Um
novo impulso - organização, intervenção
e afirmação política
O Comunicado
aprovado na reunião do Comité Central de 14 e
15 de Fevereiro passado foi inserido nos documentos em O
Militante nº 233 de Março-Abril. Dado o condicionamento
das datas de entrega dos diversos artigos de O Militante,
não foi possível, na abertura daquele número, fazer
qualquer referência à realização da reunião do CC. Em
virtude da importância desta reunião e do seu comunicado,
dedicamos-lhes parte das palavras iniciais deste número
destacando traços particularmente relevantes e apontando o
interesse e a necessidade da leitura de todo o documento.
Como se diz no início do Comunicado, foi realizado um
primeiro exame sobre a acção do Partido e os próximos desafios
a que é necessário responder e apela-se a que as diversas
organizações debatam e tomem medidas para levar por diante um
novo impulso com o objectivo de melhorar a organização, a
intervenção e a influência do Partido.
Num primeiro ponto refere-se a necessidade de uma
perspectiva mobilizadora e combativa
de afirmação, crescimento e dinamismo.
Salienta-se a importância da realização de Assembleias
das diversas organizações e muitas outras reuniões que
analisem e definam as principais deficiências existentes e
apontam-se as seguintes direcções de trabalho:
- a renovação e rejuvenescimento das organizações e
estruturas partidárias;
- o reforço da organização e intervenção junto dos
trabalhadores;
- a elevação da militância na base de um trabalho de
organização e de iniciativa política;
- a revitalização das organizações de base (contando
com a participação da generalidade dos quadros do Partido)
É de grande interesse que se conheça como se relacionam os
comunistas com os companheiros de trabalho, os vizinhos e a
população em geral nos mais diversos aspectos da actividade -
acções reivindicativas, associações de classe,
colectividades, poder local, informação e esclarecimento - e
que se tomem medidas para tornar tal relacionamento mais amplo,
efectivo e influente. Há também que ter em conta e saber
aproveitar a acção de todos aqueles que participaram nas listas
da CDU e as apoiaram.
Num segundo ponto indica-se uma orientação
estratégica clara: um projecto de esquerda e de poder para um
novo rumo democrático.
Após as eleições de 95, o PS, como Governo, seguiu uma
evidente orientação de direita, contra o trabalho e a favor do
capital, ajudou a descaracterizar mais o regime democrático,
manteve a política de integração europeia subordinada ao
neoliberalismo imposto pelo grande capital financeiro.
Para as próximas eleições legislativas, ir-se-á desenvolver
uma falsa opção entre a manutenção do PS com uma
política de direita ou o regresso da direita. É indispensável
esclarecer que há uma alternativa de esquerda à
alternância PS/PSD, que exige o reforço eleitoral do PCP.
Com esse objectivo, é necessário:
- contribuir para a afirmação de uma esquerda e de um
projecto que torne possível um novo rumo democrático em
Portugal. Isto exige um amplo diálogo, à esquerda, que
encaminhe para uma convergência as diversas expressões
críticas do pensamento e da prática neoliberais.
- prosseguir a afirmação do PCP como oposição de
esquerda, combativa, consequente e responsável.
- defender uma política de desenvolvimento e emprego, com
uma justa repartição do rendimento nacional, contra o
crescente domínio do poder económico sobre o poder político e
pela defesa e preservação do ambiente.
- defender a realização de reformas democráticas para a
educação, a saúde e a segurança social.
- lutar por um novo rumo para a construção europeia, por
uma Europa de paz, cooperação e coesão económica e
social, por uma Europa de nações soberanas e iguais.
Num terceiro ponto propõe-se uma confiante
intervenção política e de massas junto dos trabalhadores e das
populações.
A demarcação do PCP em relação à política global do PS é
indispensável, não só para afirmar claramente a alternativa de
esquerda, mas também para impedir que a direita procure
responsabilizar a esquerda pela política e o
fracasso do Governo PS.
A verdadeira estratégia política do PS é caracterizada pelos
seus constantes entendimentos com o PSD e/ou o PP. A política do
PS não é o resultado de qualquer intransigência do PCP ou,
como alguns falsamente acusam, de o PCP considerar o PS como
inimigo principal.
A construção de uma alternativa, que exige uma alteração
sensível na actual correlação de forças sociais e políticas,
depende principalmente da força e amplitude dos movimentos e
lutas sociais e do acerto e intensidade da intervenção
política do PCP.
Cabe ao movimento sindical unitário, às comissões de
trabalhadores, às associações de agricultores, de
intelectuais, de estudantes, às colectividades e outras
estruturas associativas e organizações sociais, um papel
fundamental para a intensificação dos movimentos e lutas dos
trabalhadores e das massas populares.
Já depois da data da reunião do Comité Central, prosseguiu o
escândalo do "negócio" realizado pelo PS e o PSD a
propósito de um referendo sobre a despenalização do aborto. As
cedências do PS continuaram e o "aborto terapêutico"
deixou também de ser despenalizado até às 16 semanas (como
fora aprovado pela Assembleia da República) para ficar só até
às 12 semanas que é a lei actual. A aliança objectiva entre o
PS e o PSD dá razão aos comentadores políticos que, hoje, já
afirmam que o Governo actua como se fosse um Governo do Bloco
Central.
O recente processo de demissão do CEMGFA evidenciou a
petulância e a falta de seriedade de um ministro da Defesa que
se orgulha da sua participação no Governo fascista, ele que,
como ministro da Educação, foi responsável directo pelo
agravamento, nas universidades, da repressão contra os
estudantes. É ele que declara ultrapassada a
divergência com o CEMGFA três dias antes de o demitir e que faz
afirmações que a Força Aérea se vê obrigada a desmentir
imediatamente. A sua entrevista ao Expresso já como
ministro e a sua manutenção após aqueles acontecimentos são
nódoas indeléveis que marcam este Governo.
A demissão da secretária de Estado para o Orçamento, que eleva
já para 18 o número de saídas do Governo, demonstra a
existência de graves desentendimentos internos.
Graves também são as informações que se vão conhecendo
vindas da Comissão da União Europeia sobre os futuros auxílios
(ou castigos) para Portugal (Agenda 2000 (*), azeite, PAC, etc.).
E ainda piores são as perspectivas do chamado Acordo
Multilateral sobre o Investimento (AMI), que pretende subjugar
totalmente os governos aos interesses das grandes empresas
transnacionais.
Entretanto, neste período, deram-se passos importantes no
movimento reivindicativo. Os trabalhadores da indústria
têxtil conseguiram, após 15 meses de intensa luta, uma
importante vitória (*). Foi desencadeada uma expressiva acção
de utentes contra o aumento dos preços dos telefones.
Os trabalhadores bancários mobilizam-se amplamente
contra as horas extraordiárias não pagas e por aumentos de
salários. Os ferroviários e os trabalhadores da
Carris, do Metro e da STCPorto fazem
greves com grande adesão. Os agricultores protestam em
vários regiões e em manifestação em Lisboa. Os mineiros
(Aljustrel e Neves Corvo), os trabalhadores da
Administração Pública, os professores, os médicos,
continuam a lutar pelas suas reivindicações. Os estudantes
protestam contra as propinas com uma muito grande manifestação
(*). Os reformados manifestam-se também em grande
número. Em muitas empresas, como na TAP, EFFAs,
Gás Portugal, Sodia, Cabos Ávila (*), Centralcer,
Cimenteiras, Hoteleiras e outras ampliam-se as acções de
protesto. Protestam igualmente os camionistas de pesados.
A intensificação da acção reivindicativa de massas é
indispensável para a derrota da política de direita.
O aniversário do Partido foi celebrado por todo o País
e entre a emigração e serviu para esclarecer e salientar a
necessidade de um grande esforço no sentido de fortalecer a
organização e de a tornar mais interventiva.
Cabe ao Partido, às suas organizações, aos seus militantes uma
preocupação permanente para esclarecer o que se vai passando no
País e também no Mundo. Cabe-lhe uma determinação
constante para alargar a sua influência e para construir uma
ampla convergência de todos os que estão contra a política de
direita, contra a orientação neoliberal.
Para derrotar a política de direita é necessário um novo
impulso na organização, na intervenção e na afirmação
política do Partido.
(*) ver artigos publicados neste número