Não há senão sem bela...



Marco Quintino
Membro da Direcção Nacional da JCP


Quando aos 14 anos formei, com alguns amigos, uma associação juvenil, fi-lo sem qualquer objectivo (pelo menos consciente) de intervir ou transformar a comunidade em que estava e está inserida.
Da minha parte havia apenas a vontade de experimentar o trabalho a que nos propúnhamos.


A experiência ajuda mas não evita

A experiência que tinham algumas pessoas que "embarcaram" nesta aventura, não evitou, como muitos que já passaram por esta situação sabem, as burocracias e as chatices que nos caem em cima.
Mas depois da loucura da legalização e de todas as reuniões dentro de automóveis, tornados em sedes improvisadas, pusemos no terreno as nossas propostas.
Com isso, vieram todos os contratempos e reacções possíveis e imaginários: a autarquia que subsidia uma só iniciativa com mais dinheiro do que dá no ano seguinte para todo o plano de actividades; o Governo Civil que envia o formulário, para pedido de apoio, um mês depois do prazo de candidatura ao mesmo; o Instituto Português da Juventude (IPJ) que exige relatórios complexos e por vezes de necessidade questionável e, para cúmulo, delibera que só atribui parte do financiamento proposto, esquecendo-se que somos voluntários e que temos escolas e/ou empregos que só nos permitem trabalhar na associação nos tempos livres, etc., etc..


O sorriso que compensa

Mas não se pense que é tudo mau e difícil. E se o provérbio popular diz que "não há bela sem senão", seria justo dizer, neste caso, que "não há senão sem bela", pois não há nada que pague a formação pessoal e humana que se adquire e todo o caudal de experiências que se ganha com o passar dos tempos.
Com a associação tivemos oportunidade de conhecer gentes e terras de todo o mundo com as suas culturas e tradições, tornando-nos mais solidários e tolerantes e facilitando-nos a compreensão de diferentes modos de estar e de ser.
E é assim que podemos dizer que não há contrariedade que não seja compensada com o sorriso de um qualquer miúdo num qualquer ghetto deste ou doutro país!

Passados seis anos posso avaliar o que fizemos e crescemos, compreender o significado da expressão "a união faz a força".
Em suma, o associativismo tem uma acção revolucionária de base, que torna e transforma as pessoas em membros activos da sociedade.
E o estar associado permitiu-me isto e muito mais.


«O Militante» Nº 235 - Junho / Agosto - 1998