Região do Porto O trabalho do Partido junto dos trabalhadores
José Timóteo
Membro do CC e da DORP
Como não podia deixar de ser, pelo Partido que
somos, pela sua natureza de classe, pela nossa organização
(Organização Regional do Porto), em que quase 70% são
operários e empregados, e pela realidade social do nosso
distrito, com uma forte implantação da classe operária e de
empregados (cerca de 600 mil trabalhadores por conta de outrem,
sendo pouco menos de metade do sector terciário), tínhamos de
dar uma grande atenção ao trabalho do Partido junto dos
trabalhadores.
Cuidar da força organizada dos trabalhadores no distrito - que,
de forma sintética, assenta em cerca de 4 dezenas de sindicatos,
mais de 100 mil trabalhadores sindicalizados, 90 Comissões de
Trabalhadores e Sub-CTs e outras organizações com fins mais
específicos -, assim como assegurar um cunho reivindicativo e
progressista e o seu carácter unitário, só é possível com
uma forte e organizada influência comunista.
Para a defesa dos seus interesses e direitos, os trabalhadores,
justamente, elegem e confiam nos comunistas. Sendo isto
importante e motivo de satisfação para todos nós, já o
Partido disse, há muito, que não chega. É pois necessário
cuidar mais e melhor das células de empresa, dos sectores
profissionais e, de uma forma geral, de uma maior afirmação
comunista junto dos trabalhadores.
É sobre isto que nos vamos debruçar, mas é oportuno colocar
duas questões prévias:
- As dificuldades são grandes. Em primeiro lugar, para os
trabalhadores e, consequentemente, para o Partido. Esta
realidade, sobre a qual economizarei fundamentação, precisa de
ser tida em conta no nosso trabalho.
- Com todas as alterações no emprego e na estrutura produtiva,
e encontrando forças entre nós para ir apurando as melhores
soluções de trabalho, tenhamos presente o conhecimento, a
experiência, o valiosíssimo património do Partido nesta
matéria e as orientações aprovadas no último Congresso.
Algumas importantes medidas
Na sequência da reunião do Comité Central de Fevereiro e da
importante conclusão “reforçar a organização e
intervenção junto dos trabalhadores”, a que se seguiu uma
aprofundada discussão na DORP sobre o estado actual e as
necessidades de aprofundamento do trabalho do Partido junto dos
trabalhadores na região, decidimos algumas medidas muito
importantes:
. Concentrar mais forças nesta área de
trabalho, designadamente funcionários, dado que se trata de um
sector com características muito próprias, de horários e
natureza do trabalho. . Desenvolver formas mais flexíveis de
organização que facilitem a aproximação do Partido aos
trabalhadores e um maior envolvimento de outros quadros do
Partido neste trabalho (para além dos funcionários). . Imprimir uma intervenção mais verticalizada
e conjugar esse trabalho com as organizações locais do Partido. . Definir prioridades de trabalho: Têxtil,
Vestuário e Calçado; Administração Pública, designadamente
Administração Local; organização da Função Pública e, em
particular, as grandes unidades hospitalares; criar um sector de
Transportes que associe os actuais rodoviários e ferroviários;
criar um sector de Telecomunicações, que associe as
organizações existentes; criar um sector para a energia e
material eléctrico; criar um sector do Comércio dando
prioridade às grandes superfícies; criar um sector da
Construção Civil e Madeiras; criar um sector da Metalurgia que
junte organizações existentes; definir objectivos concretos
para a constituição de novas células nuns casos e noutros
identificar as empresas aonde devemos ir regularmente. . Distribuir as tarefas pelos quadros,
associando no mesmo camarada a organização do Partido com a
respectiva área sindical, permitindo assim um maior entrosamento
e envolvimento de dirigentes sindicais comunistas no trabalho do
Partido e de organização, bem como uma ligação particular dos
responsáveis aos concelhos de maior implantação dos seus
sectores. . Por último, dedicar uma maior atenção do
Partido ao trabalho junto da juventude trabalhadora, pois são
mais de 100 mil no distrito.
Não confundir esta ordenação com qualquer escala de
prioridades.
Indicadores positivos e estimulantes
Passados cinco meses destas decisões e com o período de férias
pelo meio, o que é muito pouco, não temos propriamente um
balanço de resultados, mas temos trabalho e alguns indicadores
bastante positivos e muito estimulantes para o futuro.
Concluímos agora a campanha sobre a legislação laboral e são
novamente largas dezenas de empresas e milhares de documentos, os
encontros, as sessões de esclarecimento.
Estamos a imprimir e a conseguir uma maior relação directa do
Partido com os trabalhadores. As jornadas nacionais do Partido têm aqui um papel
importante, pelo que permitem e pelo que nos obrigam a fazer. Foi
assim a campanha “pelos Direitos” em Maio em que, com
rigor, contactámos cerca de 100 empresas e outros locais de
trabalho e distribuímos à mão cerca de 30 mil documentos.
Isto obriga a planificar, a agir de acordo com as prioridades, a
arranjar brigadas e a ir para a rua a partir das 6 horas da
manhã e até à noite. Até nos obriga a arranjar mais dinheiro,
que não temos, como foi o caso agora de uma carrinha engalanada
e decorada com as mensagens do Partido sobre a questão, que
alugámos para este trabalho e que nos custou cerca de 100
contos.
Para além de cumprirem os objectivos, as jornadas são preciosas
para recolher o ambiente do interior dos locais de trabalho, pela
informação da situação das empresas que são muito úteis
para o nosso trabalho, pela permanente descoberta de novas
empresas, pelo estímulo à resistência dos trabalhadores, pelo
ânimo na luta que recebemos e que damos, pelo trabalho em
extensão para o interior do distrito, por conhecermos por vezes
novos camaradas que nos abordam, aproveitando a nossa presença.
Nestas acções somos, regra geral, bem recebidos. Não poucas
vezes confunde-nos com os sindicatos. É um "cartão de
visita" com crédito. Mas também encontramos trabalhadores
a “queixarem-se”, como aconteceu junto de empresas de
confecções, em que nos referiram o papel negativo dos
sindicatos sobre a eliminação das pausas.
Também era suposto nesta altura haver uma sensibilidade maior à
gravidade do pacote laboral. Os trabalhadores ouvem-nos,
entendem-nos, acabam por estar de acordo connosco. Mas o
descontentamento, que é evidente, não se traduz numa ideia
assumida e clara de combate. É uma preocupação que não
deixaremos de transmitir a camaradas que intervêm no movimento
sindical.
Venham mais jornadas nacionais, porque elas desenconcham o
Partido e “obrigam-nos” ao contacto com as massas.
. Nas empresas e sectores com dimensão
nacional, têm-se revelado muito úteis os documentos nacionais,
pela abordagem concreta da situação e das propostas do Partido
e pela oportunidade que normalmente têm no tratamento desses
problemas. . Estão a ser dados alguns passos
significativos em direcção à juventude trabalhadora, quer da
parte do Partido, quer da parte da JCP/Porto. São mais
frequentes as reuniões com os jovens trabalhadores e há um mais
profundo conhecimento das suas preocupações. Há também um
maior apoio político a camaradas da Interjovem na
materialização dos objectivos da sua organização. . Sem iludir dificuldades e reais atrasos,
sentimos com grande satisfação que a JCP/Porto assume este
trabalho com grande energia. Elaboram documentos, organizam
brigadas de jovens para os distribuir, vão às empresas, às
escolas com ensino nocturno, às escolas de Formação
Profissional, a escolas do Politécnico, aos Centros Comerciais
que são verdadeiros antros de exploração da mão de obra
juvenil. Organizaram algumas iniciativas temáticas e fizeram
também um bom encontro com o Secretário-Geral do Partido,
camarada Carlos Carvalhas, na cidade do Porto. Mas é preciso
fazer muito mais nesta direcção, a JCP e o Partido. A
situação dos jovens é conhecida, há vontades mobilizadas, há
quadros e há perspectivas de trabalho. . Procuramos novas formas de intervenção. A
título de exemplo citamos dois casos:
- A realização recente de um plenário da célula da Eurofer em
que, no final da reunião, foram aprovadas as conclusões e foi
decidido pelos camaradas distribuí-las aos trabalhadores, o que
aconteceu 24 horas depois, com bons resultados.
- Há pouco esteve uma empresa têxtil em greve, em Matosinhos,
onde não temos nenhuma organização e foi lá uma camarada
nossa. Participou no plenário de trabalhadores, pediu para
intervir na qualidade de membro do PCP, afirmando, perante 200
homens e mulheres, a solidariedade do Partido com a sua luta, a
forma como vemos a situação da empresa, e comprometendo-se a
que o problema seria levantado na Assembleia da República (o que
foi feito e depois dado conhecimento aos trabalhadores).
Tratava-se de um “auditório socialista”, mas a par da
surpresa, veio uma receptividade muito agradável e, no fim, um
encontro, por sua iniciativa, com uma camarada desorganizada.
Em todo este trabalho, temos feito um esforço para envolver
dirigentes do Partido e camaradas deputados e, apesar das
dificuldades, temos insistido com a Comunicação Social, pois
mesmo sendo pouco, alguma coisa tem passado.
Mais células e mais camaradas
Em simultâneo com todo este trabalho, decorre a preocupação da
Organização, de mais células e mais camaradas. O trabalho para
um novo impulso nas organizações dos trabalhadores do Porto
está em marcha, mas a evolução aqui é mais lenta.
- Na Metalurgia avançou-se na preparação de um Encontro (dia
24 de Outubro) e a seguir a este, outros de outros sectores se
lhe seguirão.
- Tem sido feito um esforço com alguns resultados na
Construção Civil. Na construção civil, área muito
desorganizada, dispersa e de grande mobilidade, está a ser feito
um esforço com resultados que, não sendo significativos,
constituem um avanço.
- Saiu o Boletim da célula dos Ferroviários com uma tiragem de
2.000 exemplares distribuídos à mão.
- Avançam reuniões e contactos com camaradas das Indústrias
Eléctricas.
- Têm-se realizado alguns recrutamentos na Brisa, nas
Indústrias Eléctricas e na área dos serviços e têxtil. É de
salientar que a ficha de inscrição no Partido, impressa no
boletim dos ferroviários, deu três recrutamentos.
- Realizaram-se as Assembleias da célula da Telecom e dos
Ferroviários, e outras estão em preparação.
- Há um esforço para consolidar, nuns casos, e noutros criar,
sectores de empresas nos concelhos, que tenham como preocupação
e acção, o trabalho do Partido junto dos trabalhadores. Isto
com apoio regional.
- Realizámos, em Julho, um importante encontro, que juntou
algumas centenas de camaradas, sobre “A actualidade dos
ideais comunistas e a luta em defesa dos direitos dos
trabalhadores”, com a presença do camarada Álvaro Cunhal.
No Porto, o Partido está a fazer um sério esforço para o
revigoramento das suas organizações profissionais e para uma
mais audaciosa afirmação comunista junto dos trabalhadores da
nossa região. É com profunda convicção, confiança e
empenhamento que estamos a trabalhar.
«O Militante» Nº 237 - Novembro / Dezembro - 1998