Desemprego estrutural?




O alemão Wim Duisenberg é o presidente do Instituto Monetário Europeu e é considerado o candidato natural à presidência de um possível futuro Banco Central Europeu. Duma longa entrevista ao Diário Económico (5/11/97) retiramos duas ideias principais. Em primeiro lugar ele afirma que o desemprego na Europa é de natureza estrutural. Isto é muito importante porque, sem explicar a razão daquela afirmação, pode logo concluir que a sua resolução passa por “medidas que tenham também natureza estruturante, (e acrescenta) que aumentem a flexibilidade dos mercados de trabalho.” Esta é a questão essencial.
Questão que logo se exprime desta forma:”que tornem mais fácil a contratação de
trabalhadores”.
Esta preocupação é com certeza de “uma boa alma”. A contratação dos trabalhadores é tão difícil!... Então, agora, com tantos desempregados, ainda mais difícil se torna...porque ninguém se quer empregar, não é?
E, logo a seguir, diz: :”E que também tornem mais fácil o despedimento de trabalhadores”. A primeira preocupação do tal presidente é a facilidade da contratação e só depois vem a do despedimento. Esta é a ordem das palavras para enganar as “pobres almas”.
Facilitar o despedimento é que é a grande batalha estruturante.
Podia-se pensar que para “facilitar” a contratação dos trabalhadores, se pudesse logo impor uma grande facilidade do seu despedimento. Mas também essa forma estruturante de «resolver» o desemprego já está mais que estruturada. No nosso país são já mais de 2 milhões de trabalhadores com emprego precário.
Para Duisenberg (e os grandes exploradores do trabalho) tornar mais fácil a contratação não é senão tornar mais fácil o despedimento. Mesmo os contratos a prazo já não servem os interesses do grande capital.
Com Wim Duisenberg no possível futuro Banco Central Europeu, os trabalhadores europeus estão bem aviados. Mas que se poderia esperar duma Europa que não é a Europa dos trabalhadores mas a Europa dos grandes magnates?!


«O Militante» Nº 232 - Janeiro / Fevereiro - 1998