A Internacional Socialista e Clinton
O Expresso (7/3/98) publicou um artigo que começa
assim: A ideia da criação de uma nova internacional dos
partidos de centro-esquerda baseada numa relação privilegiada
entre o Partido Trabalhista inglês e o Partido Democrático
americano foi sugerida por Tony Blair e está a agitar
os meios socialistas internacionais.
Como se sabe, António Guterres e Tony Blair têm
posições muito semelhantes. Ambos conduzem políticas
claramente neoliberais e anti-sociais. E ambos têm pelo
Presidente dos EUA uma grande simpatia além de comungarem pontos
de vista.
A ideia de substituir a Internacional Socialista por um outro
agrupamento que incluísse o Partido Democrático de Clinton não
é, por isso, uma ideia que cause grande estranheza. Mas é
evidente que seria uma ainda maior guinada para a direita. Seria
um abastardamento ainda mais claro daquilo a que chamam socialismo
democrático, que de socialismo não tem nada e de democrático
tem pouco, como se vê bem entre nós.
Entretanto, segundo o artigo referido, António Guterres não
subscreve a proposta embora esteja de acordo com o
aprofundamento do seu [da Internacional Socialista] diálogo com
outras forças políticas democráticas como o Partido Democrático
Americano.
O Expresso diz ainda que o dirigente socialista
mais próximo de Blair parece ser o ministro dos Assuntos
Parlamentares (António Costa). Em compensação,
o eurodeputado António Campos considera que os
socialistas não podem aceitar uma proposta dessas, ainda por
cima em nome da esquerda.
Mas quem vai mais longe numa posição contra Blair é Mário
Soares, o qual, ainda há bem pouco tempo, afirmava que
votar à esquerda era votar em Blair, em Guterres, em Jospin,
misturando posições muito diferentes
A propósito de Jospin, ou melhor, do PSF, o D.N.
(10/3/98) diz que, há um mês, os socialistas franceses
insurgiram-se contra a proposta (
) de Tony Blair de abrir a
Internacional Socialista ao Partido Democrático norte-americano.
A proposta foi tão mal recebida que nem resposta lhe deram.
Mas o líder dos socialistas portugueses no Parlamento Europeu, Luís
Marinho, considerou despropositados os temores
franceses.
É ante esta grande variedade de posições dos socialistas
portugueses que mais se destaca a posição de Mário Soares.
Àcerca da proposta de Tony Blair, ele escreve no mesmo número
do Expresso: Significaria isso perder
completamente a identidade do socialismo democrático.
E vai mais longe: Seria uma infidelidade à história e às
conquistas do movimento operário, tal como têm sido vividas,
desde finais do século XIX até à actualidade.
Não há engano. Esta referência ao movimento operário é mesmo
de Mário Soares. É, com certeza, uma novidade ao fim de muitos
anos.
Estará Mário Soares arrependido das medidas que tomou contra os
trabalhadores?
Pelo menos, os grandes patrões não as esquecem e estão-lhe
muito gratos.
E, no final do seu depoimento, ainda acrescenta uma frase lapidar
que dificilmente se pode pensar ser de quem é:
A honra dos políticos consiste na sinceridade dos ideais
que perfilham e não na defesa oportunista de interesses ou de
situações de poder.