Quando aos 14 anos formei, com alguns amigos,
uma associação juvenil, fi-lo sem qualquer objectivo (pelo
menos consciente) de intervir ou transformar a comunidade em que
estava e está inserida.
Da minha parte havia apenas a vontade de experimentar o trabalho
a que nos propúnhamos.
A experiência ajuda mas não evita
A experiência que tinham algumas pessoas que
"embarcaram" nesta aventura, não evitou, como muitos
que já passaram por esta situação sabem, as burocracias e as
chatices que nos caem em cima.
Mas depois da loucura da legalização e de todas as reuniões
dentro de automóveis, tornados em sedes improvisadas, pusemos no
terreno as nossas propostas.
Com isso, vieram todos os contratempos e reacções possíveis e
imaginários: a autarquia que subsidia uma só iniciativa com
mais dinheiro do que dá no ano seguinte para todo o plano de
actividades; o Governo Civil que envia o formulário, para pedido
de apoio, um mês depois do prazo de candidatura ao mesmo; o
Instituto Português da Juventude (IPJ) que exige relatórios
complexos e por vezes de necessidade questionável e, para
cúmulo, delibera que só atribui parte do financiamento
proposto, esquecendo-se que somos voluntários e que temos
escolas e/ou empregos que só nos permitem trabalhar na
associação nos tempos livres, etc., etc..
O sorriso que compensa
Mas não se pense que é tudo mau e difícil. E se o provérbio
popular diz que "não há bela sem senão", seria justo
dizer, neste caso, que "não há senão sem bela", pois
não há nada que pague a formação pessoal e humana que se
adquire e todo o caudal de experiências que se ganha com o
passar dos tempos.
Com a associação tivemos oportunidade de conhecer gentes e
terras de todo o mundo com as suas culturas e tradições,
tornando-nos mais solidários e tolerantes e facilitando-nos a
compreensão de diferentes modos de estar e de ser.
E é assim que podemos dizer que não há contrariedade que não
seja compensada com o sorriso de um qualquer miúdo num qualquer
ghetto deste ou doutro país!
Passados seis anos posso avaliar o que fizemos e crescemos,
compreender o significado da expressão "a união faz a
força".
Em suma, o associativismo tem uma acção revolucionária de
base, que torna e transforma as pessoas em membros activos da
sociedade. E o estar associado permitiu-me
isto e muito mais.
«O Militante» Nº 235 - Junho / Agosto - 1998