A temática implícita no título genérico
"A informação e o Partido" abrange duas vertentes: a
política do Partido para a informação e a política de
informação do Partido. A primeira diz respeito às posições e
iniciativas do Partido, a nível institucional ou outro,
relativamente ao sector da informação e da comunicação social
em geral; a segunda tem a ver com o modo como o Partido encara,
organiza e orienta a informação, no que se refere aos seus
órgãos e meios próprios, às formas de intervenção no
espaço público, etc..
Neste texto consideraremos exclusivamente a segunda das vertentes
citadas, e apenas na perspectiva da imprensa partidária,
nomeadamente o Avante! e O Militante.
Advertindo desde já, no entanto, que a questão da imprensa é
inseparável de toda a restante actividade do Partido, não só
porque a deve reflectir nas suas páginas, mas também porque a
imprensa partidária (e também, a seu modo, outros órgãos sob
a sua influência) tem necessariamente que ser entendida como uma
ferramenta indispensável para a concretização dessa mesma
actividade e, em geral, de toda a política do Partido.
A análise da imprensa partidária, aliás, não é só
inseparável do Partido no seu conjunto; também não pode ser
dissociada do contexto global da comunicação social no nosso
país, particularmente tendo em conta a verdadeira função
estruturante exercida pelos mass media na organização
e modelização do todo social, devido à sua influência no
condicionamento das opiniões, dos comportamentos e dos valores.
Já tivemos oportunidade de abordar esta última temática (ver
"Os media na sociedade capitalista" e "Os
media na sociedade portuguesa", O Militante
nº. 232 e 234, de Jan.-Fev. e Maio-Junho de 1998), chamando a
atenção para os planos, as formas e os conteúdos em que se
exerce a acção dos órgãos de grande expansão (da imprensa,
da rádio e da televisão) enquanto instrumentos de dominação
política e ideológica, assim como para a evolução recente e a
situação actual do sistema mediático em Portugal, nas suas
relações com os aspectos económicos, políticos e sociais
englobantes.
É neste quadro - e não apenas no contexto estrito da vida
interna do Partido - que se integra a análise da imprensa
partidária que aqui vamos fazer, procurando responder, como
contributo para uma reflexão necessária, a duas questões
essenciais: qual a missão e quais as tarefas da imprensa
partidária? Qual o seu lugar na vida do Partido?
Análise esta baseada, naturalmente, no património único e
singular da imprensa do PCP, em primeiro lugar do seu órgão
central, o Avante!, cuja experiência e intervenção,
ontem como hoje, constituem uma referência incontornável e são
um justo motivo de orgulho de todos os comunistas.
1. A imprensa e os outros media
Diga-se desde já que, ao contrário do que se possa pensar, a
imprensa em geral e, por maioria de razões, a imprensa
doutrinária e partidária não está inapelavelmente condenada
à morte pela explosiva emergência das novas tecnologias da
informação e, nomeadamente, pelo audiovisual e seus
desenvolvimentos.
A verdade é que nem mesmo os mais entusiastas apologistas das
novas tecnologias ousam prever o fim próximo do papel impresso.
Os actuais grandes meios de comunicação de massas - a imprensa,
a rádio e a televisão - continuarão, em grande parte, a
relacionar-se entre si e com o público, no que respeita à
informação, por um vínculo de complementaridade, traduzido
numa expressão consagrada: a rádio anuncia, a televisão
mostra, o jornal explica.
Falamos, obviamente, das sociedades mais desenvolvidas como,
apesar de tudo, é o caso da portuguesa, e não daquelas - onde,
no entanto, vive a maioria da população mundial - para quem os
problemas se colocam a um nível muito diferente: dois terços da
humanidade ainda não têm acesso ao telefone como meio de
comunicação...
Em sociedades como a nossa, o desenvolvimento do audiovisual,
através da sua ligação com a informática, e o aumento das
facilidades de acesso aos novos meios (como a Internet e o CD
Rom) por parte de um cada vez maior número de pessoas,
alterarão, sem dúvida, as posições relativas e acentuarão a
subalternidade da imprensa, ou pelo menos de um certo tipo de
imprensa. Mas, tanto quanto é possível prever para as próximas
décadas, ela não desaparecerá, na medida em que reune
condições privilegiadas para responder a determinado tipo de
exigências e necessidades.
No entanto, para resistir à ofensiva do audiovisual, a imprensa
tem que se modificar - e, em muitos aspectos, tem-no já vindo a
fazer. Relativamente à imprensa diária e semanal de
informação geral, são cada vez mais importantes estratégias
dirigidas para o alargamento e a diversificação das temáticas,
a melhoria e o aligeiramento do aspecto gráfico, o aumento da
função distractiva.
Ao mesmo tempo, porém, a fim de verdadeiramente assumir e
potenciar a complementaridade acima referida, a imprensa tem que
reforçar a sua dimensão reflexiva e de aprofundamento dos temas
- pormenorizando, desenvolvendo, contextualizando e comentando os
acontecimentos anun-ciados na rádio e mostrados na televisão.
A verdade é que é na explicação e na reflexão sobre os
factos, com o recurso aos diversos géneros jornalísticos - do
artigo de análise à entrevista, da reportagem à notícia, etc.
- que reside a função fundamental e mais própria dos jornais,
que poderá garantir a permanência do interesse dos leitores e,
portanto, a sua sobrevivência.
E é precisamente neste plano que a imprensa partidária cumpre
uma das suas tarefas essenciais: explicar as causas, mostrar os
contextos, desvendar as motivações, prever as consequências,
facilitar o debate e estimular a reflexão sobre os mais
importantes acontecimentos (na economia, na política, na
cultura, na ideologia...) da vida nacional e internacional.
Todos nós, em maior ou menor grau, directamente ou pela
vivência social, lidamos diariamente com uma situação
caracterizada, nomeadamente, por:
- um omnipresente império televisivo obsessivamente virado para
a recreação e o divertimento,
- uma informação-espectáculo mais interessada em entreter do
que em informar,
- o recurso a diversos tipos de manipulação e de construção
de uma falsa realidade,
- o predomínio nos media, com maior ou menor subtileza,
da ideologia da classe dominante,
- a insistência em preconceitos e a permanência de
estereótipos sobre os comunistas (e os seus aliados), as suas
ideias, os seus ideais e a sua luta.
Perante isto, a solução é - ou melhor, passa por, visto não
haver apenas uma solução - a formação de leitores, ouvintes e
telespectadores apetrechados para lidarem criticamente com essa
comunicação social, capazes de recorrer à informação e aos
argumentos susceptíveis de, conforme os casos, a complementar, a
desmontar, a combater, a denunciar.
Para alcançar este objectivo, a imprensa partidária tem
necessariamente que dar um contributo decisivo. Ainda que, por um
lado, não deva ser o único recurso a utilizar, na medida em que
estamos aqui, conforme veremos mais adiante, perante uma questão
que diz respeito a todo o Partido. Por outro lado, este objectivo
não esgota toda a vocação e todas as potencialidades da
imprensa partidária.
2. A venda, a assinatura e o resto
A imprensa comunista reveste-se de características próprias,
ligadas à natureza e aos objectivos de classe do partido a que
pertence. Natureza e objectivos que são abertamente assumidos e
expostos perante os leitores: estes, quando compram o Avante!
ou O Militante sabem perfeitamente o que estão a
comprar.
Quais são os traços distintivos da imprensa partidária? Já
nos referimos a esta temática, quer em relação à imprensa
revolucionária em geral, tal como foi concebida e praticada por
Marx, Engels e Lénine, quer em relação ao caso português,
nomeadamente tendo em conta o Avante! e O Militante
(Ver "A imprensa revolucionária", O Militante,
nº 233, Março/Abril 1998). Há algo mais, porém, a dizer.
Uma das características mais próprias da imprensa partidária
é a venda orgânica do jornal, a cargo dos militantes. No caso
português, quer antes quer depois do 25 de Abril (com as óbvias
alterações impostas pelas diferentes situações), e sempre que
devidamente integrada no trabalho partidário, ela constituiu um
auxiliar indispensável para o trabalho de propaganda, de
agitação e de organização, no quadro da questão essencial
que é a ligação às massas.
Além do mais, a venda militante constitui um meio privilegiado
de estabelecer contactos e de manter e desenvolver ligações
não só com camaradas e simpatizantes mas também com amigos do
Partido e outros democratas. A necessidade recente, devido a uma
legislação que a isso implica, de desenvolver um esforço para
o aumento das assinaturas, quer do Avante! quer de O
Militante, não põe em causa as virtualidades que a venda
militante tem para o trabalho organizativo.
Tudo depende da forma como a venda e a assinatura forem encaradas
pelas organizações. O que é preciso é não perder de vista
aquilo que realmente define e distingue o trabalho com o jornal
partidário.
Promover campanhas para angariar novos compradores e aumentar as
tiragens é um objectivo importante e necessário, mas só por si
insuficiente. E que nunca será alcançado, de forma sustentada e
perdurável, se não for enquadrado numa visão mais ampla e
profunda daquilo que é e para que serve a imprensa do Partido.
Conquistar um comprador e não fazer dele um leitor, ou conseguir
um assinante e depois deixá-lo "abandonado", significa
não só correr o risco de perder um e outro, mas também e
principalmente não aproveitar as possibilidades que a imprensa
propicia para o aumento da qualidade e da intervenção dos
militantes e do colectivo, a melhoria do trabalho orgânico e da
ligação às massas.
Sublinhe-se que a venda periódica da imprensa permite um
contacto continuado com o camarada ou o amigo, mas a assinatura
de igual modo potencia esse contacto - por exemplo, procurando
saber se a pessoa em questão está ou não a receber
regularmente o jornal, debater com ela os temas abordados,
recolher críticas e sugestões e encaminhá-las para a
redacção, solicitar o apoio para a indicação de novos
assinantes e de novos contactos, etc..
Se falamos aqui da venda e da assinatura, é não só devido à
sua importância própria, mas também porque se trata de um
exemplo bastante esclarecedor acerca da absoluta necessidade de
entender a imprensa do Partido em toda a sua dimensão e
significado. Isto é, a imprensa enquanto ferramenta do trabalho
político e orgânico, e não apenas, por exemplo, como uma
questão de distribuição ou de fundos - sem esquecer,
naturalmente, que estas são duas componentes essenciais e que
não podem ser subestimadas.
3. A ligação às massas
O jornal partidário existe para as massas populares e em
função delas, em primeiro lugar os militantes do Partido. O seu
objectivo e a sua vocação, porém, não se inserem na lógica
comercial dominante (e suas perversas consequências ao nível
das formas e dos conteúdos jornalísticos), que, no fundo, se
reduz ao seguinte esquema: aumentar as audiências, para assim
conquistar mais anunciantes e, finalmente, alcançar mais lucros.
Lucros materiais, políticos e ideológicos.
Para o jornal partidário, o mais importante é chegar aos
leitores, e aumentar o número destes deverá ser um objectivo
permanente. Mas um dos traços distintivos da imprensa comunista
é que ela entende os leitores como sujeitos responsáveis e
activos, e não como simples objectos de consumo; respeitados
como cidadãos de corpo inteiro, e não tratados como meros
fregueses do mercado da informação.
Chegar aos leitores, acentue-se, estabelecendo com eles laços
definidores de uma relação mútua e em dupla direcção: da
redacção e do Partido para o leitor, e em sentido inverso.
Como se consegue esta relação? Como se estabelece a ligação
do jornal do Partido às massas? Por diversas vias, tendo como
ponto de partida, adaptada aos dias de hoje, a concepção
leninista do jornal não só enquanto "propagandista
colectivo" e "agitador colectivo", mas também
enquanto "organizador colectivo" (ver "A imprensa
revolucionária", artigo citado). Essa ligação
estabelece-se, nomeadamente, através:
- da escolha das temáticas e da forma de as abordar, da
atenção permanente aos problemas das diversas camadas e
sectores da população, principalmente das classes
trabalhadoras, da resposta às suas interrogações e
expectativas;
- das notícias e outros materiais proporcionadores de um melhor
conhecimento (dentro e fora do Partido) da vida partidária e da
actividade dos seus diversos organismos e militantes, das suas
experiências, das suas posições e das suas propostas;
- da mobilização e estímulo à participação activa e
dinâmica dos militantes e simpatizantes na vida do colectivo
partidário, nas suas actividades e iniciativas;
- das informações e análises acerca da organização e da
acção das massas e do movimento sindical e popular, das suas
reivindicações, das suas lutas, das soluções e caminhos
propostos;
- do incentivo e das condições criadas à colaboração dos
leitores nas páginas do jornal e na recolha e envio de
informações;
- do estímulo à participação em acções de venda militante
(que são sempre também jornadas de agitação política), de
promoção da leitura, de divulgação e utilização política
da imprensa do Partido;
- do espaço concedido ao debate das ideias, à formação
política e ideológica, ao desenvolvimento criador do
marxismo-leninismo no contexto das realidades do nosso tempo, à
defesa e preservação da verdadeira identidade do Partido;
- do contributo dado à unidade de pensamento e de acção, à
coordenação e à unificação de esforços, dentro do Partido e
deste com os seus aliados.
A ligação aos militantes e às massas estabelece-se, pois,
através de uma acção global que integra e abrange
dinamicamente, sem que uma possa produzir resultados sem o
concurso das outras, vertentes jornalísticas, políticas e
orgânicas.
Isto significa, por exemplo, que a qualidade jornalística, só
por si, e a justeza da orientação política, igualmente só por
si, não bastam para garantir o sucesso do jornal partidário. E
mesmo as duas juntas não permitirão esse sucesso, se não
houver a compreensão e a tomada de medidas que façam da
imprensa partidária
- uma componente viva e activa do trabalho organizativo e
político;
- um agente integrador, catalizador e disseminador de
experiências, reflexões e orientações;
- um elemento que funcione, simultaneamente, como reflexo e motor
da vida orgânica a todos os níveis.
4. A questão política
Quando falamos de leitores referimo-nos, desde logo, aos
militantes, simpatizantes e amigos do Partido; é para eles, em
primeiro lugar, que o jornal se dirige. Mas não só para eles.
A própria evolução da comunicação social em geral e,
paralelamente, a evolução dos interesses e das exigências das
pessoas, leva a que o relacionamento com a imprensa do Partido
tenha que ser encarado, em todos os escalões da organização,
não só como uma manifestação de militância (em sentido
estrito), mas também como um acto imposto pela necessidade, cada
vez mais premente, de uma informação diferente da que
predominantemente é veiculada pelos mass media
generalistas - uma informação alternativa que verdadeiramente
ajude a compreender, a desmontar, a reflectir e a agir sobre a
realidade que nos cerca.
E a busca desta informação alternativa, de novos elementos que
ajudem a perceber e interpretar a realidade, não será uma
componente indispensável da militância - tal como o é, aliás,
de uma cidadania inteiramente assumida?
A necessidade da informação complementar e alternativa existe
para os comunistas e outros homens de esquerda, mas também,
mesmo quando não conscientemente reconhecida, para todos os que,
independentemente de pertenças políticas, sindicais,
ideológicas, religiosas ou outras, são, objectivamente,
vítimas da confusão de valores, da falta de referências, do
conformismo ideológico e da passividade cívica que os
mecanismos dominantes de fabricação das opiniões e de
manipulação das consciências procuram implantar.
E isto implica o entendimento do jornal não apenas como
transmissor privilegiado da actividade e das orientações do
Partido, mas também como espaço de debate e de reflexão, na
base dos pontos de vista comunistas, sobre os grandes temas da
actualidade. Para proveito do colectivo partidário, mas também
como instrumento para o seu alargamento e aumento de influência.
Implica, igualmente, que as acções relativas à dinamização e
ao crescimento de tiragem da imprensa partidária incluam não
só medidas administrativas para o aumento das vendas e da
divulgação, mas também se insiram num trabalho político e
orgânico que tenha em conta a especificidade do produto jornal e
das suas funções e potencialidades. Nomeadamente:
- Informação e reflexão sobre a actividade do Partido e
exposição e defesa da sua política, incentivo à troca de
experiências, ao debate interno e à dinamização da
organização.
- Acompanhamento crítico da actualidade nacional e internacional
e, sempre que seja caso disso, esclarecimento e desmontagem de
mensagens veiculadas pelos órgãos de comunicação social de
massas e outras formas de expressão da ideologia dominante.
- Esclarecimento, informação e formação política,
ideológica e cultural.
- Intervenção, inclusive por iniciativa própria, nos grandes
debates desenvolvidos no espaço público, complementando a
acção do Partido ao nível das massas e do movimento popular e
noutros planos (institucional, sindical, cultural, etc.).
- Contribuição para o alargamento do Partido e para o trabalho
unitário, levando a sua voz para fora, aumentando a sua
influência, reforçando, melhorando e fazendo crescer o
colectivo e a sua afirmação na sociedade.
No fundo, o que está em causa é a existência de uma
concepção do jornal partidário enquanto uma questão
política, no mais amplo e nobre sentido da palavra.
5. Lugar insubstituível
As potencialidades do jornal partidário vêm claramente ao de
cima em determinadas circunstâncias. Como é o caso de momentos
caracterizados por um eforço "para a dinamização,
renovação e maior eficácia política da organização e
intervenção do PCP, e para a ampliação da sua influência na
classe operária e nos trabalhadores, na sociedade
portuguesa" ("Por um novo impulso na organização,
intervenção e afirmação política do Partido",
comunicado do Comité Central, 14 e 15 de Fev. 1998).
Com efeito, o contributo da imprensa partidária revela-se
particularmente significativo quando estão pela frente
objectivos prioritários como:
· "medidas de revigoramento e rejuvenescimento da
organização do Partido, de alargamento da sua base militante e
de maior responsabilidade dos militantes";
· o "desenvolvimento, nos diversos planos de intervenção
e frentes de trabalho, de novas linhas de iniciativa política
que favoreçam uma mais forte afirmação do PCP como partido de
luta e partido de projecto";
· "medidas de fortalecimento e renovação da capacidade de
direcção do Partido" (idem).
Trata-se de direcções de trabalho para cuja concretização com
êxito se afigura de importância decisiva o envolvimento,
empenhamento e valorização do jornal partidário, entendido na
plenitude das suas virtualidades e colocado no lugar
insubstituível que lhe cabe.
6. Uma questão de todo o Partido
Tudo o que acima ficou dito chama a atenção, em nossa opinião,
para a necessidade de considerar a imprensa partidária apenas
como uma parte da questão mais ampla que é a comunicação do
Partido com a sociedade e, mais genericamente, como vimos, na sua
função de elo de ligação do Partido às massas.
Torna-se assim necessária uma perspectiva global que tenha em
conta esta integração da intervenção através da imprensa num
sector mais vasto, em que coexistem diferentes direcções de
trabalho e diversos tipos de problemas, cuja visão conjunta e
cuja coordenação se mostram indispensáveis. É esta
perspectiva que permite melhorar a imprensa e fornece o quadro
geral dentro do qual ela se integra e se potencia.
Nesta perspectiva global sobre a chamada frente da informação,
que se cruza com outras frentes de não menor importância, há
que incluir, para além da imprensa partidária, a actividade de
propaganda nas suas diversificadas formas, a acção junto da
comunicação social nacional, regional e local, a intervenção
institucional junto dos órgãos competentes, a participação e
a promoção de debates e outras iniciativas públicas.
Mas há também que considerar, ao nível da própria
organização partidária, aspectos como o modo de funcionamento
e conteúdo das reuniões, o lugar dedicado à circulação da
informação e ao debate internos, as iniciativas de formação,
a valorização da dimensão cultural e ideológica, a actividade
dos Centros de Trabalho.
Esta é uma frente de trabalho com problemas específicos.
Problemas, por exemplo, no que se refere à intervenção
pública, como a linguagem a utilizar, os temas a privilegiar, as
formas de argumentação, o tipo de referências, as opções
formais, as qualidades e características dos protagonistas, a
medida de adequação aos critérios e expectativas dominantes, o
relacionamento com os agentes produtores de informação, o tempo
e a oportunidade de intervenção, etc..
A abordagem de problemas como estes pode ser, por vezes,
delicada, sendo de evitar dois perigos: um, é partir do
princípio de que qualquer alteração ao que é tradicional
fazer-se (na linguagem, na imagem, no relacionamento com
terceiros, etc.) constitui sempre uma ameaça aos princípios e
à identidade do Partido; outro, é deixar-se embalar pela
retórica comunicacional em voga e pelos critérios mediáticos
dominantes e, com o receio do isolamento e da ultrapassagem,
tomar opções em que, por exemplo, as modificações de aspectos
formais, sem quase darmos por isso, acabam por implicar
cedências nas questões de fundo.
Formulada em abstracto, esta dicotomia parece clara e simples;
nas situações concretas de trabalho, porém, quase nunca as
questões (para quem se preocupa com elas) são assim tão
óbvias, tanto mais que estão envolvidos aspectos técnicos e
políticos, cuja coexistência pacífica nem sempre é fácil.
Torna-se evidente, de qualquer modo, a necessidade de uma
constante preocupação em tomar atitudes e desenvolver uma
acção que tenha em conta a manutenção da identidade
partidária e o respeito aos seus princípios essenciais, assim
como a complementaridade entre o rigor e a criatividade, a
seriedade e a vivacidade, a firmeza e a eficácia.
E uma coisa é certa: as implicações da imprensa em toda a vida
partidária e a sua integração no plano mais vasto da
comunicação com a sociedade mostram em que medida as relações
entre o Partido e a informação são uma questão que está
longe de apenas dizer respeito aos organismos e militantes a ela
directamente ligados, mas sim a todo o Partido.
No próximo número: Jornalismo e jornalistas
«O Militante» Nº 235 - Junho / Agosto - 1998