A informação e o Partido



Fernando Correia
Jornalista


A temática implícita no título genérico "A informação e o Partido" abrange duas vertentes: a política do Partido para a informação e a política de informação do Partido. A primeira diz respeito às posições e iniciativas do Partido, a nível institucional ou outro, relativamente ao sector da informação e da comunicação social em geral; a segunda tem a ver com o modo como o Partido encara, organiza e orienta a informação, no que se refere aos seus órgãos e meios próprios, às formas de intervenção no espaço público, etc..
Neste texto consideraremos exclusivamente a segunda das vertentes citadas, e apenas na perspectiva da imprensa partidária, nomeadamente o Avante! e O Militante. Advertindo desde já, no entanto, que a questão da imprensa é inseparável de toda a restante actividade do Partido, não só porque a deve reflectir nas suas páginas, mas também porque a imprensa partidária (e também, a seu modo, outros órgãos sob a sua influência) tem necessariamente que ser entendida como uma ferramenta indispensável para a concretização dessa mesma actividade e, em geral, de toda a política do Partido.
A análise da imprensa partidária, aliás, não é só inseparável do Partido no seu conjunto; também não pode ser dissociada do contexto global da comunicação social no nosso país, particularmente tendo em conta a verdadeira função estruturante exercida pelos mass media na organização e modelização do todo social, devido à sua influência no condicionamento das opiniões, dos comportamentos e dos valores.
Já tivemos oportunidade de abordar esta última temática (ver "Os media na sociedade capitalista" e "Os media na sociedade portuguesa", O Militante nº. 232 e 234, de Jan.-Fev. e Maio-Junho de 1998), chamando a atenção para os planos, as formas e os conteúdos em que se exerce a acção dos órgãos de grande expansão (da imprensa, da rádio e da televisão) enquanto instrumentos de dominação política e ideológica, assim como para a evolução recente e a situação actual do sistema mediático em Portugal, nas suas relações com os aspectos económicos, políticos e sociais englobantes.
É neste quadro - e não apenas no contexto estrito da vida interna do Partido - que se integra a análise da imprensa partidária que aqui vamos fazer, procurando responder, como contributo para uma reflexão necessária, a duas questões essenciais: qual a missão e quais as tarefas da imprensa partidária? Qual o seu lugar na vida do Partido?
Análise esta baseada, naturalmente, no património único e singular da imprensa do PCP, em primeiro lugar do seu órgão central, o Avante!, cuja experiência e intervenção, ontem como hoje, constituem uma referência incontornável e são um justo motivo de orgulho de todos os comunistas.


1. A imprensa e os outros media

Diga-se desde já que, ao contrário do que se possa pensar, a imprensa em geral e, por maioria de razões, a imprensa doutrinária e partidária não está inapelavelmente condenada à morte pela explosiva emergência das novas tecnologias da informação e, nomeadamente, pelo audiovisual e seus desenvolvimentos.
A verdade é que nem mesmo os mais entusiastas apologistas das novas tecnologias ousam prever o fim próximo do papel impresso. Os actuais grandes meios de comunicação de massas - a imprensa, a rádio e a televisão - continuarão, em grande parte, a relacionar-se entre si e com o público, no que respeita à informação, por um vínculo de complementaridade, traduzido numa expressão consagrada: a rádio anuncia, a televisão mostra, o jornal explica.
Falamos, obviamente, das sociedades mais desenvolvidas como, apesar de tudo, é o caso da portuguesa, e não daquelas - onde, no entanto, vive a maioria da população mundial - para quem os problemas se colocam a um nível muito diferente: dois terços da humanidade ainda não têm acesso ao telefone como meio de comunicação...
Em sociedades como a nossa, o desenvolvimento do audiovisual, através da sua ligação com a informática, e o aumento das facilidades de acesso aos novos meios (como a Internet e o CD Rom) por parte de um cada vez maior número de pessoas, alterarão, sem dúvida, as posições relativas e acentuarão a subalternidade da imprensa, ou pelo menos de um certo tipo de imprensa. Mas, tanto quanto é possível prever para as próximas décadas, ela não desaparecerá, na medida em que reune condições privilegiadas para responder a determinado tipo de exigências e necessidades.
No entanto, para resistir à ofensiva do audiovisual, a imprensa tem que se modificar - e, em muitos aspectos, tem-no já vindo a fazer. Relativamente à imprensa diária e semanal de informação geral, são cada vez mais importantes estratégias dirigidas para o alargamento e a diversificação das temáticas, a melhoria e o aligeiramento do aspecto gráfico, o aumento da função distractiva.
Ao mesmo tempo, porém, a fim de verdadeiramente assumir e potenciar a complementaridade acima referida, a imprensa tem que reforçar a sua dimensão reflexiva e de aprofundamento dos temas - pormenorizando, desenvolvendo, contextualizando e comentando os acontecimentos anun-ciados na rádio e mostrados na televisão.
A verdade é que é na explicação e na reflexão sobre os factos, com o recurso aos diversos géneros jornalísticos - do artigo de análise à entrevista, da reportagem à notícia, etc. - que reside a função fundamental e mais própria dos jornais, que poderá garantir a permanência do interesse dos leitores e, portanto, a sua sobrevivência.
E é precisamente neste plano que a imprensa partidária cumpre uma das suas tarefas essenciais: explicar as causas, mostrar os contextos, desvendar as motivações, prever as consequências, facilitar o debate e estimular a reflexão sobre os mais importantes acontecimentos (na economia, na política, na cultura, na ideologia...) da vida nacional e internacional.
Todos nós, em maior ou menor grau, directamente ou pela vivência social, lidamos diariamente com uma situação caracterizada, nomeadamente, por:

- um omnipresente império televisivo obsessivamente virado para a recreação e o divertimento,
- uma informação-espectáculo mais interessada em entreter do que em informar,
- o recurso a diversos tipos de manipulação e de construção de uma falsa realidade,
- o predomínio nos media, com maior ou menor subtileza, da ideologia da classe dominante,
- a insistência em preconceitos e a permanência de estereótipos sobre os comunistas (e os seus aliados), as suas ideias, os seus ideais e a sua luta.

Perante isto, a solução é - ou melhor, passa por, visto não haver apenas uma solução - a formação de leitores, ouvintes e telespectadores apetrechados para lidarem criticamente com essa comunicação social, capazes de recorrer à informação e aos argumentos susceptíveis de, conforme os casos, a complementar, a desmontar, a combater, a denunciar.
Para alcançar este objectivo, a imprensa partidária tem necessariamente que dar um contributo decisivo. Ainda que, por um lado, não deva ser o único recurso a utilizar, na medida em que estamos aqui, conforme veremos mais adiante, perante uma questão que diz respeito a todo o Partido. Por outro lado, este objectivo não esgota toda a vocação e todas as potencialidades da imprensa partidária.


2. A venda, a assinatura e o resto

A imprensa comunista reveste-se de características próprias, ligadas à natureza e aos objectivos de classe do partido a que pertence. Natureza e objectivos que são abertamente assumidos e expostos perante os leitores: estes, quando compram o Avante! ou O Militante sabem perfeitamente o que estão a comprar.
Quais são os traços distintivos da imprensa partidária? Já nos referimos a esta temática, quer em relação à imprensa revolucionária em geral, tal como foi concebida e praticada por Marx, Engels e Lénine, quer em relação ao caso português, nomeadamente tendo em conta o Avante! e O Militante (Ver "A imprensa revolucionária", O Militante, nº 233, Março/Abril 1998). Há algo mais, porém, a dizer.
Uma das características mais próprias da imprensa partidária é a venda orgânica do jornal, a cargo dos militantes. No caso português, quer antes quer depois do 25 de Abril (com as óbvias alterações impostas pelas diferentes situações), e sempre que devidamente integrada no trabalho partidário, ela constituiu um auxiliar indispensável para o trabalho de propaganda, de agitação e de organização, no quadro da questão essencial que é a ligação às massas.
Além do mais, a venda militante constitui um meio privilegiado de estabelecer contactos e de manter e desenvolver ligações não só com camaradas e simpatizantes mas também com amigos do Partido e outros democratas. A necessidade recente, devido a uma legislação que a isso implica, de desenvolver um esforço para o aumento das assinaturas, quer do Avante! quer de O Militante, não põe em causa as virtualidades que a venda militante tem para o trabalho organizativo.
Tudo depende da forma como a venda e a assinatura forem encaradas pelas organizações. O que é preciso é não perder de vista aquilo que realmente define e distingue o trabalho com o jornal partidário.
Promover campanhas para angariar novos compradores e aumentar as tiragens é um objectivo importante e necessário, mas só por si insuficiente. E que nunca será alcançado, de forma sustentada e perdurável, se não for enquadrado numa visão mais ampla e profunda daquilo que é e para que serve a imprensa do Partido.
Conquistar um comprador e não fazer dele um leitor, ou conseguir um assinante e depois deixá-lo "abandonado", significa não só correr o risco de perder um e outro, mas também e principalmente não aproveitar as possibilidades que a imprensa propicia para o aumento da qualidade e da intervenção dos militantes e do colectivo, a melhoria do trabalho orgânico e da ligação às massas.
Sublinhe-se que a venda periódica da imprensa permite um contacto continuado com o camarada ou o amigo, mas a assinatura de igual modo potencia esse contacto - por exemplo, procurando saber se a pessoa em questão está ou não a receber regularmente o jornal, debater com ela os temas abordados, recolher críticas e sugestões e encaminhá-las para a redacção, solicitar o apoio para a indicação de novos assinantes e de novos contactos, etc..
Se falamos aqui da venda e da assinatura, é não só devido à sua importância própria, mas também porque se trata de um exemplo bastante esclarecedor acerca da absoluta necessidade de entender a imprensa do Partido em toda a sua dimensão e significado. Isto é, a imprensa enquanto ferramenta do trabalho político e orgânico, e não apenas, por exemplo, como uma questão de distribuição ou de fundos - sem esquecer, naturalmente, que estas são duas componentes essenciais e que não podem ser subestimadas.


3. A ligação às massas

O jornal partidário existe para as massas populares e em função delas, em primeiro lugar os militantes do Partido. O seu objectivo e a sua vocação, porém, não se inserem na lógica comercial dominante (e suas perversas consequências ao nível das formas e dos conteúdos jornalísticos), que, no fundo, se reduz ao seguinte esquema: aumentar as audiências, para assim conquistar mais anunciantes e, finalmente, alcançar mais lucros. Lucros materiais, políticos e ideológicos.
Para o jornal partidário, o mais importante é chegar aos leitores, e aumentar o número destes deverá ser um objectivo permanente. Mas um dos traços distintivos da imprensa comunista é que ela entende os leitores como sujeitos responsáveis e activos, e não como simples objectos de consumo; respeitados como cidadãos de corpo inteiro, e não tratados como meros fregueses do mercado da informação.
Chegar aos leitores, acentue-se, estabelecendo com eles laços definidores de uma relação mútua e em dupla direcção: da redacção e do Partido para o leitor, e em sentido inverso.
Como se consegue esta relação? Como se estabelece a ligação do jornal do Partido às massas? Por diversas vias, tendo como ponto de partida, adaptada aos dias de hoje, a concepção leninista do jornal não só enquanto "propagandista colectivo" e "agitador colectivo", mas também enquanto "organizador colectivo" (ver "A imprensa revolucionária", artigo citado). Essa ligação estabelece-se, nomeadamente, através:

- da escolha das temáticas e da forma de as abordar, da atenção permanente aos problemas das diversas camadas e sectores da população, principalmente das classes trabalhadoras, da resposta às suas interrogações e expectativas;
- das notícias e outros materiais proporcionadores de um melhor conhecimento (dentro e fora do Partido) da vida partidária e da actividade dos seus diversos organismos e militantes, das suas experiências, das suas posições e das suas propostas;
- da mobilização e estímulo à participação activa e dinâmica dos militantes e simpatizantes na vida do colectivo partidário, nas suas actividades e iniciativas;
- das informações e análises acerca da organização e da acção das massas e do movimento sindical e popular, das suas reivindicações, das suas lutas, das soluções e caminhos propostos;
- do incentivo e das condições criadas à colaboração dos leitores nas páginas do jornal e na recolha e envio de informações;
- do estímulo à participação em acções de venda militante (que são sempre também jornadas de agitação política), de promoção da leitura, de divulgação e utilização política da imprensa do Partido;
- do espaço concedido ao debate das ideias, à formação política e ideológica, ao desenvolvimento criador do marxismo-leninismo no contexto das realidades do nosso tempo, à defesa e preservação da verdadeira identidade do Partido;
- do contributo dado à unidade de pensamento e de acção, à coordenação e à unificação de esforços, dentro do Partido e deste com os seus aliados.

A ligação aos militantes e às massas estabelece-se, pois, através de uma acção global que integra e abrange dinamicamente, sem que uma possa produzir resultados sem o concurso das outras, vertentes jornalísticas, políticas e orgânicas.
Isto significa, por exemplo, que a qualidade jornalística, só por si, e a justeza da orientação política, igualmente só por si, não bastam para garantir o sucesso do jornal partidário. E mesmo as duas juntas não permitirão esse sucesso, se não houver a compreensão e a tomada de medidas que façam da imprensa partidária

- uma componente viva e activa do trabalho organizativo e político;
- um agente integrador, catalizador e disseminador de experiências, reflexões e orientações;
- um elemento que funcione, simultaneamente, como reflexo e motor da vida orgânica a todos os níveis.


4. A questão política

Quando falamos de leitores referimo-nos, desde logo, aos militantes, simpatizantes e amigos do Partido; é para eles, em primeiro lugar, que o jornal se dirige. Mas não só para eles.
A própria evolução da comunicação social em geral e, paralelamente, a evolução dos interesses e das exigências das pessoas, leva a que o relacionamento com a imprensa do Partido tenha que ser encarado, em todos os escalões da organização, não só como uma manifestação de militância (em sentido estrito), mas também como um acto imposto pela necessidade, cada vez mais premente, de uma informação diferente da que predominantemente é veiculada pelos mass media generalistas - uma informação alternativa que verdadeiramente ajude a compreender, a desmontar, a reflectir e a agir sobre a realidade que nos cerca.
E a busca desta informação alternativa, de novos elementos que ajudem a perceber e interpretar a realidade, não será uma componente indispensável da militância - tal como o é, aliás, de uma cidadania inteiramente assumida?
A necessidade da informação complementar e alternativa existe para os comunistas e outros homens de esquerda, mas também, mesmo quando não conscientemente reconhecida, para todos os que, independentemente de pertenças políticas, sindicais, ideológicas, religiosas ou outras, são, objectivamente, vítimas da confusão de valores, da falta de referências, do conformismo ideológico e da passividade cívica que os mecanismos dominantes de fabricação das opiniões e de manipulação das consciências procuram implantar.
E isto implica o entendimento do jornal não apenas como transmissor privilegiado da actividade e das orientações do Partido, mas também como espaço de debate e de reflexão, na base dos pontos de vista comunistas, sobre os grandes temas da actualidade. Para proveito do colectivo partidário, mas também como instrumento para o seu alargamento e aumento de influência.
Implica, igualmente, que as acções relativas à dinamização e ao crescimento de tiragem da imprensa partidária incluam não só medidas administrativas para o aumento das vendas e da divulgação, mas também se insiram num trabalho político e orgânico que tenha em conta a especificidade do produto jornal e das suas funções e potencialidades. Nomeadamente:

- Informação e reflexão sobre a actividade do Partido e exposição e defesa da sua política, incentivo à troca de experiências, ao debate interno e à dinamização da organização.
- Acompanhamento crítico da actualidade nacional e internacional e, sempre que seja caso disso, esclarecimento e desmontagem de mensagens veiculadas pelos órgãos de comunicação social de massas e outras formas de expressão da ideologia dominante.
- Esclarecimento, informação e formação política, ideológica e cultural.
- Intervenção, inclusive por iniciativa própria, nos grandes debates desenvolvidos no espaço público, complementando a acção do Partido ao nível das massas e do movimento popular e noutros planos (institucional, sindical, cultural, etc.).
- Contribuição para o alargamento do Partido e para o trabalho unitário, levando a sua voz para fora, aumentando a sua influência, reforçando, melhorando e fazendo crescer o colectivo e a sua afirmação na sociedade.

No fundo, o que está em causa é a existência de uma concepção do jornal partidário enquanto uma questão política, no mais amplo e nobre sentido da palavra.


5. Lugar insubstituível

As potencialidades do jornal partidário vêm claramente ao de cima em determinadas circunstâncias. Como é o caso de momentos caracterizados por um eforço "para a dinamização, renovação e maior eficácia política da organização e intervenção do PCP, e para a ampliação da sua influência na classe operária e nos trabalhadores, na sociedade portuguesa" ("Por um novo impulso na organização, intervenção e afirmação política do Partido", comunicado do Comité Central, 14 e 15 de Fev. 1998).
Com efeito, o contributo da imprensa partidária revela-se particularmente significativo quando estão pela frente objectivos prioritários como:

· "medidas de revigoramento e rejuvenescimento da organização do Partido, de alargamento da sua base militante e de maior responsabilidade dos militantes";
· o "desenvolvimento, nos diversos planos de intervenção e frentes de trabalho, de novas linhas de iniciativa política que favoreçam uma mais forte afirmação do PCP como partido de luta e partido de projecto";
· "medidas de fortalecimento e renovação da capacidade de direcção do Partido" (idem).

Trata-se de direcções de trabalho para cuja concretização com êxito se afigura de importância decisiva o envolvimento, empenhamento e valorização do jornal partidário, entendido na plenitude das suas virtualidades e colocado no lugar insubstituível que lhe cabe.


6. Uma questão de todo o Partido

Tudo o que acima ficou dito chama a atenção, em nossa opinião, para a necessidade de considerar a imprensa partidária apenas como uma parte da questão mais ampla que é a comunicação do Partido com a sociedade e, mais genericamente, como vimos, na sua função de elo de ligação do Partido às massas.
Torna-se assim necessária uma perspectiva global que tenha em conta esta integração da intervenção através da imprensa num sector mais vasto, em que coexistem diferentes direcções de trabalho e diversos tipos de problemas, cuja visão conjunta e cuja coordenação se mostram indispensáveis. É esta perspectiva que permite melhorar a imprensa e fornece o quadro geral dentro do qual ela se integra e se potencia.
Nesta perspectiva global sobre a chamada frente da informação, que se cruza com outras frentes de não menor importância, há que incluir, para além da imprensa partidária, a actividade de propaganda nas suas diversificadas formas, a acção junto da comunicação social nacional, regional e local, a intervenção institucional junto dos órgãos competentes, a participação e a promoção de debates e outras iniciativas públicas.
Mas há também que considerar, ao nível da própria organização partidária, aspectos como o modo de funcionamento e conteúdo das reuniões, o lugar dedicado à circulação da informação e ao debate internos, as iniciativas de formação, a valorização da dimensão cultural e ideológica, a actividade dos Centros de Trabalho.
Esta é uma frente de trabalho com problemas específicos. Problemas, por exemplo, no que se refere à intervenção pública, como a linguagem a utilizar, os temas a privilegiar, as formas de argumentação, o tipo de referências, as opções formais, as qualidades e características dos protagonistas, a medida de adequação aos critérios e expectativas dominantes, o relacionamento com os agentes produtores de informação, o tempo e a oportunidade de intervenção, etc..
A abordagem de problemas como estes pode ser, por vezes, delicada, sendo de evitar dois perigos: um, é partir do princípio de que qualquer alteração ao que é tradicional fazer-se (na linguagem, na imagem, no relacionamento com terceiros, etc.) constitui sempre uma ameaça aos princípios e à identidade do Partido; outro, é deixar-se embalar pela retórica comunicacional em voga e pelos critérios mediáticos dominantes e, com o receio do isolamento e da ultrapassagem, tomar opções em que, por exemplo, as modificações de aspectos formais, sem quase darmos por isso, acabam por implicar cedências nas questões de fundo.
Formulada em abstracto, esta dicotomia parece clara e simples; nas situações concretas de trabalho, porém, quase nunca as questões (para quem se preocupa com elas) são assim tão óbvias, tanto mais que estão envolvidos aspectos técnicos e políticos, cuja coexistência pacífica nem sempre é fácil.
Torna-se evidente, de qualquer modo, a necessidade de uma constante preocupação em tomar atitudes e desenvolver uma acção que tenha em conta a manutenção da identidade partidária e o respeito aos seus princípios essenciais, assim como a complementaridade entre o rigor e a criatividade, a seriedade e a vivacidade, a firmeza e a eficácia.
E uma coisa é certa: as implicações da imprensa em toda a vida partidária e a sua integração no plano mais vasto da comunicação com a sociedade mostram em que medida as relações entre o Partido e a informação são uma questão que está longe de apenas dizer respeito aos organismos e militantes a ela directamente ligados, mas sim a todo o Partido.

No próximo número:
Jornalismo e jornalistas


«O Militante» Nº 235 - Junho / Agosto - 1998