Aniversário da CIP



Decorriam ainda as comemorações do 25º aniversário da Revolução de Abril, democratas e progressistas não poupavam esforços para avivar na memória do povo e explicar às gerações mais novas esse acontecimento maior da nossa História, e o grande patronato comemorava, à grande e à francesa, o 25º aniversário da sua organização de classe - a CIP/Confederação da Indústria Portuguesa.
Entre pâté de javali ao vinho do Porto, supremos de cherne com creme de gengibre, tudo regado com vinhos do melhor, entre discursos formais e amena cavaqueira sob os olhares enternecedores de António Guterres e do seu ministro de Economia, Pina Moura, a "fina flor" dos grandes capitalistas festejou no Rita esse acontecimento.
Teve razões de sobra para o fazer.
Nestes 25 anos decorridos o grande capital conseguiu o que quis. E nisso, a CIP, intérprete da filosofia revanchista do grande patronato ligado à finança internacional, teve um desempenho de primeiro plano.
Uma vez recuperada, com o 25 de Novembro de 75, a arrogância que perdera no 11 de Março, os grandes capitalistas, com o vento a soprar de feição, não perderam tempo nem ocultaram os seus propósitos. Lançaram-se a toda a brida na ofensiva contra as nacionalizações, contra o regime democrático, contra os direitos dos trabalhadores.
Através da CIP apelaram ao apoio de todos os industriais, dizendo, então, ser ele necessário "enquanto houver neste País uma central sindical forte e aguerrida". Pela boca de Ferraz da Costa, presidente da CIP, apresentaram, sem papas na língua, ao poder político, as suas reivindicações:
- iniciativa privada sem limites;
- fim dos privilégios do sector público;
- justa indemnização das nacionalizações;
- guerra às leis do trabalho e à Constituição.
A "obra" dos dirigentes da CIP, mandatários do grande capital, mancomunados com os sucessivos governos do PS e do PSD e as suas políticas de direita, aí está à vista:
- destruição quase completa do sector público;
- reconstituição dos velhos e constituição dos novos grupos monopolistas através da centralização e concentração da riqueza;
- sujeição dos interesses nacionais às directrizes dos grandes grupos económicos, do capital multinacional e dos centros financeiros internacionais;
- subversão da democracia política e crescente submissão do poder político ao poder económico;
- intensificação da exploração dos trabalhadores e limitações dos seus direitos e garantias.
Tem razão, pois, o grande patronato para esfregar as mãos de contente, tanto mais que, na véspera da jantarada da CIP no Rita, Guterrres, que se associara às comemorações dos 150 anos da AIP/Associação Industrial Portuense, condecorou no Porto o seu presidente, Ludgero Marques, com a distinção de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e anunciou, em voz maviosa, ser sua intenção, na próxima legislatura, transformar o Ministério da Economia num ministério das empresas, concentrando nele a gestão dos fundos comunitários.
As suas palavras soaram como um cântico celestial aos ouvidos dos grandes patrões da indústria e da alta finança: Mello, Champalimaud, Espírito Santo, Belmiro de Azevedo e companhia...
Ao longo destes 25 anos a CIP não tem escondido a sua natureza de classe e os objectivos que a movem. O Governo PS de Guterres, com a sua política de direita, tão pouco.
Os trabalhadores e as populações em luta não escondem e levantam bem alto as suas reivindicações.
Afinal, quem anda a dizer para aí que a luta de classes já não existe?


«O Militante» Nº 241 - Julho / Agosto - 1999