Ganhemos para a militância
mais e mais membros do Partido
De novo voltamos a tratar da militância, desta
vez, porque um membro do Partido teve a iniciativa de nos enviar
uma carta, carta aberta assim lhe chama, que constitui
uma contribuição muito positiva para a elevação da
compreensão sobre um tema que é decisivo para o fortalecimento
do Partido.
Esta carta aberta, que publicamos ao lado, é constituída por
duas partes distintas. A primeira é uma autocrítica,
que é natural que toque muitos camaradas que também têm estado
ou estão sem qualquer actividade, sem qualquer militância. A
segunda parte é uma crítica, que também deve ser lida
com atenção, particularmente pelos camaradas que têm mais
responsabilidades.
Para além da carta que aqui se publica, verifica-se que a
insistência na discussão sobre a militância está tendo
resultados interessantes. Alguns camaradas que têm estado
inactivos compreendem que é necessário, pelo menos, pensar um
pouco no nosso papel de comunistas e passar a ter mais presente a
acção de esclarecimento que cada um pode ter.
Qualquer comunista tem sempre oportunidade de conversar com os
seus colegas de trabalho ou outras pessoas suas conhecidas.
Qualquer comunista pode/deve esclarecer e influenciar os outros.
Desta forma está, talvez sem pensar nisso, a cumprir uma tarefa
do Partido. É uma tarefa muito simples, muito natural,
muito básica. Mas é uma tarefa muito importante para o
desenvolvimento da nossa acção e da nossa inserção nos
diversos meios: locais de trabalho, colectividades, bairros e
outros.
É claro que é muito importante participar também numa reunião
do Partido, mais ou menos frequente, onde dará contas da sua
tarefa e ouvirá as experiências dos outros participantes.
Carta aberta aos militantes do Partido
Modesto e breve contributo para o reforço da organização
Sou militante do Partido há quase 35 anos.
Quase dois terços da minha vida foi vivida como militante do
Partido Comunista Português, aprendendo e formando-me com muitos
camaradas que durante o fascismo e desde o 25 de Abril até hoje,
pelo elevado exemplo de sacrifício, dedicação e trabalho,
fizeram, fazem e farão parte integrante da vida e da história
do nosso Partido e são o garante da sua continuação como
partido da classe operária e dos trabalhadores e da formação
de novos e dedicados militantes comunistas.
Sou comunista por formação ideológica, mas, durante algum
tempo, fui um "comunista não praticante", para usar a
benevolente e bem humorada expressão de um nosso camarada.
É certo que durante este período tive vários e sérios
problemas pessoais e profissionais que me afectaram bastante, que
vivi durante algum tempo no estrangeiro, que tive dificuldades de
relacionamento e divergências com outros camaradas (alguns já
não estão no Partido), que encontrei, enfim, diversas razões
para me justificar.
Mas no fundo, bem no fundo, camaradas, a verdade é que tudo são
desculpas para justificar o injustificável: durante algum tempo,
esqueci-me que sou comunista e militante do Partido
Comunista Português; esqueci-me que, como comunista e
militante, assumi compromissos com os outros militantes e que,
principalmente, com eles e como Partido Comunista que somos,
assumimos compromissos, que sempre honramos e honraremos, com os
trabalhadores e o Povo deste País.
E, por isto, não tenho apenas quotas atrasadas, tenho muitas
obrigações para cumprir, muito trabalho para fazer, que todos
vós, camaradas, para além das vossas tarefas e
responsabilidades, foram obrigados a realizar por mim.
Devo-vos, portanto, um sincero pedido de desculpa.
Mas, apesar da sinceridade deste pedido, conheço as minhas
limitações e sem a vossa ajuda, sem a integração no trabalho
colectivo, dificilmente poderei melhorar e aumentar a minha
militância.
E fui eu quem mais ficou a perder com este afastamento.
A falta do trabalho colectivo, da leitura regular da imprensa e
dos documentos do Partido, da partilha de experiências e da
discussão política com outros camaradas e com outros sectores
da sociedade, fizeram-me perder perspectivas, referências e o
contacto com a vida.
Ao assistir e participar de novo nas iniciativas do Partido
verifico com tristeza que gastei e deixei correr muito
rapidamente alguns anos de vida e fiquei intelectual e
culturalmente mais pobre.
Mas permitam-me que vos lembre que, neste como noutros casos, a
culpa não morre solteira.
Sem reduzir a responsabilidade individual, que assumo, não posso
deixar de referir também a responsabilidade colectiva pelo esquecimento
de alguns organismos do Partido, que permitiu e permite que
alguns militantes também se esqueçam que são comunistas por
opção de classe, formação ideológica ou simples convicção.
E a experiência pessoal ensinou-me, camaradas, que este
esquecimento reflecte infelizmente também, não apenas
deficiências do trabalho colectivo mas, por vezes, alguns erros
de avaliação na solidariedade que devemos aos nossos camaradas
que enfrentam algumas situações mais difíceis, dúvidas,
hesitações e certa desorientação provocada pela dureza da
vida, agravada pelas campanhas de intoxicação sistemática que
bem conhecemos.
Só dando o exemplo, sem sectarismos, reunindo, discutindo,
esclarecendo e convencendo, actuando, lutando, sempre em
conjunto, colectivamente nos ajudamos, formamos, fortalecemos,
defendemos e ampliamos os direitos dos trabalhadores e
caminharemos seguramente em direcção a uma nova sociedade cada
vez mais justa, sem exploração.
E se, temporariamente, alguns de nós hesitam ou desanimam pelas
dificuldades do percurso, será altura de recordar as enormes
conquistas alcançadas pela luta dos trabalhadores e de outros
progressistas durante os breves 150 anos do Manifesto Comunista e
os 77 anos do nosso jovem mas experiente Partido.
Camaradas,
Há mais de mil comunistas na minha Freguesia, milhares de
comunistas no Barreiro, dezenas de milhar de comunistas no
Distrito, mais de cem mil comunistas no País, milhões de
comunistas no mundo inteiro e, ao lado destes, muitos e muitos
milhões de democratas e progressistas, de homens e mulheres
sérios e honestos, uma multidão incontável empenhada na luta
pela transformação desta injusta sociedade.
Apesar dos enormes recursos dos exploradores e dos seus aliados,
dos avanços e recuos nesta enorme batalha pelo progresso da
humanidade, podemos afirmar segura e serenamente que a vitória
não é uma utopia mas uma certeza.
É por isso que eles vão anunciando regular e sistematicamente,
há mais de 70 anos, sempre sem sucesso, o desaparecimento do
nosso Partido.
"Até amanhã, camaradas".
Barreiro, 6 de Abril de 1998
Edgar Galiza Carneiro,
Militante nº 162 722