Pior que no tempo do fascismo!
No último número de O Militante do ano passado fazia
parte do artigo do camarada Sérgio Ribeiro sobre a
Repartição do Rendimento Nacional um gráfico que,
assente num estudo feito pelo Banco de Portugal, mostrava a
evolução daquela repartição desde 1953 até 1993.
Esse gráfico começa por denunciar quantitativamente a
exploração do trabalho durante o período da ditadura fascista
(desde 1953). A elevação da percentagem que coube ao trabalho a
partir de meados dos anos 60 é facilmente explicada pela falta
de mão-de-obra provocada pela guerra colonial e pela emigração
de muitos jovens trabalhadores e também pela acção
reivindicativa.
Mas em 1974 e, mais ainda, em 1975, aquela percentagem tem dois
grandes saltos positivos. Modificações muito grandes tiveram
lugar. Foi uma revolução em Portugal, a revolução
dos cravos.
Mas em 1976, a parte que coube aos trabalhadores teve já uma
descida. Foi com o primeiro Governo de Mário Soares. Aquela
descida acelerou em 1977. Era já a contra-revolução.
Só em 1981 parou a descida e em 1982 (ano das duas greves
gerais) até teve uma pequena subida. Mas com a formação de um
novo Governo dirigido por Mário Soares - o Governo do Bloco
Central, constituído pelo PS e o PSD - dá-se uma nova e mais
grave descida da percentagem do Rendimento Nacional para o
trabalho e, necessariamente, uma nova e importante subida da
parte do Rendimento Nacional que vai para o capital.
Em 1984 atingiu-se o ponto mais baixo do gráfico que indica a
parte do Rendimento Nacional para os trabalhadores.
Desde 1953, ano inicial do estudo feito pelo Banco de Portugal,
nunca aquela percentagem foi tão baixa. Em 1953, mais de 48%, em
1958, cerca de 44%, o valor mais baixo até ao 25 de Abril, e em
1984, um pouco mais de 38%.
Estes números desmentem todas as belas palavras dos governantes,
a começar no primeiro Governo dito constitucional. A
repartição da riqueza nacional passou a ser ainda mais
desfavorável para os trabalhadores do que no tempo do terror
fascista. Os governantes do Portugal Democrático deviam ter
vergonha de serem responsáveis por isso. E ainda pretendem
afirmar-se de esquerda!?
O apoio aos desfavorecidos, a grande
preocupação pelo social, a razão, a justiça, a
liberdade, são palavras usadas para esconder a realidade
das medidas que se vão tomando, a verdade dos factos.
Vale a pena recordar as palavras de Nogueira Simões,
vice-presidente da CIP, na sua célebre (pela sua
franqueza e clareza àcerca do que o mundo do capital obteve dos
governos) entrevista a O Diabo, de 6/2/96.
O Diabo - Não é estranho terem-no conseguido (a
flexibilidade e a polivalência) com um Governo socialista
(Governo de Guterres)?
NS - Os contratos a prazo, que nos foram muito
favoráveis, também foram criados no Governo do Dr. Mário
Soares, embora tenham de ser revistos, porque eram muito melhores
então.