Duas importantes Assembleias



A realização, com um intervalo de uma semana, das Assembleias das Organizações Regionais de Setúbal e do Alentejo, as duas maiores organizações regionais do Partido a seguir à de Lisboa, e o facto de um conjunto de quatro concelhos que faziam parte da ORSetúbal ter passado para a ORAlentejo, levou O Militante a colocar algumas perguntas aos camaradas Jorge Pires e José Soeiro, membros da Comissão Política e responsáveis, respectivamente, da ORSetúbal e da ORAlentejo.


PCP mais forte, Alentejo com futuro
1ª Assembleia da Organização Regional do Alentejo
José Soeiro
Membro da Comissão Política


A decisão de retirar da Organização Regional de Setúbal os quatro concelhos do Alentejo Litoral e incluir estes na Organização Regional do Alentejo assenta, decerto, em razões fortes. Quais são?

JS - A criação da nova Organização Regional do Alentejo, que abrange os distritos de Beja, Évora e Portalegre e os quatro concelhos do Litoral Alentejano - Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines - que faziam parte da Organização Regional de Setúbal, resulta de uma longa e aprofundada reflexão que vínhamos fazendo entre as DOR envolvidas no processo e os Organismos Executivos do Comité Central quanto à necessidade de adaptar a nossa estrutura organizativa a uma nova realidade que nos vinha sendo imposta no terreno, ou seja, a existência de uma estrutura desconcentrada do Estado que intervém em todo o território do Alentejo.
A Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, o Programa Operacional da Região do Alentejo, as Direcções Regionais dos diferentes Ministérios, os instrumentos de Planeamento e Ordenamento do Território tinham já uma abrangência territorial correspondente à área da nova Organização Regional do Alentejo do Partido agora criada.
Por outro lado, os problemas dos quatros concelhos em questão têm uma maior identidade com os problemas do resto da região Alentejo do que com os problemas específicos da Península de Setúbal.
Não é demais lembrar que nós vínhamos já a funcionar, desde 1994, de forma articulada com todas as organizações do Partido intervenientes no território alentejano através do Organismo Inter-Regional do Alentejo.
A criação da nova Organização Regional do Alentejo corresponde assim à necessidade de melhorar a eficácia da resposta política do nosso Partido a uma realidade existente independentemente do processo da criação ou não das Regiões Administrativas.


A Assembleia da ORAlentejo elegeu uma Direcção Regional com apenas 24 membros. Porquê?

JS - A opção por uma Direcção Regional com apenas 24 membros deve-se, por um lado, à consideração de que um organismo muito numeroso levanta problemas de funcionalidade e operacionalidade e, por outro, à experiência positiva do trabalho que o Organismo Inter-Regional do Alentejo vinha desenvolvendo. Foram no essencial estes dois factores que levaram à aprovação de uma resolução pelo Encontro Regional de Quadros do Alentejo que, a par de outros critérios, apontava para a eleição de uma Direcção com um número de membros não superior a 25 por forma a conciliar capacidade de análise e elaboração política com grande capacidade executiva e operacionalidade de funcionamento.
A opção por esta solução não pode, entretanto, ser desligada da concepção de trabalho de direcção que consta da resolução política aprovada e que aponta no sentido de um envolvimento de um número muito superior de quadros no trabalho de direcção da região.
Gostaria de sublinhar cinco orientações nesse sentido: a realização anual do Encontro de Quadros do Alentejo, entre Novembro e Fevereiro, para, entre outras questões, fazer o balanço da actividade realizada e aprovar o Plano de Actividades seguinte; a realização de reuniões entre a DRA e as DOR da região para aprofundar questões de orientação para as diferentes áreas de intervenção do Partido; a chamada às reuniões da DRA de camaradas de áreas específicas para discussão de questões temáticas referentes às respectivas áreas; a constituição de Grupos de Trabalho junto da Direcção Regional para as principais áreas e realizar reuniões de quadros destas com a participação, sempre que possível, de camaradas da Direcção do Partido.


Falta ainda conhecer a opinião do camarada José Soeiro sobre as experiências colhidas com a realização da 1ª Assembleia da Organização Regional do Alentejo (28.2.1999).

JS - A realização da 1ª Assembleia da nova Organização Regional do Alentejo constituíu em si uma grande experiência que confirma uma tese da maior importância para o nosso trabalho. É a de que a realização de uma Assembleia constitui sempre um momento muito importante na vida de uma organização e muito em especial se se trata de uma grande organização como é o caso do Alentejo.
Por um lado, porque obriga a uma reflexão mais profunda sobre a realidade em que nos movemos, sobre as questões fundamentais que se colocam ao Partido, sobre as respostas e os caminhos a percorrer para assegurar êxito na nossa acção, conscientes da importância que tem, para uma viragem à esquerda da política nacional, o reforço da nossa influência política, social e eleitoral, só possível com uma forte, bem estruturada e muito interventiva organização.
Por outro lado, porque constitui uma importante oportunidade para mobilizar e chamar ao debate os membros da respectiva organização, aprofundar o trabalho colectivo, reforçar a unidade e coesão da organização, superar insuficiências, unificar a acção do Partido.
Finalmente porque a Assembleia, reflectindo o funcionamento democrático do Partido, é em si um acto de afirmação da vitalidade da organização e da natureza de classe das suas preocupações e objectivos de progresso e bem estar para quem trabalha.
Os cerca de 200 plenários e assembleias realizadas no âmbito da preparação da 1ª Assembleia da nova Organização Regional do Alentejo com milhares de participantes, os 117 novos membros inscritos no período da sua preparação (Jan. e Fev.), 54 dos quais com menos de 30 anos, a renovação e reforço de organismos, a regularização de muitas situações, atestam o dinamismo que a realização de uma assembleia pode imprimir na vida de uma organização partidária.
A Assembleia em si, com os seus 545 delegados e os mais de 350 convidados, que tornaram insuficientes os 800 lugares sentados inicialmente previstos, constitui igualmente um elemento muito importante não só por reflectir o amplo trabalho realizado mas também porque, pela sua grandiosidade, pela confiança que transmite a todos os participantes.


Com o PCP intervir, lutar, transformar
5ª Assembleia da Organização regional de Setúbal
Jorge Pires
Membro da Comissão Política


Como os quatro concelhos do litoral alentejano não deixam de fazer parte do Distrito de Setúbal, como se resolve organicamente tudo aquilo que assenta na unidade deste Distrito? Uma questão em concreto é a que se liga com as eleições legislativas.

JP - Tal como referiu o camarada José Soeiro a criação da Organização Regional do Alentejo, que integra desde Fevereiro passado os quatro concelhos alentejanos do Distrito de Setúbal, resultou duma reflexão conjunta das quatro Direcções Regionais envolvidas e dos organismos executivos do Comité Central, reflexão que incluiu todos os cenários que resultarão de tão profundas alterações.
Vamos ter a partir de agora duas Organizações Regionais a intervirem no mesmo espaço geográfico que é um conjunto de quatro concelhos que pertencem ao Distrito de Setúbal.
Independentemente da nossa vontade, o processo da regionalização do País não avançou e por isso mantém-se em funcionamento, quer no plano institucional, quer no plano social, um conjunto de estruturas cujo espaço de intervenção é o distrito de Setúbal. Também e de acordo com a lei eleitoral as populações votam nas legislativas em círculos distritais. Tudo isto foi devidamente equacionado e as soluções encontradas apontam no fundamental para uma coordenação muito estreita em áreas fundamentais para a intervenção do Partido.
No caso concreto das legislativas a condução do processo em todos os seus aspectos é da responsabilidade da DORS em estreita ligação com a Direcção da Organização Regional do Litoral Alentejano.


Pedimos, agora, ao camarada Jorge Pires que nos resuma as questões centrais tratadas na 5ª AORS (20.2.1999).

JP - A resolução política aprovada pela esmagadora maioria dos 840 delegados presentes na Assembleia aponta um conjunto de orientações e linhas de trabalho que resultaram não só da discussão realizada na fase preparatória em toda a Organização Regional, mas também incorpora os resultados duma avaliação feita a um conjunto de medidas tomadas imediatamente a seguir à reunião do Comité Central de 14 e 15 de Fev./ 98.
Partimos para esta Assembleia com um conjunto de dificuldades e insuficiências orgânicas e de direcção, mas sobretudo de intervenção para o exterior do Partido, as quais ao longo dos últimos anos tiveram como consequências mais evidentes a diminuição da nossa influência política e eleitoral apesar de essa influência se manter em níveis elevados.
Todas estas dificuldades não estão desligadas das profundas mutações que se têm verificado no tecido económico, na composição social da população e também da intensa e prolongada campanha ideológica contra o Partido.
Partindo duma tese fundamental que se tem confirmado no dia-a-dia, de que a força deste Partido está na sua natureza de classe, na sua ideologia, nos seus objectivos, mas também, em grande medida, na capacidade que tivermos de pôr a funcionar regularmente este grande colectivo que é a Organização Regional de Setúbal, preparado ideológica e politicamente para intervir, colocamos como questão central procurar as soluções mais adequadas no plano orgânico, de direcção e de quadros, que favoreçam uma maior participação dos militantes na vida da suas organizações.
Uma outra linha de trabalho da maior importância é o levar a Organização do Partido aos muitos locais de trabalho onde não temos organização e reforçá-la onde ela está débil. Reforçar o Partido nos locais de trabalho e aumentar a nossa ligação aos trabalhadores é uma primeira prioridade apontada na Resolução Política da 5ª AORS.
Uma outra questão central no debate foi a necessidade de intensificar a renovação e rejuvenescimento dos quadros que a todos os níveis asseguram a direcção do Partido na ORS. Nos últimos anos, e a começar na própria DORS, foi possível ir responsabilizando novos quadros, sobretudo quadros jovens, muitos deles com provas dadas na JCP.
Nos últimos três anos foram subsidiados ou funcionalizados para o trabalho da JCP e do Partido no Distrito de Setúbal duas dezenas de jovens com idades até 30 anos. Esta aposta permitiu-nos não só ir renovando e rejuvenescendo a DORS, mas também os seus organismos executivos assegurando desta forma sem sobressaltos a passagem do testemunho entre gerações. Hoje é com orgulho que dizemos que mais de 50% do executivo da DORS é diferente na sua composição do que tínhamos há cinco anos atrás, e que todas estas alterações foram feitas com naturalidade e mantendo em quantidade e qualidade os níveis de intervenção.
Por último, no debate preparatório e na própria Assembleia, deu-se particular importância à necessidade de termos uma organização que não se feche em si mesma, que seja entendida como a nossa principal arma para intervirmos no meio onde a organização está inserida. Como se refere na resolução política da 5ª AORS, os trabalhadores em particular e a população, de uma forma geral, esperam do Partido no Distrito uma intervenção permanente na procura de soluções para os seus problemas, no apontar de caminhos que conduzam à realização dos seus anseios, na ajuda à defesa dos seus direitos e interesses.
Por tudo isto foi concluído um conjunto de medidas que visam melhorar a organização não a vendo com um objectivo final, mas como um importante instrumento para a nossa intervenção política.
Os trabalhadores e a população desta região precisam do PCP ainda mais forte, mais interveniente, mais combativo.
Este é o grande desafio que está colocado à Organização Regional de Setúbal para os próximos quatro anos.
«O Militante» Nº 240 - Maio / Junho - 1999