Um gangster...




O jornalista norte-americano Seymond Hersh, que ganhou o Prémio Pulitzer pela reportagem sobre o massacre de May Lai (guerra do Vietname), escreveu um livro sobre o Presidente dos EUA John Kennedy, "The Dark Side of Camelot" (O Lado Sombrio de Camelot), onde desmascara completamente a figura daquele Presidente sobre o qual se gerou uma auréola que tem enganado muita gente.
No Diário do Alentejo, um comentário assinado por Manuel Geraldo diz o seguinte:
"De acordo com a obra de Seymond Hersh, cuja primeira edição de 350 mil exemplares se esgotou rapidamente nos EUA, John Kennedy não passava de um político corrupto, imoral, obsecado pelo sexo e com ligações aos bastidores do crime organizado, iniciadas sobretudo a partir da sua envolvência amorosa com Judith Campbell Exner, antiga namorada de Frank Sinatra e amante de Sam Giancana, chefe mafioso de Chicago apadrinhado na sua juventude por Al Capone.
Citada por Hersh, Judith Exner diz que Kennedy lhe confidenciou que, com o seu aval, a CIA tinha contratado um homem da Mafia para eliminar o líder cubano Fidel Castro.
Igualmente graves são as revelações de Judith, segundo as quais Joseph, o pai de JFK, se tinha encontrado secretamente com Sam Giancana antes da campanha presidencial de 1960. Desse encontro resultou o apoio total de Giancana à corrida eleitoral do filho. Conforme explica Hersh, Giancana comprometeu-se a fazer com que os sindicatos por ele contratados votassem em John.
Em relação a Patrice Lumumba, o carismático dirigente revolucionário do Congo, Hersh refere que a decisão para o seu assassínio, que levou ao poder o ditador Mobutu, partiu também de JFK. (...)
No livro também é revelado um facto até agora quase desconhecido: em 1974, JFK casou pelo primeira vez em Palm Beach com Durie Malcolm, uma estrela do "jet-set", tendo o matrimónio sido anulado no dia seguinte pela Igreja Católica.
Mas o importante em "The Dark Side of Camelot" é que este livro vem uma vez mais demonstrar que do Reino da Dinamarca aos EUA, de Shakespeare a Hersh, de Camelot a JFK, os mitos com pés-de-barro (forjados pelo cinema, pelas crónicas de costumes e por revistas "cor-de-rosa", alicerçados em mortes jovens, violentas, mediáticas e misteriosas, e por mil cumplicidades), mais tarde ou mais cedo sempre se abatem!...




«O Militante» Nº 234 - Maio / Junho - 1998