Sobre o anticomunismo



A propósito das eleições para o Parlamento Europeu foram feitas afirmações, ou melhor, acusações, que aclaram o verdadeiro fundo de algumas pessoas ou que são usadas, no fim de contas, para defenderem os seus objectivos.

O Diário de Notícias (30.5.99) deu grande destaque a uma frase de uma entrevista de Paulo Portas: “Eu faço parte daquela parte do País que, se o dr. Álvaro Cunhal tivesse ganho, se calhar não estava vivo.”
É difícil conhecer o que Paulo Portas pensará sobre os comunistas portugueses que, durante largas dezenas de anos, por lutarem pelos interesses dos trabalhadores e pela liberdade e a democracia, foram presos, torturados e mortos. Também não se sabe o que pensará sobre os assaltos aos Centros de Trabalho do PCP que também causaram mortos e destruições. Isto, claro, já depois do 25 de Abril, mas com a direita (de que Paulo Portas afirma fazer parte) a actuar contra a liberdade conquistada, a ver se seria possível voltar ao tempo anterior em que os comunistas (e não só, claro) eram até mortos por serem antifascistas. Paulo Portas também não saberá que, quando da eleição, em 1986, para Presidente da República e a direita esperava que o seu candidato ganhasse, havia já grupos preparados para, de novo, tentarem assaltar os Centros de Trabalho do PCP.
Sim, porque se conhecesse tais situações, tudo faria para que tais atropelos e mortes não tivessem lugar...
É demasiado fácil acusar os outros sem quaisquer argumentos.

Maria de Lurdes Pintasilgo, numa iniciativa realizada no Porto, achou por bem dar a sua explicação por que o PCP não apoiou a sua candidatura à Presidência da República e a sua entrada para o Governo após o 11 de Março (Público, 30.4.99).
Depois de ter dito que o não apoio está ligado às afinidades que tinha com o PCP - “uma preocupação social genuína” -, o que pode ser difícil de perceber, avança com a razão por que o PCP não aceitou a sua entrada no Governo: porque “era católica”.
É uma acusação grave que não tem qualquer base. O PCP teve sempre e continua ter muitos católicos no seu seio. Como tem, também, membros que professam outras religiões. O facto de termos como base o marxismo-leninismo nunca dificultou o trato com católicos e mesmo com sacerdotes, por quem o PCP tem grande consideração, que é mútua.
Porque é a "preocupação social genuína" que caracteriza os comunistas, que permite e facilita a aproximação dos católicos que também a têm, incluindo sacerdotes.
Porquê fazer-se uma tal afirmação sem qualquer fundamento?


«O Militante» Nº 241 - Julho / Agosto - 1999