Sobre os resultados das eleições autárquicas
Comunicado do Comité Central do PCP
1. O Comité Central,
tendo analisado os resultados das eleições autárquicas de 14
de Dezembro, considera que se trata de um resultado negativo para
a CDU, uma vez que nem a manutenção nem o reforço de
posições e de votação nacional foram alcançados.
Na verdade, a CDU perdeu a maioria em doze municípios (alguns
dos quais de enorme importância) e ganhou em quatro (Moura,
Monforte, Salvaterra de Magos e Vila Viçosa), dois dos quais
pela primeira vez, ficando com 41 presidências de Câmara. Em
alguns casos as vitórias da CDU foram obtidas com um reforço
significativo de votos e de percentagem. Além da perda, em saldo
global, de oito presidências de Câmara, as outras perdas de
posições da CDU nos órgãos do poder local, com expressões
distritais diferenciadas, significando embora um enfraquecimento
da capacidade de intervenção nesse plano com notórios
prejuízos para a defesa dos interesses das populações, têm
entretanto, uma expressão global relativamente limitada. Com
efeito, a CDU perde 11 mandatos nas vereações Municipais (de
246 em 93 para 235 em 1997), 4 mandatos nas Assembleias
Municipais (de 803 em 93 para 799 em 97), 17 mandatos em
Assembleias de Freguesia (de 2747 em 93 para 2730 em 97), e 37
presidências de Juntas de Freguesia (de 316 em 93 para 279 em
97). [totais excluindo a Coligação “Mais Lisboa”].
Não contando com esta coligação na capital do País, a
votação da CDU foi de 642 803 e 12% para as Câmaras Municipais
(contra 12,8% em 1993) e de 667 154 votos e 12,5% para as
Assembleias Municipais (contra 13,0% em 1993), o que corresponde
a uma perda de 47 125 votos para as Câmaras Municipais e de 37
990 votos para as Assembleias Municipais, em relação às
últimas eleições autárquicas. Perdeu ainda, para o PS, a
maioria na Junta Metropolitana de Lisboa em que passou de 11 para
7 presidências de Câmara.
Mas importa também, na avaliação dos resultados, sublinhar que
o PCP e a CDU permanecem como uma grande força política e
autárquica no plano nacional, com uma expressiva representação
e influência no poder local e continuando a ser a terceira
força política em votos, em presidências e em mandatos nos
órgãos das autarquias.
Assume grande importância a vitória da Coligação “Mais
Lisboa”, o que permite prosseguir o trabalho que vem
sendo realizado e procurar o seu aperfeiçoamento, com uma
contribuição determinante dos comunistas.
O Comité Central considera que a situação exige um exame que
aprofunde a análise, quer em relação aos resultados globais
quer em relação a cada uma das situações. Existem, com
efeito, resultados de sentido contraditório, quer positivo quer
negativo, que impõem uma análise, consideração e debate dos
organismos de direcção a todos os níveis, num processo que se
deve desenvolver tendo em vista uma reflexão mais sistematizada
com o objectivo do melhoramento da intervenção do PCP no Poder
Local.
Por respeito pela verdade, é entretanto necessário assinalar
também que o resultado negativo expresso numa significativa
quebra de posições nos órgãos do poder local, e
designadamente ao nível de presidências de Câmaras, não pode
ser automaticamente identificada com uma grave quebra de
influência eleitoral nacional, isto é, de apoio dos eleitores.
A este respeito, é de referir que a perda pela CDU de 12
Câmaras está relacionada com quebras de votação no conjunto
desses concelhos da ordem de apenas cerca de 13 mil votos, e que,
entre estas, a perda da presidência da CM de Vila Real de Santo
António se verificou apesar da CDU ter aumentado
consideravelmente a votação (passando de 36,5% para 43%), o que
não bastou, porém, para resistir ao benefício que o PS colheu
de um clamoroso esvaziamento do PSD.
Por outro lado, a circunstância de a CDU ter perdido estas
presidências de Câmara, por ter deixado de ser a força mais
votada, não autoriza a que alguns se apressem a decretar a
prática aniquilação da influência da CDU nesses concelhos,
uma vez que, na maior parte deles, a CDU conserva votações
muito elevadas e um relevante apoio eleitoral (por exemplo, 37%
em Vila Franca de Xira, 29% na Amadora, 31% no Montijo, 43,9% em
Alpiarça, 38% no Crato, 34% na Golegã, 44,4% em Portel, 32% em
Silves, 42,9% em Vila Real de Stº António, 35% em Odemira, 46%
em Cuba).
De referir ainda que, na origem eleitoral da perda pela CDU de 12
presidências de Câmaras, se encontram situações diversas que
abrangem alguns casos em que essa perda da presidência se ficou
a dever principalmente a significativas quebras de votação da
CDU; mas na maioria dos casos a perda ficou a dever-se a
deslocações de votos entre os outros partidos (designadamente
do PSD para o PS); ou a casos em que convergiram pequenas perdas
da CDU com a já referida diferente arrumação de votos entre as
outras forças concorrentes.
Sem prejuízo do quadro negativo já referido, é de sublinhar
que em numerosos concelhos do país se registam relevantes
progressos das listas da CDU, como são, entre outros, os casos
de Setúbal, Porto, Portalegre, Coimbra, Santarém, Horta, Tomar,
Sousel, Azambuja, Alcobaça, Lajes das Flores, Monchique,
Ílhavo, Penedono, Ferreira do Alentejo, Ponte de Sôr,
Guimarães, Entroncamento, Alcanena, Funchal, Montemor-o-Velho,
Peniche, Caminha, Arruda dos Vinhos. Em alguns casos, os
resultados eleitorais colocaram a CDU muito perto da maioria e
apontam para a CDU ser uma real alternativa no futuro.
É legítimo admitir que, tanto nos resultados globais destas
eleições como designadamente nos resultados mais
insatisfatórios da CDU possam ter pesado, de forma diferenciada
e com expressões variáveis, um amplo conjunto de factores quer
de política nacional quer de natureza local, alguns aspectos
mais deficientes de gestão municipal ou de insuficiente
divulgação da obra feita, as pressões bipolarizadoras,
designadamente em zonas de menor influência da CDU, o abuso de
poder praticado pelo PS, a pressão mediática vinculando a falsa
imagem de que os partidos seriam todos iguais, bem como
deficiências e dificuldades conhecidas na organização e
trabalho geral do Partido.
No que respeita aos resultados das restantes forças políticas,
o PS, obtendo um resultado globalmente positivo, perdeu, porém,
a distância de 11 Câmaras que o separavam do PSD, perdeu mais
de 37 mil votos na Área Metropolitana do Porto (incluindo 22 mil
votos no concelho do Porto) e a presidência da Junta
Metropolitana do Porto.
O PSD, que tinha escolhido o número de mandatos como critério
de aferição dos resultados eleitorais, viu-se ultrapassado em
todos os órgãos autárquicos (perdendo, em termos líquidos,
quatro mandatos em CMs, 101 nas AM’s e 731 nas AFs),
registando, no entanto, um ganho líquido de maiorias em 11
Câmaras Municipais.
O CDS-PP é a força que regista maiores perdas reais nestas
eleições, traduzidas em menos de 100 mil votos nas votações
quer para as Câmaras Municipais e quer para as Assembleias de
Freguesia. Perde ainda cinco das 13 Câmaras em que detinha a
maioria, 50 mandatos nas Câmaras Municipais, 121 nas Assembleias
Municipais (apesar de beneficiar do cruzamento de listas com o
PSD em concelhos do distrito do Porto e com o PS em Sever do
Vouga) e 876 mandatos nas Assembleias de Freguesia. Estas perdas
tornam ainda mais caricata as referências à CDU como “a
grande perdedora” destas eleições.
2. A campanha eleitoral e todo o trabalho de
formação de listas da CDU ficou marcado, entretanto, por um
extraordinário esforço e dedicação de dezenas de milhares de
militantes do PCP, candidatos e activistas da CDU, bem como pela
larga participação juvenil, com um papel destacado da JCP e a
intervenção da Ecolo-jovem. Tratou-se de uma campanha orientada
para a população, para a prestação de contas, para os
problemas concretos e a sua solução.
Por parte de outros partidos, verificou-se uma extraordinária
escalada de gastos e o uso de avultados meios, o recurso
frequente a calúnias, a acusação a municípios da CDU de não
resolver problemas da responsabilidade do Governo e foi constante
a substituição de ideias e propostas por sofisticados e
dispendiosos meios de publicidade e “marketing”
político, empobrecendo assim o debate e a própria vida
democrática.
Por parte do PS, assistiu-se a um descarado abuso do poder, à
instrumentalização de cargos governativos e administrativos e
à chantagem com promessas de distribuição de
“benesses” apenas aos municípios em que as
populações votassem no Partido Socialista.
O Comité Central saúda todos os militantes, organizações e os
eleitos do PCP e da JCP, os eleitos da CDU, todos os candidatos,
todos os activistas, bem como o Partido Ecologista “Os
Verdes” e a Intervenção Democrática que, em condições
difíceis, travaram uma batalha política importante e que abre
perspectivas de trabalho futuro em benefício das populações.
3. O Comité Central sublinha que o trabalho dos
eleitos do PCP e da CDU se traduzirá por um profundo
empenhamento na resolução dos problemas das populações, pela
procura de convergência com todos os eleitos honestos que querem
resolver os problemas concretos, pelo estímulo à participação
e intervenção das populações, pela prestação de contas do
trabalho realizado e das opções tomadas, por critérios de
justiça e igualdade no funcionamento do Poder Local.
O início do mandato das autarquias, bem como as condições
actualmente existentes e previsíveis impõem o aprofundamento do
estudo, da reflexão e da troca de experiências. Para tal, é
essencial melhorar o trabalho de organização do PCP e de
coordenação da CDU com vista a garantir a plena aplicação dos
princí-pios defendidos e dos programas eleitorais apresentados e
a responder às questões que se colocam ao Poder Local no limiar
do século XXI.
Tendo em vista o elevado número de candidatos e eleitos pela CDU
que são independentes, o Comité Central considera que se impõe
concretizar formas diversificadas que assegurem a sua
intervenção e participação a diferentes níveis e que
correspondam à situação e necessidades criadas.
O PCP manterá o seu profundo empenhamento no reforço da
descentralização e do Poder Local, quer no plano das
atribuições e competências, quer no plano financeiro.
Ao mesmo tempo, combaterá as tentativas de impor encargos sem
recursos financeiros a pretexto de que se está a descentralizar.
Combaterá igualmente o projecto de o PS e o PSD liquidarem a
eleição directa e a pluralidade de representação política
nas Câmaras Municipais. Prosseguirá a luta para reforçar o
papel das Freguesias. Empenhar-se-á na regionalização, contra
as tentativas de bloqueio ou de instituir regiões praticamente
sem competências ou com um papel meramente simbólico.
4. O PCP considera que só na base de critérios
interesseiros é que se pode pretender decretar que os resultados
das autárquicas traduziram em termos de votação nacional uma
tendência irreversível para a “bipolarização”
PS-PSD no plano da influência eleitoral.
Com efeito, bastará lembrar que enquanto nas legislativas de 95
a diferença do PS para a CDU era da ordem dos 35 pontos (43,8%
para 8,6%), nas eleições do passado domingo a diferença do PS
para a CDU é, quando muito, de 27 pontos (de cerca de 40% para
cerca de 13%).
O PCP rejeita frontalmente a tentativa do PS para apresentar o
seu bom resultado global como exprimindo um apoio activo à sua
acção governativa.
A natureza específica das eleições autárquicas, bem atestada
na diversidade e carácter contraditório de muitos resultados
das diversas forças concorrentes, não consente tal
aproveitamento do PS.
É, aliás, de sublinhar que tendo o PS declarado que as
eleições autárquicas seriam um teste à acção governativa,
procure, agora, apenas comparar os resultados com os resultados
autárquicos de 1993, para fugir à evidência de que terá tido
agora menos 4 pontos do que nas legislativas que permitiram o seu
acesso ao governo.
O PCP está convicto de que o facto de, nestas eleições
autárquicas, não se ter ainda verificado um movimento geral e
significativo no sentido de diferentes opções de voto que
pudessem afectar o PS, não pode ser convertido em apoio ou
satisfação com os aspectos mais negativos do Governo.
Para um partido sério, responsável e que respeita os seus
compromissos com os eleitores como o PCP, não são os resultados
eleitorais favoráveis do PS e os resultados insatisfatórios da
CDU que, de repente e por subordinação às emoções do momento
ou às explorações políticas dos defensores da política de
direita, tornam justa ou aceitável a dimensão do desemprego e
da precarização no nosso país, a política de contenção
salarial do Governo, as reformas de miséria, a imposição de
elevadas propinas no ensino superior público, os injustificados
aumentos que se preparam dos telefones e de outros serviços
essenciais, o agravamento das injustiças sociais, o escandaloso
saque do património do Estado através das privatizações, o
rumo federalista da integração europeia com grave lesão da
soberania e dos interesses nacionais.
Por isso, e seguramente com uma compreensão e um apoio activo
que ultrapassa largamente a sua influência eleitoral, o PCP
continuará a combater firmemente, em todos os planos da sua
intervenção, uma política que nas suas opções e
orientações essenciais prossegue a política antes seguida pelo
PSD, o PCP continuará a bater-se decididamente pelos direitos
dos trabalhadores, por melhores condições de vida para a
população e por novas ideias, propostas e soluções que
permitam responder eficazmente aos sérios problemas do País e
pelo avanço de um vasto movimento de agregação e mobilização
de forças, vontades e aspirações de esquerda apostadas em
construir uma alternativa democrática à mera alternância de
governo entre o PS e o PSD.
5. Todos quantos reconhecem no PCP uma força
indispensável à democracia e a Portugal, todos quantos
confiaram à CDU o seu apoio e o seu voto podem contar com um PCP
unido, activo e confiante que saberá fortalecer ainda mais as
suas raízes nos trabalhadores, na juventude, nas populações,
que saberá no presente e no futuro intensificar a sua actividade
e iniciativa transformadora na sociedade portuguesa.
No sentido de preparar e reflectir sobre as principais linhas de
orientação e objectivos de acção política e partidária em
1998, realizar-se-á, no início do ano, uma nova reunião do
Comité Central do PCP.
16 de Dezembro de 1997
O Comité Central do Partido Comunista Português