Uma
pequena estória sobre o 1º de Maio de 1974
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Joaquim Gomes
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O primeiro encontro duma delegação do Partido
com a Junta de Salvação Nacional, encontro esse organizado pelo
camarada Rogério de Carvalho, foi realizado na Cova da Moura, no
dia 29 de Abril. Da nossa delegação faziam parte os camaradas
Octávio Pato, Jaime Serra e Joaquim Gomes.
Neste encontro, conduzido pelos generais Spínola e Costa Gomes,
estavam, segundo creio, todos os seis membros que constituiam a
Junta de Salvação Nacional.
Falou-se de várias coisas, mas especialmente da luta dos povos
das colónias, sobre a qual Spínola afirmava que se tratava de
lutas conduzidas por grupos terroristas isolados, que não
gozavam de qualquer simpatia dos povos respectivos, chegando
mesmo ao desplante de dizer que se houvesse eleições na Guiné
e ele se candidatasse, não tinha qualquer dúvida de que seria
eleito!
Entre os vários problemas abordados no encontro surgiu,
naturalmente, a manifestação do 1º de Maio em preparação e
para a qual, já antes do 25 de Abril, o Partido vinha
mobilizando os trabalhadores.
O que os vários membros da Junta disseram acerca deste assunto
não me recordo. Mas recordo perfeitamente o olhar de desafio,
para não dizer provocatório, do general Spínola quando nos
dizia: "No 1º de Maio é que se vai ver se o Partido
Comunista tem a influência e a força que diz ter entre os
trabalhadores". E continuou: "Da forma como decorrer
este 1º de Maio é que se vai ver se o Partido Comunista merece
ou não a liberdade que reclama".
A resposta deram-na os próprios trabalhadores saindo à rua em
massa numa das maiores senão a maior manifestação que se fez
no nosso País.
Várias vezes tenho perguntado a mim mesmo se Spínola e os seus
amigos de sempre não começaram a conspirar contra a Revolução
precisamente no mesmo dia da manifestação do 1º de Maio.
«O Militante» Nº 239 - Março / Abril -
1999