Lutar, agir para transformar a escola



Mário Peixoto
Membro da Coordenadora Nacional do Ensino Secundário da JCP

Ainda no outro dia, numa daquelas conversas de princípio de férias, entre um cafézinho e entre uns amigos, um deles perguntou-me se eu achava que a JCP era importante, se eu achava mesmo que a JCP tinha algum papel significativo nas escolas do ensino secundário. Claro que lhe expliquei o meu sentimento e o meu ponto de vista.
No meio da conversa uma coisa estava clara: a Juventude Comunista Portuguesa e a sua acção nas escolas secundárias destaca-se de longe de todas as outras juventudes partidárias. Só a JCP consegue ter um visão tão alargada daquilo que interessa à juventude das nossas escolas, do nosso País e do nosso mundo. Só a JCP tem uma noção de luta que dá resposta às reivindicações, direitos, sonhos e aspirações dos estudantes e, por isso, uma noção bastante diferente de todas as outras: a certa. E é importante que se diga que a JCP, por ter todas estas noções e preocupações, não intervém somente em tempos propícios a lucros de outras ordens, como as outras juventudes partidárias que, por exemplo, só aparecem na rua e junto da juventude em tempo de eleições e afins. A JCP está e intervém sempre onde estão as causas justas, os estudantes e as reivindicações.


Difíceis condições dos estudantes do secundário

Hoje, as questões que se colocam à frente da Organização do Ensino Secundário da JCP são muitas. As difíceis condições dos estudantes do ensino secundário têm-se vindo a agravar obrigando a Juventude Comunista a tomar medidas para conseguir encontrar soluções para esta realidade. Desde já, urge preparar a intervenção da JCP.
A política educativa actual continua a não dar resposta às necessidades e aspirações dos estudantes, continua a ignorar as suas reivindicações e os seus direitos, mantendo-se brutalmente elitista, afunilando cada vez mais o número de estudantes durante o percurso até ao ensino superior, barrando o caminho a milhares de jovens.
Os currículos continuam eternamente extensos e desajustados do mundo de hoje; a sobrecarga horária é tanta que muitos dos alunos são obrigados a fazer o 12º ano em dois anos e desligam-se parcialmente do mundo exterior aos estudos, tornando-se em massacrados por terem de decorar matéria, sem tempo para as actividades extra-curriculares tão importantes para a vida de um estudante.
As Provas Globais e Exames Nacionais são totalmente injustos e pioram a situação de qualquer aluno. Fazem da avaliação correcta e contínua um conto de fadas que é contado aos estudantes para os iludir. Se trabalhamos durante três anos, porquê fazer nova prova que pode decidir tudo em hora e meia?


Acesso ao ensino superior

Como se isto não bastasse, surge uma alteração ao regime de acesso ao ensino superior que permitirá que cada estabelecimento do ensino superior possa fazer as suas provas de acesso a todos os que a pretendam frequentar. Prova esta elaborada como eles bem entenderem, escolhendo a dedo os estudantes que virão a frequentar aquela escola. Esta alteração, que constitui mais uma grande barreira a juntar a todas as outras e uma maior elitização do ensino em Portugal, entrará em vigor no ano de 1999/2000 e fará com que os estudantes andem de universidade em universidade, a fazer provas e mais provas para verem se entram no ensino superior, tudo isto pelos seus próprios meios. Só falta que o Governo, dito socialista, possa mandar os estudantes que queiram frequentar o superior correrem os “seis mil metros à volta da escola”.
Tudo isto nos preocupa bastante e por isso achamos necessário alertar sobre este atentado aos nossos direitos e agir agora. Não podemos cruzar os braços e esperar pelas consequências, é preciso lutar para transformar e construir o nosso futuro!


Novo regime disciplinar

Preocupa-me bastante o novo regime disciplinar do sistema educativo do ensino secundário, que visa tratar dos problemas disciplinares como se fossem da única e exclusiva responsabilidade dos alunos. O novo regime disciplinar está repleto de medidas repressivas e totalmente desajustadas da realidade que só vão levar à revolta e à exclusão social. Não é com repressão que se resolve a indisciplina, mas sim com medidas que visem o acompanhamento e integração social na escola e no meio onde vivem.
Para juntar a todos os factores que fazem da política de educação uma política decadente, levando a que a educação em Portugal seja uma educação problemática, aparece-nos agora o diploma de autonomia e gestão escolar que faz com que cada escola ande “à cata” do seu próprio financiamento, conduzindo a que os materiais vendidos na escola aumentem de preço e levando à total desresponsabilização do Estado para com a educação dos jovens portugueses. Para além disso, o diploma de autonomia e gestão escolar não visa, de maneira alguma, a verdadeira participação dos estudantes na gestão escolar. A ideia de que a escola é dos estudantes é cada vez menor e as associações de estudantes e grupos estudantis de intervenção são cada vez mais postos de parte e considerados como simples comissões de festas!


Sobre a educação sexual

A implementação da disciplina de educação sexual no ensino secundário sempre foi e continua a ser uma luta de primeira importância para os comunistas que nunca largaram as causas justas nem nunca as usaram com hipocrisia para outros fins. Educação sexual, que é fundamental para o desenvolvimento do ser humano, para a prevenção de inúmeros problemas, como as doenças sexualmente transmissíveis ou a gravidez precoce, e para que venhamos a viver numa sociedade sem tabus e sem desconhecimentos que levem à vergonha e ao mal-estar na vida, num país livre de preconceitos e hipocrisias, onde cada um tenha o direito à sexualidade, a uma maternidade e paternidade conscientes e responsáveis, livres de viver com o bem-estar quer psíquico, quer fisiológico. É urgente a educação sexual nas escolas!


Falta de condições humanas e materiais

A falta de condições humanas e materiais tem-se vindo a agravar desde a política educativa do PSD, que se demonstrou errada e “da treta”, até agora, à política educativa nem por isso diferente do PS. As escolas estão cada vez mais deixadas ao “deus dará”, algumas delas com falta de salas de aula, sem laboratórios, sem refeitórios, sem equipamentos informáticos, sem bibliotecas, sem material de consulta ou pesquisa, etc., em suma, sem condições para uma educação minimamente decente.

A JCP tem vindo a desenvolver a sua intervenção nas escolas secundárias, sempre com a preocupação de reforçar a sua organização junto de todos os estudantes, todos os dias, de maneira a informá-los e a consciencializar as massas juvenis para todo este tipo de problemas e injustiças, dando-lhes a certeza, confiança e meios para transformar esta realidade que já provou que não nos serve de maneira alguma.
Agimos sempre para transformar, no sentido de caminhar para a união e participação dos estudantes no movimento associativo e na vida escolar. A JCP, lutando continuamente contra a apatia e o conformismo para com esta política educativa decadente, sempre promoveu a democracia, a participação dos estudantes na gestão e vida escolar, a cultura, a política, a liberdade, solidariedade e igualdade.
É por isto que a acção, organização e intervenção da JCP nas escolas secundárias é não só importante para todos nós, mas também indispensável para uma sociedade melhor.
E porque sabemos disso, lutaremos sem descanso, com a inevitável força da razão, confiantes nos jovens, porque achamos que não basta confiar no futuro, é preciso construí-lo hoje, porque sabemos que as injustiças têm fim e que um futuro bem melhor pode ser construído, construído por todos, porque a luta continua e porque é extremamente necessário intervir já, porque somos a Juventude Comunista Portuguesa.


«O Militante» Nº 236 - Setembro / Outubro - 1998