Notas e Comentários
O que alguns dizem sobre o PCP
Padre João Seabra, doutorado em Teologia, jurista, prior da paróquia de Santos-o-Velho, assistente do Movimento Comunhão e Libertação, numa entrevista ao Independente (12/6/98) acerca do referendo da despenalização do aborto faz uma defesa intransigente do Não, muito assente, parece-nos, na ideia, que consideramos irreal, de que a despenalização não elimina, nem sequer reduz, o flagelo do aborto clandestino.
Entretanto, nessa mesma entrevista diz o seguinte: "Pela primeira vez na história, (...) há muitas razões para um católico votar no Partido Comunista. Porque, apesar de tudo, os comunistas são os únicos que falam da vida real. O debate político entre os socialistas e o PSD e o PP é um debate virtual, onde se fala de coisas que não existem. Os comunistas falam do desemprego, das condições em que as pessoas vivem, de questões concretas...
(...) Ser comunista hoje significa preocupar-se com a vida real das pessoas. Pela primeira vez em 50 anos de vida, tenho boas razões políticas para votar no Partido Comunista. E, entre partidos que igualmente não se comprometem na defesa da vida, então prefiro o PCP."
Inês Serra Lopes - Directora do Independente, num artigo "É a vida" (Independente, 21/8/98) afirma: "(...) Nestes tempos, o Partido Comunista ameaça transformar-se na verdadeira alternativa a Guterres. Os comunistas têm, aliás, sabido gerir com extrema habilidade a tentativa do resto da oposição de colar o PS de Guterres ao seu partido. Demarcam-se apenas o suficiente para deixar respirar o governo sem perderem poder negocial. E não afrouxam a pressão social. Vê-se o aumento crescente do número de greves manobradas pelo PCP."
Victor Cunha Rego (DN, 28/10/98): "Não sei se o que tem vindo nos jornais corresponde, exactamente, à proposta do PCP para corrigir aspectos do IRS. Se corresponde é caso para agradecer aos comunistas.
(...) Por coerência com a sua filosofia política, o PCP afirma votar contra este orçamento, que considera subjugado ao Pacto de Estabilidade do euro.
Mas não deixou de apresentar propostas no IRS, que reflectem sensatez e um cuidado estatístico significativo."
Luís Delgado (DN, 30/10/98): "É curiosa, aliás, a diferençade discursos entre o PS e o PC. Enquanto os primeiros usam o discurso do medo e da diabolização dos adversários, os segundos fazem uma campanha pedagógica e serena, que tem assentado numa discussão sérias obre o que entendem como o melhor para o País."
D. Manuel Falcão, bispo de Beja (Público, 15/11/98)
Já antes, numa entrevista, disseque a razão do Partido Comunista ter particular influência no Alentejo se explica porque foi o Partido Comunista que "deu voz" às aspirações do povo alentejano.
Recentemente, no Auditórioda Biblioteca de José Saramago em Beja, manifestou a ideia de que o comunismo é umaideologia "«simpática», fazendo o seu paralelismo com o cristianismo".
Luís Delgado (DN, 17/11/98):"De todos os derrotados, os comunistas foram os únicos a sair da consulta popular com um leve sabor a vitória. Juntando a isto o excelente comportamnento do Grupo Parlamentar do PC, antes e durante o debate do Orçamento, com propostas claras e concretas sobre os impostos, e parece justificada, de repente,a subida consistente dos índices de popularidade de um partido que parecia historicamente condenado. Conclusão óbvia: quanto mais o PS e o Governo diluem as suas convicções, mais o PC se afirma como factor de refúgio e estabilidade ideológica da esquerda. O PC está de volta."
«O Militante» Nº 238 - Janeiro / Fevereiro - 1999