O imperialismo sem máscara




O primeiro astronauta norte-americano que orbitou a Terra foi John Glenn, em Fevereiro de 1962. Os dirigentes dos EUA temeram que houvesse um desastre e, sem quaisquer escrúpulos, planearam que, se isso sucedesse, o culpado seria Cuba.
Apesar de incrível, é isto que, segundo o Público (20/11/97), se tornou conhecido porque, em 18 de Novembro passado, foram desclassificados documentos directa ou indirectamente relacionados com o assassinato do Presidente Kennedy.
O terrível plano gizado para culpabilizar Cuba caso falhasse a missão da cápsula Mercúrio tinha o nome de código de “Operation Dirty Trick” (“Operação Truque Sujo”). «As “provas irrefutáveis” que deviam ser apresentadas à opinião pública mostrariam que houvera “interferência electrónica da parte dos cubanos”».
Aquele plano incluía outras possibilidades para denegrir a imagem do regime cubano. Entre outras, a “Operation Good Time” apresentaria uma fotomontagem de Fidel Castro rodeado de “duas mulherses belas, desejáveis em qualquer situação”, junto de “uma mesa a abarrotar com a mais deliciosa comida cubana”. A legenda seria: “A minha ração é diferente”.
Foram discutidos outros planos. Debatendo-se uma eventual intervenção militar norte-amaricana contra Cuba, um relatório da CIA de 1962 avisava de “prováveis reacções”, pois muitos cubanos a veriam “como destinada a reimpor ao povo cubano o jugo do imperialismo ianque”. E concluía: “Provavelmente seria necessária uma ocupação militar norte-americana prolongada”.
Em Março do mesmo ano, o Estado Maior General propôs ao secretário da Defesa, Robert McNamara, uma operação de auto-sabotagem num navio norte-americano que seria afundado na Baía de Guantanamo, em Cuba. O regime de Havana seria responsabilizado. Mas McNamara não aceitou a sugestão.

Trinta e cinco anos depois, é bom ter presente o que se passa, actualmente nos Balkãs. Quantas “razões” não foram forjadas? Quantas operações não foram manobradas para, com o apoio da Alemanha e outras capitais do capital, destruir a Jugoslávia e dividi-la aos pedaços. A verdade é que, com o apoio das actuais “obedientes” Nações Unidas, uma força de ocupação instalou-se na Bósnia e cada vez mais a perspectiva é continuar. Se calhar as populações estarão a pensar que estão a sofrer o jugo do imperialismo ianque... As forças militares de outros países, incluindo portuguesas, servem para mascarar a realidade.


«O Militante» Nº 232 - Janeiro / Fevereiro - 1998