Máximas e reflexões
Europa (II):
anos 90, problemas complexos,
mas não becos sem saída
"Quinhentos anos depois do início da Europa moderna, lemos no Relatório sobre o desenvolvimento humano, das Nações Unidas, que os mais ricos, vinte por cento da humanidade (principalmente a Europa ocidental, os Estados Unidos e o Japão), consomem oitenta e dois por cento dos produtos da Terra. Que os mais pobres, isto é, sessenta por cento da população do globo (...) consomem menos de seis por cento desses bens."
Enrique Dussel, Europa, modernidade e eurocentrismo (1994).
"O bloqueio de uma enorme parte da Europa, em que todas as saídas estão cortadas, gerando-se desse modo um novo "Terceiro Mundo", é friamente calculado por pessoas para quem a generalizada submissão dos povos europeus aos cálculos da rentabilidade capitalista serve de testemunho da irrefragável superioridade da "livre iniciativa"."
Guy Besse, Coragem para pensar, coragem para agir (1994).
"(...) a apologia dos "vencedores" que deixa na penumbra a massa dos perdedores, os inúmeros esforços dos media em torno da reabilitação moral do dinheiro, tendo como pano de fundo uma profunda crise social e política, - tudo isto, ainda que de modo diferente de país para país, tem vindo a marcar grande parte da cultura ética dos povos da Europa (...); é uma "Europa dos valores", entendida a palavra no sentido bolsista, que tem vindo a ser constituída."
Lucien Sève, Vem aí uma Europa dos valores? Bio-ética e dinheiro (1994).
"A cultura inscrita no texto constitucional das comunidades europeias parece balançar entre a teoria da deferência e a prática da anexação (...) Entre a tolerância e o interesse pelas mercadorias culturais esgueira-se, aqui e além, uma estratégia de instrumentalização da cultura e de "formatação" dos gostos e comportamentos."
José Barata Moura, Uma nova crise da consciência europeia (1997).
"Em muitos aspectos, a realidade europeia assemelha-se a uma contra-utopia (...) Impõe-se em toda a Europa uma reorganização da democracia. Mas não a partir de cima."
Michael Fischer, Perspectivas de futuro da Europa (1997).
"Se a "questão da identidade é a questão da história", a Europa do espírito não tem de coincidir com nenhuma forma histórica do que se chama "o espírito europeu". A identidade europeia é por definição um processo inacabado, de que os sujeitos são os diferentes povos da Europa."
Eduardo Chitas, Cinco teses sobre a Europa do espírito (1997).
«O Militante» Nº 238 - Janeiro / Fevereiro - 1999