Ganhar muitos votos para a CDU
Na sua última reunião de 30 de Março, o Comité
Central tratou das tarefas imediatas do Partido, do reforço
da organização, das profundas diferenças do PCP em relação
aos outros partidos e discutiu, naturalmente, a gravidade da
agressão da NATO à Jugoslávia. Tudo isto vem incluído no Comunicado
que se insere em documentos, no final deste número de O
Militante.
Em relação à situação política nacional, o comunicado
destaca cinco traços: "a nítida ampliação das lutas e da
movimentação social contra a política do Governo",
"as patentes dificuldades que o Governo enfrenta em
importantes áreas e os sintomas de descoordenação,
precipitação e desorientação que manifesta", "as
novas revelações de gravíssimos casos de corrupção",
"a falência e morte da AD" e "a intensa e
diversificada actividade e a dinâmica intervenção do PCP em
variados planos da vida nacional".
Depois, dá saliência à luta contra o pacote laboral,
à continuação da liquidação do sector público
("que deu aos grupos económicos e financeiros e às
multinacionais um poder sobre a economia, a comunicação social
e a vida nacional sem paralelo desde o 25 de Abril"), aos
preocupantes sinais de crise político-institucional na área da
justiça e aos resultados da Agenda 2000 e das
negociações da reforma da PAC, sobre as quais não há
razão para enaltecer somente aspectos positivos.
Ao abordar as eleições para o Parlamento Europeu, o PCP
considera-as como sendo, actualmente, uma tarefa política
prioritária.
Isto significa que as mais diversas organizações do Partido
devem dedicar-lhe uma atenção muito grande. Os resultados
destas eleições podem ter uma repercussão notável na
situação política e mesmo nas eleições legislativas que vão
ter lugar após o período normal das férias anuais.
Antes de mais, é muito importante que se desenvolva uma acção
intensa de contacto com os eleitores e a população em geral
para explicar que os candidatos da CDU se distinguem
claramente dos outros candidatos.
Para além de se dever destacar o facto de praticamente metade
dos candidatos da CDU serem mulheres, o que representa um avanço
muito importante que ultrapassa a polémica das
"quotas", duas questões principais podem ser
apresentadas.
Há poucos meses os três deputados do PCP foram os únicos
deputados portugueses que votaram positivamente uma moção de
censura à Comissão Europeia (conjunto de 20 comissários que
dirige a União Europeia). Essa moção perdeu por poucos votos.
Agora, em meados de Março, um relatório de um Comité de
"Sábios" estabeleceu "uma longa relação de
fraudes e irregularidades nos serviços da Comissão Europeia que
inclui acusações de favoritismo" (DN, 17.3.99).
Apesar dos outros grupos portugueses (e de outros países) terem
tentado defender ainda a Comissão, esta teve de demitir-se em
bloco. Isto distingue completamente os três deputados
comunistas dos deputados do PS, PSD e PP.
Outra questão, não menor, que os distingue também, é o seu
trabalho no Parlamento Europeu. «Comunistas "brilham"
em Estrasburgo» é um artigo do Diário de Notícias
(20.3.99) que põe a nu a diferença que existe entre os diversos
grupos portugueses. Os três deputados eleitos pela CDU fizeram
33,4% de todo o trabalho efectuado pelos 25 eurodeputados de
Portugal. Os dez deputados do PS fizeram 26,3%, os nove do PSD
28,4% e os três do PP 11,8%. Pode dizer-se que, em média, cada
deputado da CDU vale 11,1%, do PS - 2,6%, do PSD - 3,2% e do PP -
3,7%. Quer dizer que, em média, um deputado eleito pela CDU
vale mais do que a soma (9,5%) do que fazem, em média, três
deputados, um do PS, outro do PSD e outro do PP.
Repare-se que os do PS são os que fazem menos. Não admira que
um actual ministro tenha afirmado que gostava de ir para a Europa
para descansar. E também, decerto, para ganhar mais uns
vinténs.... E não se pense que a eleição de Mário Soares,
que chegou ao atrevimento de se considerar acima dos partidos
(uma espécie de deputado a receber votos de todos os partidos)
vai enriquecer o Parlamento com um "grande trabalho"...
Actualmente votar no PS não é só votar no partido que está no
Governo e é o responsável pelo pacote laboral, por uma
posição de defesa acérrima dos interesses do grande patronato,
pela constante mentira sobre o desemprego, pelo não cumprimento
de muitas promessas sobre a educação, a saúde, a justiça e
outras, por uma política de direita contra as conquistas de
Abril, política que também foi defendida pelo PSD e pelo PP.
Actualmente votar no PS é também não desaprovar a decisão
de Guterres a favor da absurda agressão militar a um país com
que temos relações normais e que não nos fez mal algum.
Apesar de todas estas razões muito reais que podem levar ao
aumento de votação na CDU, é necessário ter em conta a
grande tendência para a abstenção nestas eleições,
porque o dia da votação é perto de um feriado e há
possibilidade de utilizar o período como descanso, porque o
Parlamento Europeu fica longe ou porque muitos portugueses não
compreendem a influência crescente que as decisões que vêm da
União Europeia têm nos países membros (em Portugal, portanto).
Alguns também referem que os eurodeputados ganham muito (*) e
consideram a abstenção como uma atitude de protesto contra esse
facto. Tudo isto obriga a um cuidado grande nas conversas,
nos documentos, nas palestras, em todo o trabalho efectivo de
esclarecimento e obtenção de votos para a CDU.
A decisão da NATO, às ordens dos EUA, de desencadear uma guerra
na Europa é a questão mais grave que actualmente se vive entre
nós e em toda a Europa e no mundo. Àcerca disso o comunicado do
Comité Central refere que "tem um grave significado
político que tenha sido por decisão de um Governo do PS que,
pela primeira vez (...) desde o 25 de Abril, militares
portugueses foram directamente envolvidos na agressão a um
Estado soberano do Continente Europeu".
Os dirigentes americanos, ao serviço dos mais poderosos magnatas
financeiros, queriam instalar dezenas de milhares de militares da
NATO no Kosovo (região da Sérvia, considerada o seu berço, mas
onde habita uma maioria de albaneses), com a perspectiva de,
daqui a três anos, se tornar independente da Sérvia. Os
dirigentes sérvios, embora dispostos a discutir problemas
relacionados com o Kosovo, não podiam aceitar e não aceitaram a
imposição que lhes foi colocada. O Presidente da Jugoslávia
(República federativa que engloba a Sérvia e o Montenegro) teve
um comportamento muito criticável quando as tropas da NATO
intervieram na Bósnia e ajudaram os dirigentes fascistas da
Croácia e os dirigentes muçulmanos a esmagar os sérvios e a
expulsá-los de regiões onde habitavam. Foram os EUA, através
das tropas da NATO, que estabeleceram, na Bósnia, o que chamam a
paz de Dayton, "paz" injusta e imposta com as armas dos
EUA e com o apoio dos governos europeus que servem humildemente
os interesses imperialistas americanos. O Governo português
está aí incluído.
O Presidente da Jugoslávia, que tinha uma oposição importante
da parte de muitos sérvios, tem hoje um apoio praticamente
unânime porque tem defendido interesses fundamentais da sua
pátria e do seu povo.
Os ataques bélicos e terroristas da NATO, que se afirmava como
uma aliança defensiva, constituem um gravíssimo acto contra a
Carta das Nações Unidas, contra o papel que a Organização das
Nações Unidas (ONU) representa no mundo. É uma atitude que
não pode ser compreendida pelos que defendem os direitos
humanos, pelos que têm um mínimo de pensamento de esquerda, de
pensamento democrático no seu verdadeiro significado. É uma
atitude que desmascara os diversos governos
"socialistas", que são a maioria dos actuais membros
da NATO.
As manifestações contra a guerra que se levantam por toda a
Europa e não só, as vacilações que se vão notando mesmo em
alguns governos de países da NATO, o facto de sondagens
indicarem que os povos (entre nós também) estão contra esta
guerra imposta pelos EUA, sondagens que, mesmo nos EUA já estão
a inclinar-se nesse sentido, têm de influenciar os diversos
governos e têm de obrigá-los a afastarem-se de uma política
que é contra o direito, contra a vida, contra a humanidade.
(*) A este respeito é bom lembrar que os eurodeputados do PCP,
tal como os deputados nacionais do PCP, só recebem para si o que
corresponde ao que ganhariam se não tivessem sido eleitos.
15.4.99.
«O Militante» Nº 240 - Maio / Junho - 1999