A "diferença"
A propósito do falecimento do
camarada Octávio Pato, a comunicação social fez muitos
e diversos comentários. Normalmente os elogios a aspectos
importantes da sua vida eram acompanhados por depreciações em
relação ao PCP, ao partido de que Octávio Pato foi membro e
destacado dirigente. A comunicação social dominante está
orientada nesse sentido.
Do que foi dito interessa fazer uma referência aqui ao artigo
escrito por João Carreira Bom, no Diário de Notícias
(21.2.99). Todo o artigo tem interesse mas o seu final merece
especialmente o último nome do jornalista.
"(...) quando as convicções se confinam ao horizonte do
interesse económico, é como se não existissem. Não se milita.
Elege-se. Vota-se agora no PS e amanhã no PSD. Acorre-se à sede
deste ou daquele, de acordo com o vento que passa. Não
precisamos de resistir nada. (...) Na verdade, ao oscilarmos
entre o PS e o PSD, navegamos no mesmo barco: o bloco central.
Nós, portugueses, somos fiéis a um só partido: ao que ganha.
Existem excepções. Octávio Pato era uma delas."
Em nosso entender, procura-se destacar neste texto que há uma diferença
entre aqueles que andam (e votam) ao sabor dos interesses
materiais, dos interesses pessoais, e há os que são motivados
por interesses que os ultrapassam, por interesses sociais, pelo
bem dos outros. Tal motivação permite uma vida assente na
solidariedade, assente num sentido profundamente humano.
É necessário que os comunistas compreendam bem esta diferença
e cuidem dela, estimem-na e resguardem-na. Aqueles que a perdem
mostram que as suas "convicções" se confinam ao
horizonte do interesse económico e, por isso, "é como se
não existissem".
Mas a diferença nunca deve ser encarada com um sentido
fechado, sectário. Há outros, muitos outros, que também
possuem essa diferença ou que podem adquiri-la. Cabe também a
cada comunista ajudar outros a cultivar essa diferença, a
torná-la naquilo que nos define e nos distingue.
«O Militante» Nº 240 - Maio / Junho - 1999