No 1º semestre de 1998
A intensificação das luta dos trabalhadores
Arménio Carlos
Membro do Comité Central, da Comissão Executiva da CGTP e
Coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa
Contrariando os objectivos do Governo do PS e os
prognósticos dos arautos que advogam o fim da luta de classes, o
primeiro semestre de 1998 demonstrou que os trabalhadores
portugueses continuam dispostos a lutar pela defesa do emprego
com direitos, contra a desregulamentação, pela melhoria da
Segurança Social, pela redução do horário de trabalho, pela
melhoria das condições de vida e de trabalho e por uma justa
repartição do rendimento nacional.
Os trabalhadores em luta
Apesar da profunda ofensiva ideológica, consubstanciada nos
denominados desígnios nacionais, como o da entrada no
"pelotão da frente" para a moeda única, os
trabalhadores, particularmente os do distrito de Lisboa, não se
resignaram e, como resposta, desenvolveram o maior número de
acções reivindicativas realizadas em idêntico período nos
últimos 3 anos.
Estão neste caso os trabalhadores dos Cabos Ávila, Regina,
Epac e Carpintaria Mecânica de Odivelas que prosseguem a
luta pela defesa dos postos de trabalho e a viabilização das
respectivas empresas; os trabalhadores da SIC (Empresa
de Vestuário) que, confrontados com um plano chantagista de
transferência da empresa para a Letónia, persistem em resistir,
denunciando e confrontando a multinacional Kansas.
Estão os trabalhadores da Administração Central e Local ao
exigirem que o Governo, tão célere a assumir os compromissos
com os grandes grupos económicos, cumpra o Acordo celebrado em
1996 com a Frente Comum dos Sindicatos da Administração
Pública e pare com a privatização dos Serviços Públicos que,
a prosseguir, prejudicará gravemente os trabalhadores deste
importante sector e de forma particular os respectivos utentes.
Estão também os trabalhadores de outras empresas como a
Carris, o Metro, a CP, a Refer, a
Emef, a Impormol, a Euronadel, os
Hoteis Sheraton, Penta, Tivoli, Ritz, Estoril Sol, Lucrécia, a
Cervejaria Portugália, a Alcântara Açúcares, a
Epal, a Izina, a Gás de Portugal, a
Robbialac, a Dyrup, que realizaram greves pela
melhoria das suas condições de vida e de trabalho, com
elevadíssimas adesões e, na esmagadora maioria, com resultados
muito bons no que concerne aos objectivos reivindicativos
definidos em tempo oportuno.
Vale sempre a pena
Embora o grau de politização da luta ainda não tenha atingido
os níveis desejáveis, é inquestionável que as lutas atrás
referidas e a grande Manifestação do 1º de Maio,
promovida pela CGTP-IN, provam claramente que hoje começa a
haver uma maior compreensão por parte dos trabalhadores face à
contradição entre o "discurso social" do Governo e a
implementação de uma política de cariz neoliberal assente na
subordinação aos interesses dos grandes grupos económicos.
Neste contexto saudamos todos quantos, independentemente das suas
opções ideológicas, recusaram a tese da inevitabilidade,
rejeitaram a acomodação e, em conjunto com os militantes do
PCP, souberam apoiar a CGTP-IN na demonstração, em milhares de
locais de trabalho, que vale sempre a pena lutar. Tal princípio tem sido determinante para que os
trabalhadores de muitas empresas tenham conseguido ultrapassar,
de forma muito significativa, o chamado tecto psicológico e
forçado o Governo e o patronato a responder positivamente, entre
outras, às reivindicações de ordem pecuniária.
Esta disposição de luta tem sido igualmente fundamental para,
em algumas situações, contrariar a crescente desumanização
das relações de trabalho, num quadro onde o trabalhador tem
necessariamente de ver dignificada e respeitada a sua acção, em
especial no interior da empresa.
Ofensiva do Governo contra o mundo do trabalho
Mas se é verdade que a luta dos trabalhadores conseguiu
importantes resultados, não é de subestimar a ofensiva que,
neste preciso momento, o Governo PS tem em marcha contra o mundo
do trabalho. Obsecado pela moeda única, depois de ter solicitado
sacrifícios aos portugueses e privatizado a esmagadora maioria
das empresas do Sector Empresarial do Estado, o Governo
prepara-se para, em nome do pacto de estabilidade, pedir aos
trabalhadores que cedam uma parte significativa dos direitos
sociais que a Revolução de Abril lhes trouxe e que, ao longo
dos anos, através da luta, tão bem têm sabido consolidar.
A intenção de promover profundas alterações na legislação
do trabalho, desvirtuando os conceitos de organização do tempo
de trabalho, de retribuição e do emprego, em articulação com
a desresponsabilização das funções sociais do Estado, tendo
como contrapartida a entrada do grande capital, nomeadamente na
área da Segurança Social, confirma a opção do Governo pela
linha neoliberal e justifica uma resposta adequada dos
trabalhadores portugueses.
Resposta que já começou a ser dada, nomeadamente com as grandes
manifestações realizadas no passado dia 27 de Maio em Lisboa
e que vão ter continuação por todo o país, na semana de 15 a
20 de Junho.
Campanha do Partido junto dos trabalhadores
Assim, adquire uma particular importância a campanha que o nosso
Partido lançou recentemente em torno da valorização do
trabalho e dos trabalhadores; Defender e Concretizar Direitos.
Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, fiel aos
seus princípios, aqui estamos de novo, nesta hora complexa,
conscientes das dificuldades, mas convictos da razão que nos
assiste, ao lado de todos quantos trabalham e lutam por emprego
com direitos, por salários dignos, pela redução faseada dos
horários de trabalho, pela melhoria da Segurança Social, por
uma verdadeira reforma da política fiscal.
Neste quadro e no âmbito do novo impulso para o reforço do
Partido, importa dinamizar as células de empresa, envolvendo
mais comunistas, trazendo novos militantes, para travar esta
batalha que sendo dificil não é inultrapassável.
Os trabalhadores precisam do apoio e intervenção empenhada dos
comunistas nos locais de trabalho.
Por isso, temos de estar mais disponíveis para esclarecer,
abertos para ouvir e empenhados em unir todos os trabalhadores, e
cada vez são mais, que recusam cruzar os braços perante esta
política e acreditam que é possível lutar pela concretização
de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
Ao fazê-lo estamos, desde já, a preparar as próximas
eleições, demonstrando que, ao contrário de outros, somos
coerentes, assumimos os compromissos nas empresas ou
Instituições pelo que quanto maior for a força eleitoral
do PCP e dos seus aliados na CDU, melhor estarão salvaguardados
os interesses e direitos dos trabalhadores.
«O Militante» Nº 235 - Junho / Agosto - 1998