Eleições para o Parlamento Europeu
Números e alguns comentários



Como tem sido habitual, além dos números totais de cada uma das forças políticas (em 99 e em 94), publicam-se os resultados das eleições de 13 de Junho, nos diversos Distritos e Regiões Autónomas, comparando-os com os resultados de 94 e das legislativas de 95, mas só em relação às quatro principais forças políticas. Desta vez juntamos nesses quadros os números referentes à emigração. E inserimos ainda um quadro só com os resultados iguais ou superiores a 1% obtidos pelas outras forças políticas.
Os números que apresentamos são ainda provisórios, mas já estão contados os resultados das freguesias que só realizaram as eleições no dia 20 de Junho.
Os números definitivos, pouco diferentes destes, só serão conhecidos mais tarde.

Inscritos e votantes

O número de inscritos é superior ao de 1994. E somente inferior em cerca de 150.000 em relação a 1995 (eleições legislativas). Isto mostra que "a limpeza" dos cadernos eleitorais foi muito pequena. Subsistem ainda nos inscritos muitos nomes de pessoas falecidas ou que saíram do País, e também nomes repetidos. É claro que todos esses casos fazem aumentar artificialmente a abstenção.
Apesar disso é fácil afirmar que a abstenção foi, mais uma vez muito numerosa e, com rigor, pode dizer-se que o número de votantes foi supe-rior ao de 1994 - mais 440.000.
As duas Regiões Autónomas destacam-se porque nos Açores houve a menor percentagem de votação (30,9%) e na Madeira a maior (44,7%).

PS, PSD e CDS/PP

O PS venceu as eleições de forma destacada - mais 12 pontos percentuais que o segundo partido - o PSD. Isso fez com que elegesse mais dois deputados do que os que possuía.
É natural que a presença, como cabeça de lista, de Mário Soares e as constantes e muito amplas referên- cias que lhe foram feitas pela comunicação social dominante tenha sido um factor positivo para aumentar a votação no PS. Pena foi que as afirmações e cartazes dizendo que "Mário Soares já está eleito" tivessem sido interpretados por não poucos eleitores, desconhecedores do processo eleitoral, como não interessando já votar...
Mas o que era esperado com o "candidato suprapartidário" em número de votos e respectiva percentagem não foi atingido. É certo que o PS passou de 34,8% (1994) para 43,1% (1999). Mas não conseguiu alcançar sequer a percentagem obtida em 1995 nas eleições legislativas (43,8%).
Agora, nas eleições para o PE, o PS obteve a vitória nos Açores e em todos os distritos, excepto em Bragança, Leiria, Vila Real e Viseu.
Em relação à eleição para o PE em 1994, o PS retirou o primeiro lugar ao PSD em Aveiro, Braga, Guarda, Viana do Castelo e Açores, e à CDU em Beja, Évora e Setúbal.
O PS perdeu mais de 1 milhão e 67.000 votos em relação às legislativas de 95 e percentualmente só subiu em Aveiro, Braga, Leiria, Porto, Viana, Vila Real e Açores.
O PSD conseguiu ganhar nos distritos de Bragança, Leiria, Vila Real e Viseu e na Região Autónoma da Madeira. Mas perdeu, em relação a 1994, 3,3 pontos percentuais, embora tenha obtido mais 35.000 votos e melhorado a votação em Aveiro, Braga, Coimbra, Faro, Leiria, Lisboa, Santarém, Setúbal e Viseu.
O PP perdeu 4,3 pontos percentuais em relação a 1994 e mais de 95.000 votos. Perdeu também um deputado. Dos principais partidos é o único que perde votos, apesar de um maior número geral de votantes. Desce também, quer percentualmente quer em número de votantes, em relação às eleições de 95 e passa para quarta força política.

CDU

O pior resultado da CDU é a perda de um deputado, embora por causa de um número reduzido de votos.
É certo que, em relação às eleições de 1994, a CDU obteve mais cerca de 18.000 votos mas desceu, na percentagem, 0,9 pontos percentuais.
Importa referir que obtém maior número de votos nas Regiões Autónomas e em todos os distritos excepto em Setúbal e nos três distritos do Alentejo, exactamente aqueles em que tem tido maiores votações.
Entretanto, mesmo percentualmente, a CDU sobe em Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Porto, Viana, Vila Real e nas Regiões Autónomas. E mantém a mesma percentagem em Viseu. É importante esta subida percentual em muitos distritos onde a influência da CDU é reduzida. Mas não sobe a percentagem em Faro, Leiria, Lisboa e Santarém.
As descidas verificadas em Setúbal e no Alentejo poderão ter sido influenciadas, entre outros aspectos, por modificações notáveis na composição social de alguns dos distritos, pelo aproveitamento escandaloso do PS dos meios do Estado e do poder político e, também, pelas dificuldades que existem em algumas organizações para ultrapassar situações menos boas.
Quer em relação às descidas quer em relação às subidas, é importante aprofundar as suas causas e procurar combatê-las, no primeiro caso, e aproveitá-las melhor, no segundo. Por todo o lado é sempre uma questão necessária procurar vencer deficiências orgânicas, debilidades de ligação com as populações e insuficiências na actividade, particularmente na área autárquica mas não só.
Deve salientar-se ainda o facto de na comparação entre os resultados recentes e os de 95 (legislativas), todos os quatro partidos perdem votos (em todos os Distritos e Regiões Autónomas) excepto a CDU na Madeira e em Vila Real, embora neste último caso com uma subida de apenas 134 votos.
Na Região Autónoma da Madeira a CDU obteve mais 1.244 votos do que nas legislativas de 95 e passou de 1,3% para 3,2%. Embora já em 1996, nas eleições regionais, a CDU tenha passado a conseguir mais votos que a UDP, elegendo dois deputados e a UDP um só, agora a distância entre a CDU e o recente Bloco de Esquerda (que assenta, na Madeira, principalmente na UDP) aumentou muito, pois a CDU teve 2.978 votos e o Bloco de Esquerda 933.

Outros partidos

O Bloco de Esquerda, que é a soma dos partidos UDP, PSR e PXXI, confirmou a quinta posição, agora depois do PP. Os seus melhores resultados são obtidos em Lisboa (3,2%) e Setúbal (2,7%). Mas só conseguiu elevar a sua percentagem de 1,6% (os três partidos em 1994) para 1,8%. Aliás, diminui o número de votos e a percentagem em 10 distritos e nas duas Regiões Autónomas. Na Madeira desce de 3.169 (3,2%) para 933 (1,0%).
O MRPP subiu a sua percentagem de 0,8% para 0,9%. Continua a recolher, sem qualquer dúvida, muitos votos numa foice e martelo que engana eleitores pouco precavidos.
O PPM também elevou o número de votos e a percentagem de 0,3% para 0,5%.
O MPT subiu só nos votos e o PSN e o PDA desceram em votos e em percentagem.
O POUS reapareceu mas tem um resultado menor que há 10 anos (embora, em 1994, tenha adoptado outro nome - Movimento de Unidade dos Trabalhadores e a sigla MUT).

Parlamento Europeu
  1999 1994
Inscritos

8 684 716

%

8 575 078

%

Votantes

3 481 380

-40,1

3 045 356

-35,5

Abstenções

5 203 336

-59,9

5 529 722

-64,5

Brancos e Nulos

115 895

-3,3

96 971

-3,2

CDU

358 471

-10,3

340 803

-11,2

PS

1 499 541

-43,1

1 060 905

-34,8

PSD

1 081 730

-31,1

1 046 857

-34,4

CDS/PP

283 463

-8,1

378 845

-12,4

Bloco de Esquerda (*)

62 068

-1,8

48 931

-1,6

PCTP/MRPP

30 542

-0,9

23 952

-0,8

MPT

13 985

-0,4

12 889

-0,4

MUT

2 893

-0,1

PDA

5 077

-0,1

7 004

-0,2

POUS

5 570

-0,2

PPM

16 222

-0,5

8 300

-0,3

PSN

8 816

-0,3

11 147

-0,4

PRD

5 941

-0,2

(*) em 1994 soma de UDP, PSR e PXXI



«O Militante» Nº 241 - Julho / Agosto - 1999