Contra a guerra



Dois terços dos portugueses, segundo sondagens, estão, desde o início, contra a agressão da NATO à Jugoslávia. Isto, apesar das constantes "explicações" sobre as "razões" da agressão que a comunicação social transmite.
Desde Clinton ao ministro dos Negócios Estrangeiros britânico Robin Cook, ao espanhol Javier Solana (que há alguns anos atrás protestava contra a NATO, na altura em que a Espanha não fazia parte dessa Aliança), actual secretário-geral da NATO, e a muitos e muitos outros, incluindo jornalistas, todos eles querem explicar, desculpar, esconder o verdadeiro crime contra a Jugoslávia, que está a impressionar e a inquietar todo o mundo.
Por fim, muitos dias depois de Portugal ter também entrado na guerra à sorrelfa, Guterres fala ao País mas recusa-se a responder a qualquer pergunta.
Não admira que haja protestos vários e em muitos lados do País e que muitos portugueses, mesmo com posição política longe da esquerda, critiquem, asperamente, a agressão e a posição do Governo PS, posição que é apoiada pelas direcções do PSD e do PP.

Dois exemplos de posições contra a guerra:

- José Loureiro dos Santos, general, ex-chefe do Estado Maior do Exército, diz (DN, 31.3.99) que os EUA e os seus parceiros da NATO teriam toda a legitimidade de actuar militarmente sobre um Estado que se tivesse tornado uma ameaça para qualquer país da Aliança Ocidental. "Mas a verdade é que não se vislumbra que a Jugoslávia constitua um perigo à segurança da NATO".
"Pode ainda gerar perplexidade das opiniões públicas nos países ocidentais quanto à capacidade dos seus dirigentes e à necessidade da própria NATO".
Portugal deveria ter procurado convencer os seus parceiros da NATO do "erro estratégico que iria ser cometido". No caso de não o conseguir, "Portugal deveria ter tomado uma clara opção de não participar na operação militar"
Assim, "também Portugal cometeu um erro estratégico".

- Alfredo Barroso, co-fundador do PS diz (antes da agressão dos EUA):

"A brutalidade e crueza do capitalismo anglo-saxónico - de que o imperialismo económico, cultural e militar norte-americano é o mais perfeito símbolo - hão-de provocar, mais tarde ou mais cedo, a hostilidade crescente desse vasto mundo em que a exploração desenfreada, a pobreza absoluta e a fome endémica alastram assustadoramente. Estará a Europa ciente da extrema gravidade das consequências que podem advir de uma situação tão explosiva? Uma UE tão «cor-de-rosa» devia-se mostrar menos submissa perante os EUA!" (Expresso, 20.3.99).

Depois da agressão:

"O irresponsável Clinton, o inefável Blair, o peneirento Schroeder, o frenético Chirac e as várias marionetas políticas que supomos governar os restantes países membros da NATO, de Lisboa a Ancara, não aparecem na paisagem pura e simplesmente porque a guerra deles é virtual (...)".
"Os propósitos pretensamente humanitários da NATO transformaram uma aliança meramente defensiva numa organização militar agressiva e o seu poderoso dispositivo de guerra numa autêntica multinacional bombista."
"Coro de vergonha só de ouvir os mais altos responsáveis lusitanos a papaguear argumentos pueris e plagiados para justificar a intervenção activa de Portugal na tragédia jugoslava. Parece que é mesmo uma questão de solidariedade bombista!" (Expresso, 2.4.99).
"Sob o manto diáfano da hipocrisia política e do apocalipse cor-de-rosa, as bombas da NATO também estão a matar a democracia." (Expresso, 10.4.99).
«O Militante» Nº 240 - Maio / Junho - 1999