homens.
É impossível dissociar o ideal comunista da luta e do envolvimento
dos homens e mulheres e dos jovens na sua dinamização. Este
ideal enriquece-se em cada manifestação, em cada reunião,
em cada acção que desenvolvemos em prol dos interesses da juventude.
Recusamos a atitude paternalista e estática de que somos nós
os donos da verdade. Aprendemos no dia a dia a melhorar a nossa acção,
a corrigir os nossos erros, a trilhar o nosso caminho de luta. Caminho este
que não se esgota na luta diária que por vezes nos afoga de
preocupações e trabalho, mas sim, se deve reforçar através
dela.
Queremos um outro mundo, uma outra sociedade, sabemos ser este o caminho a
seguir, passo a passo, observando sempre os erros cometidos, guardando sempre
os exemplos a seguir e as vitórias alcançadas.
Sabemos que não é tarefa fácil transformar o mundo. Sabemos
que 20 anos é uma gota de água na luta que já foi travada
e que irá continuar além das nossas próprias vidas.
Mas, por isso mesmo, tarefa fácil não terá certamente
também o capital e os mentores do agora chamado neoliberalismo em avançar
com o seu projecto de dominação capitalista e imperialista do
mundo.
As conquistas alcançadas pelas lutas de gerações de comunistas
são parte integrante da realidade actual. Estão presentes no
nosso dia a dia e são a prova vivida que as lutas do presente e do
passado conseguiram trazer à humanidade avanços importantíssimos
e não permitem que na actualidade se observem maiores retrocessos.
São um património que reivindicamos com orgulho e que é
impossível fazer esquecer.
No entanto e apesar das vitórias conseguidas e da resistência
apertada, aumenta a exploração e a repressão, agravam-se
as desigualdades, tenta-se retirar direitos, desvirtuam-se liberdades.
As profundas contradições do capitalismo
Hoje são claras as profundas contradições do sistema
capitalista. São regulares os relatórios internacionais que
apontam para o agravamento do fosso social entre poucos muito ricos e muitos
muito pobres. É hoje uma realidade inegável o aumento da fome,
da guerra, das crises económicas. É hoje inegável a contestação
que surge e se avoluma contra os instrumentos económicos e militares
do imperialismo e contra o próprio sistema, sendo disso exemplos mais
recentes, entre outros, a histórica mobilização do povo
português pela libertação de Timor Lorosae e contra a
passividade e cumplicidade da ONU e dos EUA com o Governo indonésio,
as manifestações nos EUA e na Europa por ocasião da cimeira
da OMC e a espantosa mobilização da juventude grega nas acções
realizadas aquando da visita de Bill Clinton à Grécia.
Esta contestação tem toda a razão de ser. Cada vez mais
a evolução social é marcada por um aprofundamento da
estratificação social, complexa e com evoluções
quase diárias e várias vezes contraditórias, que continua
a ter como base a existência de duas classes sociais fundamentais com
interesses antagónicos. Os exploradores - detentores de grande parte
da riqueza produzida e dos meios de produção - e os explorados
- uma imensa maioria que mais não tem do que a sua força de
trabalho para sobreviver.
A realidade mostra que é num contexto de profundas injustiças
que se desenvolve o sistema capitalista e que a luta de classes é,
hoje, como no passado, embora com contornos diferentes, uma realidade inegável.
É nesta luta de classes, que se intensifica com o aumento das contradições
e injustiças, que os jovens comunistas intervêm na defesa da
classe explorada. É desta luta de classes, que os comunistas dinamizam
no dia à dia, que nasce a transformação social. Não
de um dia para o outro mas etapa a etapa, com avanços e recuos, mas
com a certeza de que este caminho é o certo e com a determinação
de o continuar.
Recusamos o fim da história
Determinação e luta que tendo tido início com Marx e
Engels, contou com o contributo fundamental de Lénine na concretização
de projectos e ideias e que, continuada com gerações e gerações
de comunistas, conta já com mais de 150 anos.
A JCP entende o marxismo-leninismo como a ideologia que materializa e dá
conteúdo científico à necessidade histórica e
possibilidade de transformação do mundo e não como um
dogma.
Importante instrumento de análise da realidade, em articulação
com a prática e da qual nunca poderá ser desligado, o marxismo-leninismo
evolui com o progresso dos conhecimentos, com a análise das novas situações,
processos e tendências de desenvolvimento.
Assim, assume o marxismo-leninismo como um guia para a acção
que se adapta às novas realidades, que dá resposta a novas questões,
que se enriquece com a nossa experiência e trabalho e que já
assimilou criticamente as experiências de gerações e gerações
de comunistas.
Ao contrário de outros evoluímos com o evoluir do tempo, buscamos
novas respostas a novas situações ao mesmo tempo que não
rejeitamos o passado.
Recusamos e não advogamos o fim da história, porque esse não
existirá. Nunca!
Os saudosistas do passado que escrevem livros negros e outras publicações
de encomenda, esses, que advogam o fim da história, tentam agora fazer
esquecer que foram as lutas desencadeadas pelos comunistas e pelos trabalhadores
que garantiram e continuam a garantir direitos aos trabalhadores e aos povos
de todo o mundo como as férias, os salários, o horário
de trabalho, os vínculos laborais, o direito à educação,
à saúde, à independência de povos que durante séculos
foram subjugados pelo colonialismo, o fim de ocupações sangrentas,
etc., tentam fazer esquecer que a luta dos comunistas trouxe e continua a
trazer enormes avanços para a humanidade.
Não o fazem porque se tenham lembrado agora que os comunistas são
perigosos para a humanidade. Não o fazem porque tenham descoberto agora
a história do mundo.
Fazem-no porque a realidade actual cada vez mais os empurra para a posição
de defesa e porque o descontentamento em relação ao sistema
capitalista é para eles uma realidade dura de roer.
A verdade está nas ruas, nas fábricas, nas escolas
A esses senhores e aos seus lacaios muito bem pagos a JCP diz: mandem escrever
ou escrevam as mentiras que quiserem, porque a verdade está nas ruas,
nas fábricas, nas escolas. A verdade é que os comunistas sempre
estiveram, estão e hão-de estar ao lado de quem trabalha, de
quem estuda, de quem está desempregado, enfim de quem sofre com a exploração,
lutando pelos direitos que nos tentam roubar.
A verdade está numa organização cheia de jovens dispostos
a transformar o mundo e a encarar a luta com a coragem de quem defende princípios
- a JCP. A verdade está nos jovens que todos os anos aderem à
JCP. A verdade está do nosso lado, do lado do PCP e da JCP.
É por tudo isto que a frase 20 anos... muitas lutas encerra em si,
não um mero recordar dum passado relativamente recente, mas sim um
corajoso compromisso de continuar a caminhada pela construção
de uma sociedade nova, a sociedade socialista, a sociedade comunista, pela
qual muitos lutaram e muitos outros continuam a lutar.
Somos uma organização diferente porque diferentes são
os nossos objectivos. Somos uma organização mais forte porque
fortes são as nossas convicções. Somos uma organização
pequena porque a enormidade das tarefas e das lutas que se nos colocam necessitam
de mais e mais jovens dispostos a abraçar esta festa que é a
luta histórica dos comunistas.
Como há mais de 150 anos atrás os jovens da JCP cá estão
para trilhar novos caminhos ao mundo. Sabemos que não queremos o trabalho
como actividade castradora do homem, sabemos que não queremos metade
do mundo a passar fome, sabemos que queremos uma democracia que coloque o
homem no centro das atenções. Sabemos onde queremos chegar.
Vamos continuar a aprender a lá chegar. É nisto que pensamos
quando lutamos contra as provas globais, contra as propinas, pela educação
pública gratuita e de qualidade, pelo emprego com direitos, pelos direitos
sexuais e reprodutivos, etc.. É com este objectivo que milhares de
jovens abraçam todos os dias a luta dos comunistas.
Como no passado - e porque a história só faz sentido se utilizada
para delinear o futuro - com as nossas muitas lutas vamos aprender,
aprender, aprender sempre.
«O Militante» - Nš 244 - Janeiro/Fevereiro 2000