Algumas
caracterizações
do PS
[os dirigentes socialistas] Estão piores do que nunca nos
actos e pensamentos e, ainda por cima, revelam uma arrogância
verdadeiramente insuportável, só comparável à exibida pelos
cavaquistas de má memória nos períodos áureos das maiorias
absolutas e dos oásis de ficção. O PS do diálogo, da
tolerância, da transparência, das paixões, do coração, o que
levou milhões de portugueses a dar-lhe a vitória em 95, já
morreu. Agora, não só o discurso mudou como a prática
política é cada vez mais igual à do PSD - António
Ribeiro Ferreira (DN, 1/6/98)
Bem podem os partidos socialistas e sociais-democratas usar
o unguento da solidariedade que nada pode afastá-los da
farmacologia dos ultraliberais.
Pedir, por exemplo, ao Estado e ao Governo portugueses
maior distância do empresariado seria pedir uma tarefa
impossível porque é o capital - financeiro ou não - que hoje
domina em toda a parte, como se pode ver nos balanços das
grandes multinacionais e nos orçamentos num vasto número de
estados - Vitor Cunha Rego (DN, 22/6/98).
A imaginação e a garra são inimigos da governação,
sendo já evidente que os mentores de São Bento têm um
objectivo: trabalhar o máximo para mudar o mínimo - António
Ribeiro Ferreira (DN, 28/6/98)
Manuel Alegre considerou o resultado do referendo
como «uma humilhação para o grupo parlamentar» e «uma
derrota cultural da esquerda» (...). Nesta altura não se sabe
muito bem
se o PS «é um partido liberal, social-democrata ou
socialista».
Alberto Martins rebelou-se contra a ingerência do
chamado «núcleo duro» nas decisões que dizem respeito aos
deputados: «afinal quem manda no PS?». (...) Disse ainda à RTP
lamentar a falta de democraticidade interna e a ausência
de coordenação entre as estruturas partidárias. (A
Capital, 2/7/98)
O PS ainda não se apercebeu da miséria em que ficou na
noite do referendo sobre o aborto. Treze dias passados sobre a
derrota brutal de 28 de Junho, continua a assobiar para o ar e a
fingir que tudo não passou de um mau momento. É patético que a
Comissão Política dos socialistas reunida esta semana não
tenha dedicado qualquer relevo à análise do que
aconteceu.
Uma das provas de que o PS acabou foi a maneira como os
ínclitos dirigentes da agremiação socialista ultrapassaram o
incómodo de terem de pensar um bocadinho: vão, um dia destes,
encomendar um estudo a uma universidade. Guterres
não saiu, nem em algum caso poderia sair, vencedor do referendo
sobre o aborto. A sua posição pessoal seria compatível com a
vitória do «sim», mas a paralisação e subsequente autofagia
de um partido, em nome de um secretário-geral que passou a ser
contra a despenalização do aborto depois de 1982, não é honra
para nenhum líder.
Entre Manuel Alegre e alguns seus «compagnons de route»
de um lado, e o chamado «núcleo duro» do outro, há um deserto
- uma mole de cidadãos anestesiados, mais ou menos bem
instalados no aparelho de Estado, atentos, veneradores e
desobrigados de pensar, temendo que uma sua palavra ou acção
vá contra o inconstante pensamento do líder quotidianamente
legitimado pela única coisa que verdadeiramente o preocupa - os
números, não os de Cavaco, mas os das sondagens (Ana
Sá Lopes, Requiem pelo Partido Socialista, Público,
11/7/98).
Não obstante estarmos numa sociedade gerida pelo Governo
Socialista, continuamos a adoptar como uma religião totalizante
a filosofia do neocapitalismo opressivo e explorador
Aquilo contra o que lutámos depois do 25 de Abril e que
lamentávamos antes, quando a comunicação social constituía
monopólios dos grandes poderes económicos, está a voltar a
acontecer, não tenhamos dúvidas. Um meio de comunicação
social nas mãos do poder económico não é livre
(Entrevista a O Diabo de D. Manuel Martins,
bispo resignatário de Setúbal, 14/7/98)
(...) acho que o PS está a ficar cada vez mais parecido
com uma confederação de interesses, grupos de pressão,
«lobbies», cavalheiros de indústria, caciques locais e
senhores feudais - um pouco à imagem e semelhança do PSD.
(...) de facto, quer a Igreja Católica quer os grupos
económicos parece terem uma influência muito grande em certo
tipo de decisões que o PS e o Governo tomam.
Neste caso concreto do referendo sobre a despenalização
do aborto, penso que a Igreja Católica teve indirectamente um
peso fundamental, para mim lamentável, na atitude que o PS
acabou por assumir (Entrevista a O Independente,
de Alfredo Barrroso, fundador do PS, 24/7/98)
Será impressão minha ou estes senhores que a gente elegeu
para o Governo porque eles se auto-intitulavam de socialistas
ainda estão a conseguir ser mais autocráticos e mais
displicentes em relação ao povo trabalhador que governam do que
todos os esforços conjugados do Dr. Cavaco, do Engº Ferreira do
Amaral e do menino Santana Lopes?
A gente nunca devia ter esquecido que (...) também foi um
Governo socialista que inventou os contratos a prazo e outras
infâmias laborais desse tipo.
É que eu, por exemplo, julgava mesmo que tinha votado num
partido de camaradas (Clara Pinto Correia,
Crónica Qué isto?, DN, 9/8/98).