Os verdadeiros objectivos da guerra
A guerra desencadeada pelos EUA, através da “sua” NATO, contra a Jugoslávia tornou-se a questão internacional principal, de muito
grande importância para o futuro da humanidade. Não só pelos sofrimentos e horrores que provocou mas pelos perigos muito grandes que se podem prever dada a existência de uma superpotência única dirigida pelos interesses das grandes transnacionais.
Superpotência cuja história é um rol de intromissões, agressões e invasões em relação a muito variados países, sem nenhuma consideração pela soberania dos outros e a liberdade dos povos.
É bom lembrar que o fascismo português aderiu à NATO desde o seu começo (1949), apesar de nos seus objectivos se salientar a importância da defesa da democracia... E lembrar também que a invasão de Timor-Leste, admnistrado então por Portugal, membro da aliança atlântica, foi consentida e apoiada pelos EUA...
Tudo isto pode parecer incrível mas é a realidade que se tem vivido.
É esta realidade que a comunicação social dominante tudo faz para esconder, para deturpar, para colocar as vítimas como criminosos e os verdadeiro responsáveis como pessoas de bem. Por isso é importante dar saliência aos que esclarecem o que verdadeiramente se passa, apesar de poderem ter posições políticas muito diferentes.
Miguel Sousa Tavares (Público, 23.4.99)
“A revelação feita há dias pelo antecessor do general Clark no comando da NATO de que os Estados Unidos congeminaram no ano passado e no âmbito da NATO um ataque à Sérvia, envolvendo um exército de 200 mil homens, é reveladora da premeditação com que os americanos montaram o cenário desta “guerra humanitária”. A razão pela qual os Estados Unidos querem enfrentar Milosevic é a mesma razão pela qual impuseram a expansão da NATO para Leste e a mesma razão pela qual vivem em lua-de-mel com a Turquia apesar da limpeza étnica dos curdos: garantir o cerco à Rússia. Eu conheço a teoria porque já a ouvi defender a alguns “íntimos” da NATO. Contra toda a prudência, contra toda a necessidade e contra todo o bom-senso, Washington continua a Guerra Fria contra a Rússia.
João Martins Pereira, engenheiro, antigo secretário de Estado da Indústria do IV Governo Provisório (Público, 7.5.99) (“Carta aberta a João Cravinho”)
“Ponho-me a imaginar o que pensaríamos nós, ao tempo de Salazar, se uma qualquer grande potência do momento, a pretexto dos métodos insuportáveis de tal ditadura, aqui e nas colónias, decidisse arrasar o país, como prelúdio para a «instauração da democracia». Vejo-me, vejo-nos a todos nós, a unirmo-nos decididamente contra o abominável agressor. Mas não. Nesse tempo a potência dominante, a mesma de hoje, andava entretida muito simplesmente a sustentar ditadores ao pé dos quais o Salazar era um aprendiz (...).”
“Meu caro João, (também) eu «tive um sonho»: que uma eventual saída tua do Governo (de que falam alguns jornais) se não devesse a uma suposta escassez de obras públicas em período eleitoral ou a uma promoção à Comissão de Bruxelas, mas a um vigoroso murro na mesa em protesto contra esta guerra inacreditável!”
António Ribeiro Ferreira, director-adjunto do Diário de Notícias
“O ataque da NATO à Embaixada da China em Belgrado é a consequência lógica de tudo o que se tem passado nesta guerra ilegítima e imoral contra a Jugoslávia. A escalada vertiginosa para o abismo está à vista e já não há refugiados kosovares que justifiquem a barbárie comandada por Washington, Londres e companhia. (...)
A verdade é que, desde o dia 24 de Março, os únicos massacres e crimes comprovados foram os praticados pelos aliados. A verdade é que Clinton, Blair e companhia têm as mãos sujas de sangue inocente. (....) Os senhores da NATO são um perigo para a paz no mundo. No meio desta desgraça, mete dó olhar para Guterres. Por um lado, indigna-se com os massacres de timorenses. Por outro justifica os crimes de guerra cometidos pela NATO. Uma tristeza.”(“Uma tristeza”, DN, 10.5.99)
“O cuidado com os kosovares é tanto que os homens da guerra até apoiam uma organização terrorista, que está na mira de diversas polícias ocidentais, incluindo dos EUA, por ser um dos canais utilizados pela mafias para o trafico de drogas. (...) Já é tempo de dizer basta. A tanto erro, a tanta morte e a tanta mentira.” (“É tempo de dizer basta”, DN, 13.5.99)
“Os anexos do chamado acordo de Rambouillet (...) merecem ser lidos atentamente para se perceber a verdadeira natureza da guerra desencadeada pela NATO contra a Jugoslávia. Nesses documentos, estranhamente mantidos em segredo durante tanto tempo pela transparente Aliança Atlântica, os aliados pretendiam, tão só, a total capitulação de um país soberano. (...) as chamadas negociações de Rambouillet não foram mais do que uma farsa para a NATO tentar legitimidade para uma guerra há muito pensada e programada. Os verdadeiros objectivos da Aliança não eram, como não são, os albaneses do Kosovo. A NATO pretendia e pretende destruir a Jugoslávia e transformar os Balcãs num imenso protectorado ao serviço dos interesses estratégicos dos Estados Unidos e das potências europeias, como a Alemanha, a França e o Reino Unido.” (“A farsa de Rambouillet”, DN, 21.5.99)
“Quando uma organização terrorista com ligações comprovadas às mafias albanesas, o UCK, é financiada, armada e aliada da NATO no ataque à Sérvia, está tudo dito sobre a moral de quem manda puxar o gatilho. No Kosovo, em Belgrado ou em Roma.” (“A nata do terrorismo”, DN, 24.5.99)
“O Tribunal Internacional Penal acaba de legitimar a guerra ilegítima da NATO contra a Jugoslávia. A pronúncia de cinco responsáveis de Belgrado, incluindo Slobodan Milosevic, como criminosos de guerra é um acto de puro arbítrio, uma encomenda política dos «donos do mundo» para continuarem, agora com um suposto argumento jurídico, as agressões criminosas contra a Jugoslávia (...). O Tribunal Internacional Penal sempre foi uma organização parcial e comandada pelos interesses dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Para esta caricatura de tribunal, os criminosos são, por norma, sérvios. (...) O espantoso é que uma organização criada pelas Nações Unidas não pronuncie como criminosos os responsáveis da NATO que violaram a carta das Nações Unidas e o direito internacional ao atacarem um país soberano. O que é espantoso é que esta caricatura de tribunal não tenha pronunciado os responsáveis da NATO pelos massacres, esses sim provados, cometidos no Kosovo e na Jugoslávia contra civis inocentes. (...) Chegou finalmente a hora de os senhores da esquerda sorridente invadirem a Sérvia e tentarem, cinquenta anos depois, vingar a humilhante derrota de Hitler nos Balcãs. (“Criminosos”, DN, 28.5.99)
«O Militante» Nº 241 - Julho / Agosto - 1999