Maior iniciativa para ampliar
e fortalecer a esquerda
As celebrações do
aniversário da Revolução de Abril e do 1º
de Maio foram pontos altos de unidade e de luta pelas
reivindicações e aspirações dos trabalhadores, por uma
democracia que respeite todos os cidadãos, que seja sentida
pelos que trabalham por conta de outrém, pelas camadas mais
desfavorecidas, por um Portugal em que a justiça social, o
desenvolvimento económico, a elevação cultural sejam reais e
não simples temas de propaganda.
Individualidades com diversas concepções políticas condenaram
com veemência o neoliberalismo, o primado do mercado, a
globalização, o cada vez maior fosso que separa as camadas mais
ricas da grande massa dos que vivem com crescentes dificuldades.
A vontade de um novo rumo político para o País vai-se
alargando. É natural que se fortaleça o sentimento da
necessidade de uma política que defenda os valores de esquerda.
No intervalo das duas datas referidas, em 28 de Abril, o Partido
decidiu lançar uma iniciativa a que chamou Portugal 2000 -
debates para uma política de esquerda. Pretende-se
desenvolver "um processo de diálogo e de debate, à
esquerda, respeitador da pluralidade das expressões e das
diferenças, susceptível de, no seu desenvolvimento, estabelecer
pontes e construir convergências políticas que contribuam para
afirmar e viabilizar um projecto de poder" (da Declaração
do Secretário-Geral do PCP, camarada Carlos Carvalhas).
Uma tal iniciativa tem de ter repercussão nas diversas
organizações do Partido. Por todo o lado é preciso dar provas
de abertura ao diálogo, de vontade de encontrar e salientar
aquilo que une os que desejam lutar contra o alargamento das
desigualdades, pelos direitos democráticos e pelo fortalecimento
da esquerda.
A política que, desde 1976, tem sido seguida pelos diversos
governos foi destruindo as esperanças que Abril tinha aberto e
alimentando um ambiente de individualismo, um espírito de
competição e de "salve-se quem puder" que ganhou
grande parte da sociedade portuguesa.
Os últimos Governos PSD e, agora, o Governo PS, que em nada de
substancial se distinguem, voltaram as suas atenções para o
cumprimento dos chamados critérios de Maastricht, perfeitamente
arbitrários e iguais para todos os países participantes. A
preocupação principal de entrarmos na moeda única atingiu
profundamente os direitos dos trabalhadores e os interesses
gerais do próprio País. Foi-se verificando, tal como os
comunistas tinham previsto, a destruição de grande parte da
nossa agricultura e das pescas e também de ramos importantes da
indústria. As privatizações, que representam a perda de
elevados valores do património nacional, serviram para
enriquecer os grupos económicos, para aumentar o desemprego e a
exploração, para encarecer ou eliminar serviços.
Agora, com a entrada de Portugal no euro, é verdade que
deixará de ser necessário cambiar o dinheiro nos países com
esta moeda... e também se torna mais fácil a circulação e o
investimento dos capitais ilegais, o branqueamento das fortunas
obtidas com a droga e outros negros negócios.
A moeda única interessa fundamentalmente aos grandes grupos
económicos. Portugal vai passar graves dificuldades. O
Governo português deixa de poder ter uma política monetária e
cambial própria. Para contrariar ou limitar os efeitos de
choques económicos que vamos sofrer dentro de pouco tempo -
liberalização do comércio mundial, abertura da UE a leste,
diminuição dos fundos estruturais e das remessas dos emigrantes
- o Governo irá pretender recorrer à diminuição dos
salários, aos cortes nas despesas sociais e outras medidas
semelhantes. Nem sequer pode ter uma política orçamental
própria, porque tem que respeitar o Pacto de Estabilidade e
Crescimento (PEC), que impõe ainda um menor défice orçamental,
até mesmo a sua anulação.
Tal como nós dizemos, são economistas de diversas correntes
políticas que afirmam também que a nossa entrada no euro
foi prematura, que não estávamos preparados para isso. Aliás,
porque é que países bem mais desenvolvidos que nós, acharam
preferível não entrar? A expressão "pelotão da
frente" enganou demasiada gente. A verdade é que, para
estarmos no "pelotão da frente", em quase todos os
índices económicos e sociais continuamos no último lugar
da União Europeia e devíamos ter tido isso em conta.
Apesar disso, numa votação recente no Parlamento Europeu
(28/5/98) foi aprovado retirar o Fundo de Coesão aos países que
entraram na moeda única (Portugal, Espanha, Irlanda). Se tal
ideia for por diante quer dizer que deixamos de receber uma ajuda
de mais de 700 milhões de contos... porque não precisamos.
Entretanto, realizaram-se os Congressos do CDS/PP e, depois, do
PSD. O extenso tempo de antena que lhes foi oferecido permitiu
perceber a verdadeira tormenta que acompanhou a mudança de
líder no PP e a qualidade do "espectáculo"
representado no PSD.
O PP que, durante muito tempo, procurou parecer que estava contra
o Tratado de Maastricht e a moeda única, deu já a volta
completa a esse respeito. Quanto ao líder do PSD, que até
preparou para o Congresso dois discursos com orientações
opostas, decidiu-se, por agora, por uma AD (Alternativa
Democrática) para a qual conta com os novos dirigentes do PP. E
dizemos por agora porque, como escreveu Francisco Balsemão:
Rebelo de Sousa "ao longo da sua vida partidária tem sido
perito em volte-faces" (Expresso, 25/4/98).
Mais recentemente, o PSD levantou graves acusações à política
do PS ante os grandes grupos económicos. Se há posições
políticas idênticas entre estes dois partidos, e elas são
tantas que só com dificuldade se podem distinguir um do outro,
também no seu relacionamento com os grandes patrões nenhum
deles pode criticar o outro.
É certo que foi dirigindo-se concretamente ao actual Governo PS
que Nogueira Simões (vice-presidente da CIP) o
considerou como "o nosso amigo". Mas esta
"franqueza" não diminui os grandes e particulares
apoios dos Governos PSD aos grandes senhores do País e,
evidentemente, os apoios destes ao PSD. É tudo (com o PSD e
também com o PS) uma questão de negócios. E são os grupos
económicos a dirigir verdadeiramente a política do País.
A política de direita levada a cabo pelo PS é, por
definição, contra o mundo do trabalho. A parte do Rendimento
Nacional que vai para este mundo (que é muito mais numeroso que
o outro, o do capital) é muito reduzida (41%), menos que no
tempo do fascismo. Mas o PS ainda quer avançar mais na
exploração.
A necessidade de elevar o investimento e a competitividade
são os grandes chavões para justificar a sua política ante os
trabalhadores. Tal política tem conduzido, naturalmente, ao
aumento do número de "Ferraris" e a grandes riquezas
na posse dos poderosos, a elevadíssimos lucros e negócios para
os quais não há olhos nem medidas, sejam fiscais, sejam outras.
Para os trabalhadores, o Governo de Guterres pretende impor um
muito gravoso pacote laboral. Pretende flexibilizar mais o horário,
tornar o emprego ainda mais precário, condicionar as férias,
mexer também nos salários e impor um novo conceito
para a própria profissão.
Para fazer frente às intenções e medidas que o Governo quer
levar por diante contra os trabalhadores, o Partido, em meados de
Maio, lançou uma campanha - o PCP com os trabalhadores - que
tem como lema Valorizar o Trabalho e os Trabalhadores - Defender
e concretizar os direitos.
É indispensável mobilizar os trabalhadores contra a
política do Governo, por emprego com direitos, por salários
dignos, redução do horário e melhor segurança social. As
diversas manifestações realizadas em Maio e muitas outras
acções de protesto, entre as quais se destacam algumas greves
e, em particular, a greve dos caminhos de ferro a 100%, mostram
que o descontentamento vai alastrando e mobilizando os
explorados. Novas greves em Junho já tiveram lugar, novas
manifestações vão realizar-se, ao mesmo tempo que decorre, em
todo o País, a campanha pelo SIM no referendo sobre a
despenalização do aborto.
Devemos também reforçar as fileiras do Partido com mais e
muitos mais trabalhadores pois o PCP precisa dos
trabalhadores e também os trabalhadores precisam do PCP.O
que se fizer neste campo vai ter grande importância para
derrotar a política de direita. Mas também é
indispensável uma maior iniciativa para ampliar e fortalecer a
esquerda.