Opiniões
Sobre o referendo da despenalização
"Se o sim à despenalização vencer, como se prevê, a
sociedade portuguesa terá virado as costas a um longo passado de
intolerância e obscurantismo, dando um passo irreversível em
direcção a uma modernidade que até agora lhe tem fugido."
(DN, 19/6/98)
"Após quase um quarto de século de regime democrático,
só um inconsciente é que não fica preocupado com isto" (DN,
3/7/98) - Manuel Vilaverde Cabral
"No futuro, os nossos netos e as nossas netas recordarão
este momento histórico com a mesma perplexidade com que hoje
recordamos o fascismo e dirão que em 1998 a saúde em Portugal
saiu uma vez mais derrotada." (Expresso, 18/7/98) -
Ana Fradiano - médica do Hospital de Egas Moniz
Necessário proibir a fertilização "in
vitro"!?
O artigo de Ana Fradiano, no Expresso de 18/7/98,
intitulado "Consequência de uma lei abortada" tem
muito interesse. Por isso, além do extracto anterior publicamos
mais o seguinte:
"Os abortos continuarão a praticar-se, enchendo os bolsos
de muitos («objectores de consciência» ou não)."
"Erguendo como bandeiras bebés que confundiram com
embriões e imagens desonestas e perversas de fetos com mais de
20 semanas visando chocar e enganar os menos esclarecidos, os
defensores do não não se pouparam a esforços nem a
excessos - alguns ficaram célebres: foi o caso de alguns membros
do clero, grandes heróis desta cruzada religiosa e moralista com
as suas ameaças de excomunhão.
Entrentanto, o embrião de 10 semanas, que em pouco se parece com
um bebé e que muitas vezes não chega a sê-lo (aproximadamente
20% das gravidezes com menos de 20 semanas terminam em abortos
espontâneos), transformou-se numa criança que sofre. É,
então, justo que passem a realizar funerais a abortos
espontâneos uma vez que de crianças se trata".
"No seio de tantas contradições, há uma que se torna
chocante: como será possível, neste contexto, não se proibir a
fertilização in vitro? Apela-se aos defensores do
não que lutem contra tão hediondo crime: sempre que
uma mulher fica grávida por este método, dezenas de embriões
concebidos em laboratório vão para o balde do lixo.
Ora, se os embriões são bebés, como se entende que os
embriões concebidos em laboratório tenham menos direito à vida
que os outros?"
20 desmanchos... porque era católica
Há cerca de 20 anos, conheci uma mulher casada, com
filhos, já de alguma idade, que me confidenciou que fizera mais
de 20 desmanchos na sua vida. Perguntei-lhe por que razão não
tomava a pílula anticoncepcional, em vez de fazer abortos
sucessivos. Respondeu-me que era católica e que o Papa dizia que
tomar a pílula era pecado.
(Teresa Pizarro Beleza, penalista, professora da
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade
Autónoma - Público, 2/6/98)
Foi Deus que quis e vida por vida...
Na paróquia de Lagoa, em Aboim, concelho de Fafe, o padre Barros
desde há 15 dias que aconselhava nas missas o voto não
no referendo. Ontem (DN, 29/6/98), quase em
simultâneo com a abertura das urnas, o padre voltou a
fazer o mesmo apelo. E acrescentou: «Católico que defenda o
sim (...) é um pantomineiro». E lembrou o exemplo
do primeiro-ministro, António Guterres, «que diz claramente que
vai votar não».
«No adro da igreja, Maria Arminda manifesta a sua opinião ao DN:
Eu cá voto não, mas cada um que faça como
quiser. Eu já não tenho meninos. Cheguei a abortar, mas foi
Deus que quis. O padre Barros fez muito bem em falar
assim para as pessoas.
Mais radical é Idalina Barros: Só tenho um filho, mas, se
tivesse uma filha que fizesse isso, cortava-lhe o pescoço
redondo».
Um telegrama para o Papa!
O Independente (3/7/98) publica um telegrama enviado
ao Papa pelos católicos que participaram nos quatro
movimentos cívicos do Não ao referendo.
É o seguinte: Leigos empenhados luta defesa dom sagrado
vida agradecem Graça Deus Senhor da Histórica vitória vida
aborto referendo Portugal. Stop. Certos intervenção Maria
especial predilecção Portugal. Stop. Oferecem seu trabalho
Igreja na Pessoa de Sua Santidade João Paulo II. Stop. Pedem
benção Sua Santidade para trabalho futuro defesa da vida.