Região Autónoma da Madeira

O prestígio conquista-se com trabalho!




Armindo Miranda
Membro do Comité Central e Coordenador da DORAM


A preparação e a realização das Eleições Autárquicas (EA) de Dezembro de 1997, na Região Autónoma da Madeira, adquiriram contornos e aspectos muito particulares.
Por um lado, partíamos para esta batalha com algumas condições que, à partida, poderiam funcionar como factores favoráveis, nomeadamente o facto de, nas Eleições Legislativas Regionais (ELR) de Outubro de 96, a CDU e o Partido terem obtido o melhor resultado eleitoral de sempre, em votos e em percentagem; o grande trabalho de massas e o contacto directo com os trabalhadores e as populações realizados pelos deputados da Assembleia Regional, traduzidos no alargamento do prestígio do Partido; o Partido mais forte, politicamente e na sua estrutura orgânica.
Por outro lado, tínhamos pela frente factores muito desfavoráveis: a força da tradição e da experiência que nos indicavam uma descida (em alguns casos muito acentuada) nas eleições autárquicas em relação às legislativas re-gionais do ano anterior (exemplos: ELR/88 = 2571 votos – EA/89 = 1957 votos; ELR/92 = 3870 votos – EA/93 = 2963 votos). Assim, e ao contrário da experiência nacional em que nas eleições autárquicas a organização do Partido perspectiva bons resultados, nós partíamos para esta batalha com o espectro da comparação pública, inevitável, com os resultados das legislativas regionais, que tinham sido, como já foi referido, os melhores de sempre (5488 votos, 4%).
Não tínhamos nenhum eleito no principal concelho da Região, o Funchal, e num contexto em que o PSD candidatava os presidentes em exercício com uma boa imagem, no geral, e com o apoio de uma estrutura do Governo e partidária presente em tudo e em todo o lado, e o PS com vereadores em todas as Câmaras e que candidatava para o Funchal o seu principal trunfo - o próprio Presidente do PS/Madeira - estavam reunidos todos os bons ingredientes para a “caldeirada” da bipolarização e do voto útil.


Os objectivos e a acção

Foi nestas circunstâncias que definimos os seguintes objectivos eleitorais e partidários:

- contrariar a tendência e desafiar a tradição de votações baixas nas eleições autárquicas,
comparadas com as legislativas regionais;

- manter, e alargar, se possível, o número de eleitos no concelho de Câmara de Lobos;

- eleger o máximo de eleitos no concelho do Funchal;

- aproveitar as eleições autárquicas para reforçar organicamente o Partido.

Analisada a situação e a correlação de forças e definidos os objectivos, planificou-se o trabalho e avançou-se para a acção:

- o conteúdo da mensagem foi muito simples: questões sociais em primeiro lugar; mais casas de renda social; os milhões de contos que vão para o futebol profissional deveriam ser canalizados para a construção de mais casas, mais esgotos, melhores acessos.
A decisão de termos a nossa própria propaganda e as palavras de ordem adaptadas ao nosso trabalho e à nossa realidade específica revelou-se acertada. Foi muito importante termos decidido enfrentar o problema do voto útil de uma forma clara e definido uma linha de intervenção com materiais de propaganda adequados no sentido de demonstrar por que razão o voto no PS não tinha utilidade e por que motivo era útil votar na CDU. Os nossos argumentos tinham um poder persuasivo muito grande. A população tinha conseguido (e continua a conseguir) êxitos na luta pelas suas reivindicações: alargamento de becos, abertura de estradas, construção de centros de saúde, a luta pela casa, a defesa do meio ambiente, etc.. E ao seu lado, de forma empenhada e solidária, tinha os comunistas e os seus aliados que, umas vezes como Partido outras como CDU, assumiram no terreno e publicamente, na comunicação social, o seu empenho na organização e no apoio a essas lutas. A força do exemplo continua a ser muito grande.

- a forma de contacto directo com as - a forma de contacto directo com as populações à saída das missas, nas paragens de autocarro e, sobretudo, no porta-a-porta nos sítios e nos bairros dos concelhos, nos 15 dias que antecederam a campanha. Terminávamos ao fim da tarde com um comício nos sítios ou nos bairros.


Apesar das grandes dificuldades, os resultados foram bons

Assustámos a burguesia do PSD e do PS, que realizaram uma sondagem nos dias próximos das eleições, a qual, no Funchal, nos dava a hipótese de elegermos um vereador e chegarmos aos 10%. O nosso trabalho e a nossa campanha estavam a deslocar eleitorado do PS e da UDP para a CDU.
Assustaram-se e tomaram medidas: fizeram publicar no jornal diário regional, de grande influência na opinião pública, essa sondagem completamente adulterada, onde nos eram atribuídos apenas 2% da intenção de voto dos eleitores, atrás da UDP e, claro está, muito longe do CDS-PP e do PS. No fundamental conseguiram o objectivo: reanimar a UDP e algumas camadas de tradicionais votantes no PS, que estavam a ser ganhas para o voto na CDU na perspectiva de eleição de um vereador, logo retomaram a opção de voto no PS.
Mas, os nossos objectivos, no fundamental, foram atingidos. Conseguimos pôr fim à tradição e não só travámos como invertemos a tendência de descida; obtivemos a maior votação de sempre, quer em número de votos (5565 contra 2965 em 93), quer em percentagem (4,3% contra 2,4% em 93), passando de 4 para 7 eleitos, números totais regionais.
No concelho de Câmara de Lobos não conseguimos eleger para vereador o nosso amigo Padre Mário Tavares. Mantivemos dois eleitos na Assembleia Municipal e um na Assembleia de Freguesia de Câmara de Lobos.
No Funchal, uma das nossas maiores apostas, obtivemos 4017 votos (1259 em 93) e 7,01% (2,3% em 93) e elegemos dois elementos para a Assembleia Municipal, um para a Assembleia de Freguesia de Santo António e um para a Assembleia de Freguesia de São Roque. Passámos de quinta força política para terceira, deixando atrás de nós a UDP e, pela primeira vez, o CDS-PP.
Naturalmente que estes resultados animaram muito os militantes do Partido e os nossos amigos independentes que trabalham connosco no âmbito da CDU.
No plano interno do Partido, e após esta batalha, estamos muito mais fortes. Reforçámos organizações concelhias já existentes, demos início à criação de outras e militantes que se inscreveram duranta o trabalho eleitoral estão já a ser chamados a desempenhar tarefas nos organismos do Partido.
Na fase de balanço muitas e várias opiniões surgiram, tentando explicar os resultados alcançados, positivos e negativos. Das várias conclusões tiradas, destacamos duas:

- que o profundo trabalho de massas realizado no ano anterior às eleições foi determinante para se conseguir estes resultados. Sem esse trabalho teríamos sido absorvidos, eleitoralmente, pelo PS.

- que os bons resultados eleitorais não se conseguem aparecendo junto dos trabalhadores e das populações apenas nas campanhas, mas sim num trabalho diário e persistente onde a generosidade solidária e transformadora do projecto libertador do nosso Partido tem que estar sempre presente.




«O Militante» Nº 234 - Maio / Junho - 1998