Casos... nas eleições autárquicas




São muitos os casos “interessantes” que se podem colher das últimas eleições autárquicas. Só vamos falar de dois.

O primeiro refere-se à participação de Zita Seabra como cabeça de lista do PSD para a Câmara de Vila Franca de Xira. É natural que opiniões muito diversas, até muito opostas, possam ter suscitado aquela participação.
Houve quem a achasse um verdadeiro achado... “A escolha de Zita Seabra para Vila Franca de Xira foi particularmente feliz” - são palavras de Luís Filipe Menezes, dirigente do PSD e ganhador da Câmara de Gaia, numa entrevista dada ao Expresso (3/5/97).
Para elevar ainda mais as suas perspectivas de vencer, um dirigente do PSD, tão "bem visto" pela grande maioria dos portugueses como é Alberto João Jardim, foi ajudar na propaganda local, e aproveitou para elogiar o que melhor pode ser indicado na vida política daquela senhora, a sua coerência... (D.N., 18/5/97). Igualmente não admira que Zita Seabra tenha dito ao Diário de Notícias que considerava ABJ “uma boa ajuda” e, também, “uma grande figura histórica”. Tudo isto parece mentira mas está documentado...
A vida mostrou que a personagem encontrada pelo PSD não era nada indicada, pelo menos para uma terra em que a coerência política é vista como uma qualidade por grande parte da população. Apesar disso, ou por isso mesmo, desempenhou um papel importante para a escolha do vencedor. Como em vez de atrair mais votos para o PSD, afastou votos habituais, estes foram engrossar os votos obtidos pela candidata do PS, que, assim, com a ajuda da concorrente do PSD, ganhou a Câmara de Vila Franca de Xira.

Uma outra “grande figura histórica” concorreu de novo à Câmara de Gondomar e ganhou mais uma vez e até com maior número de votos.
Há quatro anos chegou a oferecer electrodomésticos para obter votos. E conseguiu-os... Desta vez juntou “mais de 30 mil pessoas” para uma espécie de arraial no Parque de exposiçöes de Gondomar (D.N., 8/12/97). “A festa onde tudo era à borla e ficou por cerca de 15 mil contos, a cargo do PSD local, foi abrilhantada por dezenas de ranchos folclóricos” e cantores.
Valentim Loureiro, quer como Presidente da Câmara, quer como candidato, é um verdadeiro mãos largas e utiliza o dinheiro para conservar e comprar votos. Tem, evidentemente, o apoio da direcção do PSD. Leonor Beleza, “que fez questäo para estar presente neste giga-jantar”, levou-lhe “um grande abraço do professor Marcelo Rebelo de Sousa (...). Eu levo-lhe a memória deste magnífico espectáculo.”
Aqui já se vai em giga-jantares (giga, que significa mil milhões, tem aqui o sentido de muito grande)... Mas, nestas últimas eleições autárquicas, também o PS recorreu aos comes e bebes para comprar votos. No concelho da Amadora, por exemplo, chegou a haver gambas à discrição.
E há outras formas de compra. No concelho do Barreiro, foi dito a proprietários de casas que ainda têm de pagar pelo menos parte das infra-estruturas, que se o PS ganhasse poderiam näo as pagar...
Muitos outros exemplos de compra descarada de votos encheriam páginas. Não há dúvida que as condições democráticas das eleições estão a sofrer claros desvios. Que dão votos, que dão vitórias “eleitorais”.


«O Militante» Nº 233 - Março / Abril - 1998