Reforçar o Partido
e alargar a sua influência
Uma nova reunião do Comité Central
teve lugar em 11 de Julho passado. A Resolução
aprovada na reunião é publicada em documentos. A sua
leitura fornece uma análise da actual situação existente no
País referindo as medidas gravosas que o Governo PS vai
procurando impor e os problemas suscitados pelo referendo já
efectuado e pelo que ainda vai ser realizado em Novembro.
Apresenta também um balanço aos primeiros resultados das
decisões do Comité Central de Fevereiro do corrente ano,
sintetizadas num novo impulso na organização, intervenção
e afirmação política do Partido. E aponta orientações
para o próximo futuro em que é necessário contrariar os
diversos ataques aos direitos dos trabalhadores e prosseguir uma
actividade crescente em defesa das suas reivindicações e
aspirações.
Foram ainda aprovadas pelo Comité Central duas notas: O PCP
e a situação na Guiné-Bissau e Sobre o sismo na
Região Autónoma dos Açores.
Ainda no final de Junho, no dia 28, teve lugar o primeiro
referendo - sobre a despenalização da interrupção
voluntária da gravidez. A este tema é dedicado não só um
dos artigos deste número como algumas Notas e Comentários.
Pretende-se ajudar a esclarecer os desconhecimentos e as
incompreensões, as subordinações e os enganos que atingiram
muitos dos que não votaram e muitos daqueles que votaram não.
As mulheres continuam a poderem ser penalizadas, a poderem ser
condenadas até 3 anos de prisão. O PCP voltará a apresentar,
mais uma vez e em altura adequada, medidas legislativas que
eliminem aquela penalização.
Também a este respeito - uma questão social de grande
significado - Portugal prima pelo seu atraso entre os
países da União Europeia. E um dos principais responsáveis
desse atraso é António Guterres, que agora defendeu o
contrário do que pensava anteriormente e influenciou grandemente
a atitude dos membros do PS.
No dia 8 de Novembro realiza-se um outro referendo - sobre a
regionalização. Talvez que o PS, em relação a este,
tenha uma posição menos passiva, mas os comunistas têm de
desenvolver um grande trabalho de esclarecimento para que se dê
um passo muito importante para o desenvolvimento, a
descentralização e a democratização, que pode ser
atingido com a regionalização administrativa de Portugal
continental.
A regionalização, que está consagrada na Constituição desde
1976, é actualmente atacada principalmente pelos líderes do PSD
e do PP. Agora é Marcelo Rebelo de Sousa, antes
defensor da regionalização, que tem posição completamente
oposta. As suas acusações de que a regionalização divide,
cria caciques, aumenta muito a despesa, prejudica os municípios,
não é útil num país pequeno e outras têm de ser
esclarecidas. É o que se pretende no artigo incluído neste
número sobre a necessidade e os objectivos da regionalização.
O Governo tentou aproveitar o verão para decidir importantes e
graves alterações na legislação laboral, alterações que
foram já apresentadas no número anterior de O Militante
(Nº 235 - Julho-Agosto/98). Elas pretendem atingir os
cinco pilares do direito do trabalho:
emprego-salários-horários-férias-profissões. Queria
avançar sem ter em conta que se trata de questões que são da
competência exclusiva da Assembleia da República e, por isso,
exigem autorização legislativa que não tinha sido pedida.
Entretanto, a campanha O PCP com os trabalhadores, sob o
lema Valorizar o trabalho e os trabalhadores - Defender e
concretizar os direitos, decorreu com um êxito assinalável
devido à capacidade das organizações do Partido que, em
correspondência com as orientações do Comité Central, em mais
de 800 empresas e outros locais de trabalho e no contacto com
mais de 250 mil trabalhadores alertaram para a necessidade de dar
combate ao pacote de diplomas do Governo PS.
Na linha do reforço da intervenção e da organização do
Partido junto dos trabalhadores, novas acções estão em curso
já que o Governo, embora tenha recuado na forma e no tempo de
concretização do conjunto das alterações às leis laborais,
prepara-se para as fazer aprovar na Assembeia da República em
Outubro-Novembro.
É o mesmo PS, que teve um comportamento mais que ambíguo numa
questão tão candente como a da despenalização do aborto -
sobre a qual o seu secretário-geral afirmou votar não
-, que, em relação aos direitos dos trabalhadores, se mostra
claramente ao lado do grande capital.
Por isso a União dos Sindicatos do Porto (USP) (Jornal de
Notícias, 30/7/98) diz que o Governo deve proceder a uma
mexida na legislação laboral, não para favorecer os
empresários, mas para acabar com os abusos, a precaridade
e a impunidade patronal. Na verdade, a situação
existente em muitas empresas ofende constantemente os direitos
dos trabalhadores e até os mais fundamentais direitos
democráticos.
E, com razão, afirma a USP que as leis em vigor não têm
sido obstáculo ao crescimento económico e ao acumular de
elevados lucros empresariais. Lucros crescentes como se
pode já ver em relação ao primeiro semestre do ano corrente. O
Expresso (1/8/98) titula um seu artigo: 1998
promete lucros recorde e coloca em sub-título: Em
meio ano, os lucros da banca cresceram vertiginosamente,
reduzindo as «performances» de 1997 a «magros»
resultados (há percentagens de subidas até 157%).
Entre os trabalhadores de muito diversas empresas e outros locais
de trabalho tem sido necessário intensificar as lutas
reivindicativas e recorrer a posições muito firmes para que a
exploração (e também a opressão) não se torne cada vez mais
dura.
São os ferroviários, os trabalhadores da têxtil e das
conservas, da hotelaria, da administração pública, os
bancários, os enfermeiros, os paramédicos e os trabalhadores
dos serviços gerais de saúde, os funcionários judiciais, os
guardas prisionais, os informáticos das alfândegas e muitos
outros, entre os quais estão os motoristas de cargas perigosas e
os pilotos de barras e portos.
Tem sido e continuará a ser a unidade e a persistência na
acção que permitem vitórias importantes nestas lutas
reivindicativas.
O alargamento destas acções, em que as organizações do
Partido participam, acompanhando e ajudando com grande
dedicação e solidariedade, também contribui para o reforço do
Partido, cuja atenção tem de estar e está sempre voltada para
o mundo do trabalho nas suas mais diversas expressões.
A existência de uma situação de verdadeira calamidade na
agricultura tem naturalmente mobilizado os agricultores
das diversas regiões do País e, em especial, das mais
afectadas. Só a sua luta poderá conseguir do Governo os meios
necessários para ultrapassar as graves dificuldades actuais.
Também os estudantes continuam a sua acção contra as
propinas do ensino superior, reivindicação que tem tido e
continua a ter o apoio mesmo de reitores de universidade.
A situação política não pode deixar de ser influenciada
pelo desenrolar destes acontecimentos. As críticas ao PS
subiram de tom e alargaram-se. (*) Mas o primeiro-ministro,
apesar da sua política claramente de direita e o seu
comportamento mais que retrógrado a propósito da
despenalização, ainda mantém uma imagem de simpatia para
aqueles que vêem as caras mas não entendem os corações (ou
melhor, não têm em conta as acções).
Também os líderes do PSD e do PP, que estão constantemente na
televisão e nos jornais, mas que se vêem envolvidos com grandes
contradições dentro dos seus próprios partidos, não têm
condições, por maiores malabarismos que façam, para causar
qualquer mossa ao PS. PS cuja política muito mal se distingue da
daqueles dois partidos de oposição.
O PCP foi a única grande força política que em relação ao
primeiro referendo sempre teve uma posição coerente e
progressista. No que respeita ao referendo da Europa foi também
o único grande partido que defendeu uma posição sensata,
posição assumida pelo Tribunal Constitucional e aprovada pelo
Presidente da República. Há uma diferença abismal entre a
orientação política do PCP e a dos outros principais partidos.
Diferença que a comunicação social dominante procura esconder.
Refere-se à classe política, aos
políticos e até a todos os partidos
metendo no mesmo saco aqueles que constantemente fazem chicana
política e o PCP, que desmascara as "habilidades" e os
atropelos do PS, do PSD e do PP.
Vivemos um período em que é posssível alargar a esquerda e
atrair para ela muitos portugueses, o que é indispensável para
criar condições para uma mudança de rumo na política
portuguesa.
Mantendo bem presente essa direcção de trabalho, é
decisivo que, por todas as regiões, se procure reforçar o
Partido e aprofundar a sua inserção, a sua influência, entre
os trabalhadores em geral e as populações.
(*) Ver Notas e Comentários