A cultura por mau caminho
Filipe Diniz
Arquitecto. Membro da DORL e da Direcção do Sector Intelectual
de Lisboa do PCP
Tem sempre interesse revisitar as opiniões do
PS enquanto oposição. No que diz respeito à área da Cultura,
por exemplo, leia-se o seguinte trecho do documento saído dos
Estados Gerais, em 1995:
«Cinco anos de crescente concentração do poder de decisão na
pessoa do Secretário de Estado, de constante «dança» de
nomeações e demissões dos responsáveis superiores (
)
tiveram profundas consequências na situação interna da SEC:
generalizou-se o princípio de dependência pessoal de quase
todos os lugares de direcção, substituíram-se as competências
técnicas por um corpo instável e em geral anónimo de
assessores e cúmplices partidários (
) Em geral,
provocou-se deliberadamente uma absurda conflitualidade entre os
diferentes segmentos do universo cultural, voltando as costas à
auscultação das necessidades e aspirações dos artistas e dos
especialistas dos vários sectores».
Será surpreendente que estas duras palavras dirigidas pelo PS à
SEC (Secretaria de Estado da Cultura) de Cavaco Silva possam,
dois anos passados, servir (mesmo tendo em conta diferenças
significativas que existam) para caracterizar certos aspectos da
situação no Ministério da Cultura do Governo PS?
Crise no Ministério da Cultura
Em comunicado recente da Direcção do Sector Intelectual de
Lisboa do PCP foi apontada a emergência de uma situação de
crise no Ministério da Cultura, traduzida na substituição do
próprio Secretário de Estado, do Chefe de Gabinete do Ministro,
dos responsáveis do Pró-Côa, dos Museus, do Teatro, do Cinema.
Essa larga e conflituosa troca de lugares (que foi também mais
uma expressão pública da rivalidade e conflito entre
lobbies da área PS) coincidiu com a apresentação
do Orçamento de Estado na Assembleia da República.
Torna-se cada vez mais nitidamente evidente, e não apenas para o
PCP, a incompatibilidade entre uma política orçamental cega e
obstinadamente subordinada à marcha para a moeda única e as
reais necessidades de desenvolvimento de uma política cultural
de expansão e de projecto democrático.
Orçamento insuficiente
No debate no Orçamento do Estado o Ministro, confrontado com a
distância que separa o orçamento para a cultura do objectivo de
alcançar o 1% do PIB, defendeu-se afirmando nunca ter o PS
formulado tal objectivo. Não se recordou o Sr. Ministro, por
exemplo, da afirmação de António Guterres (em entrevista ao
Público em 3/8/95) de que «gostaria de duplicar o
orçamento da cultura no espaço de uma legislatu-ra», ao mesmo
tempo que considerava que, ainda assim, ficaria «a um nível
muito inferior ao da generalidade das dotações culturais
noutros países».
O objectivo do 1% do PIB não é nenhuma meta mítica, nem mesmo
o será uma dotação percentualmente semelhante à de outros
países europeus, que se encontram em situação
incomparavelmente mais favorável. A opção política nesta
matéria consiste em reconhecer que as questões fundamentais da
área da cultura no nosso País se colocam em planos de extrema
urgência e de enorme atraso, e exigem portanto uma genuína
prioridade e um investimento político e orçamental excepcional.
Incapacidades, compadrios e propaganda
Na oposição o PS descrevia, e justamente, um cenário
catastrófico (um «terreno devastado por onde passou Átila, o
Huno», no dizer de Guterres, na entrevista ao
Público já citada). Uma vez no Governo, às
palavras, às declarações de intenção e de princípio, às
medidas positivas tomadas de início (nomeadamente no Parque
Arqueológico do Côa, nas áreas do livro e da leitura, dos
Arquivos) foram-se sobrepondo outras orientações, opções,
linhas de conduta, incapacidades. Arrastaram-se desmesuradamente
os processos de reestruturação empreendidos e desenvolveram-se
em conflito frequente com os serviços, os técnicos e os agentes
culturais. Bloqueou-se (por ausência de diálogo com os
Sindicatos) a reestruturação de carreiras. Adiou-se a
formação técnica. Esqueceu-se novamente o apoio a expressões
da cultura popular. A degradação da actividade de vários
sectores manteve a infelizmente já característica baixa taxa de
execução orçamental (em 96, e num sector tão carenciado,
houve um défice de execução de meio milhão de contos). O
Inventário de Bens Artísticos e o Pacto Patrimonial continuam
adiados, como continua adiada uma política efectiva, à altura
das enormes necessidades existentes, de restauro, salvaguarda e
reabilitação de monumentos, edifícios e espaços.
As prioridades programáticas do Ministério (merecedoras de todo
o aplauso) de democratizar e de descentralizar aparecem hoje
esvaziadas e distantes face a uma orientação onde prevalece de
forma crescente o compadrio e a propaganda, a tentativa de
criação e fidelização de clientelas, a promiscuidade entre o
PS e o Governo. Esta orientação (seguindo também aqui, as
pisadas do cavaquismo) emerge em paralelo com o projecto do PS de
instrumentalização da área da cultura, já anunciado
publicamente (ver O Independente de 3/11/97) por dois
ministros: o do aparelho, Jorge Coelho, e o da
Cultura.
Vai por mau caminho o Ministério da Cultura do Governo PS. Das
expectativas que inicialmente suscitou e, até, justificou, não
pode dizer-se que hoje reste muito. Enredado em contradições
das quais o PS, quando sai, sai pela direita, já não haverá,
provavelmente muito de positivo a esperar. Avizinha-se, aliás um
significativo teste: o das quotas na exibição cinematográfica,
com uma reserva de 25% para a produção europeia. É uma medida
positiva, que previsivelmente terá a oposição das
distribuidoras que controlam, quase em termos de monopólio, a
distribuição. Logo se verá se o Ministério da Cultura
prevalece sobre a Lusomundo ou se, como vem sucedendo
sistematicamente, o poder económico prevalece sobre o poder
político.
O Seminário sobre O Socialismo no limiar do século
XXI realizou-se em Havana de
21 a 23 de Outubro.
Foi promovido pelo Partido Comunista de Cuba no marco do vasto
conjunto de
iniciativas em homenagem a Ernesto Che Guevara pelo 30º
aniversário da sua morte.
Este Seminário contou com a presença de cerca de 200
participantes em
representação de 97 partidos e movimentos, provenientes
sobretudo da América
Latina, mas também da América do Norte e Europa e ainda (em
número muito mais
reduzido) da África e Ásia.
O Seminário realizou-se nas excelentes instalações do Palácio
das Convenções.
Após uma sessão plenária de boas vindas e abertura - em que o
camarada José
Ramon Ballaguer, membro do Bureau Político do PC Cuba, leu a
contribuição cubana
-, o Seminário desenvolveu-se por três secções em que, para
além de numerosas
intervenções previamente preparadas, foram possíveis breves
trocas de pontos de
vista.
Foram os seguintes os temas das secções:
1) Realidades do socialismo contemporâneo;
2) Vigência do pensamento marxista e leninista e os marxistas
contemporâneos;
3) O imperialismo e a actualidade.
Na sessão plenária final foram feitos breves resumos dos
debates nas secções, todos
eles confirmando a actualidade do pensamento marxista-leninista e
a exigência da
transformação socialista da sociedade.
Não houve conclusões finais.
O Partido Comunista Português esteve representado pelo camarada
Albano Nunes,
membro do Secretariado do Comité Central e responsável pela
Secção Internacional,
que participou nos trabalhos da 2ª secção e que leu a
intervenção que publicamos.
Queremos antes de mais agradecer aos camaradas cubanos o convite
ao Partido
Comunista Português para participar neste Debate Internacional
sobre O Socialismo e o
Século XXI.
O tema proposto é extraordinariamente vasto e complexo, mas de
flagrante actualidade.
Participamos com a convicção de que ele propiciará um útil
intercâmbio de experiências e
reflexões e contribuirá para o fortalecimento dos laços de
cooperação e solidariedade
internacionalista, particularmente necessário nas condições de
globalização do grande
capital.
Com a nossa presença associamo-nos também às homenagens do
povo cubano a essa
grande figura de comunista e de revolucionário que foi Ernesto
Che Guevara. E
testemunhamos a fraternal solidariedade dos comunistas
portugueses para com um partido
e um povo que, enfrentando com dignidade e determinação o
criminoso bloqueio imposto
pelos EUA, persistem corajosamente no rumo socialista da sua
revolução.
1. Com esta breve contribuição apenas pretendemos tocar algumas
questões básicas, por
ventura elementares, mas que por isso mesmo
consideramos importante precisar.
Começamos com a avaliação do século XX que agora termina,
porque uma tal avaliação
determina em medida fundamental os objectivos que apontamos e as
perspectivas que
desenhamos quanto à luta libertadora dos trabalhadores e dos
povos neste limiar do século
XXI.&127
É uma realidade que, com referência à avaliação dominante no
movimento comunista
algumas décadas atrás, o processo de edificação da nova
sociedade se revelou mais difícil,
complexo e demorado que o previsto e que o capitalismo revelou
uma inesperada
capacidade de resistência, adaptação e mesmo de recuperação.
Tudo isto coloca a
necessidade de reexaminar o caminho percorrido assim como muitas
questões relativas à
teoria e à prática do socialismo que, sem fundamento
suficiente, haviam sido dadas como
adquiridas.
Nada autoriza porém a pôr em causa a realidade - como põe um
revisionismo histórico
oportunista - de que no século XX se verificaram grandes
avanços no processo de libertação
social e humana e que, a partir da revolução de Outubro de 1917
tiveram (e estão a ter)
lugar tentativas e experiências valiosas tendo como orientação
e objectivo a construção do
socialismo.
Ao contrário do que pretendem os ideólogos do capitalismo, o
desaparecimento da URSS e
as derrotas do so-cialismo no Leste da Europa não representam o
fracasso do ideal
comunista mas o fracasso de um modelo historicamente
configurado que se afastou do
ideal comunista em aspectos essenciais relativos ao poder
político, à democracia
participativa, às estruturas sócio-económicas, ao papel do
Partido, à teoria, contrariando
características fundamentais de uma sociedade socialista sempre
proclamadas pelos
comunistas.
Como afirmámos no nosso XIV Congresso, o século XX
passará à história não como o
século da morte do comunismo mas como o século em
que o comunismo nasceu como
concretização de um projecto alternativo ao capitalismo e como
solução historicamente
necessária das suas contradições.
2. A identificação dos traços e características actuais do
sistema mundial capitalista reveste-
se da maior importância para o acerto na definição das tarefas
que hoje se colocam aos
comunistas e outras forças revolucionárias e progressistas.
Desde o tempo em que Marx e Engels fundamentaram cientificamente
o carácter
necessariamente transitório do capitalismo e em que Lénine
conduziu a primeira revolução
socialista vitoriosa, o capitalismo conheceu profundas mudanças.
É entretanto uma
evidência que a sua natureza exploradora, opressora e agressiva
não se alterou, mantendo-
se por isso as razões para a continuação da luta por uma nova
sociedade mais livre, mais
justa e mais humana, finalmente livre da exploração do homem
pelo homem, a sociedade
socialista.
Na fase actual do capitalismo monopolista de estado,
crescentemente transnacional, o
capitalismo não só confirma a sua incapacidade para dar
resposta aos problemas dos
trabalhadores e dos povos como conduz ao seu brutal agravamento.
Por toda a parte, nos
países capitalistas desenvolvidos como nos países do chamado
Terceiro Mundo, assiste-se
a uma polarização riqueza/miséria sem precedentes, a um
insuportável aumento das
injustiças e desigualdades sociais, à precarização crescente
do trabalho e da existência para
a grande maioria, ao desmantelamento sistemático de conquistas e
direitos alcançados pela
luta de gerações - económicas, sociais, políticos, culturais,
nacionais - que configuram uma
autêntica regressão civilizacional.
Desenvolve-se o militarismo. Intensificam-se as ingerências e
agressões do imperialismo
contra povos soberanos. Delapidam-se os recursos naturais e
cresce o perigo de catástrofes
ambientais. É flagrante a contradição entre as
extraordinárias potencialidades criadas pelas
conquistas da ciência e da técnica para solucionar os grandes
problemas do nosso tempo e
o seu efectivo agravamento.
O Horror Económico que aí está tem responsáveis.
É inseparável do poder económico e
político dos grande grupos económicos e financeiros multi e
transnacionais. Grupos que se
apropriam das grandes conquistas da revolução científica e
técnica em prejuízo e em
contradição com o interesse social geral. Grupos cada vez mais
poderosos e tentaculares
em resultado do acelerado processo de concentração e
centralização do capital conduzido
por governos e instituições internacionais que dominam. Grupos
que, na ânsia do lucro e da
acumulação, intensificam a exploração do trabalho assalariado
e desenvolvem a esfera
financeira e especulativa em detrimento do investimento
produtivo, gerador de emprego e
riqueza.
O capitalismo, que há muito já constituía um obstáculo ao
progresso social, tornou-se nos
nossos dias uma ameaça para a própria civilização humana.
Verifica-se assim que os interesses da classe operária e dos
trabalhadores assalariados na
luta pela abolição da exploração do capital coincidem com os
interesses gerais da
humanidade.
Desmentindo os apologetas do capitalismo como sistema
historicamente terminal e forma
superior de civilização humana, verifica-se que neste limiar do
século XXI existem não
menos mas mais razões para rejeitar e combater o sistema e
prosseguir com confiança a
luta pela sua superação revolucionária, pelo socialismo.
3. Embora num quadro de atrasos e dificuldades, em boa medida
determinados pelo
enfraquecimento das forças revolucionárias e progressistas e
das organizações de classe
dos trabalhadores, pode dizer-se que em todo o mundo se
desenvolve, sob as mais diversas
formas e com as mais variadas motivações e objectivos, a
resistência e a luta popular.
O PCP valoriza muito esta realidade que desmente os profetas do
conformismo e da
impotência e confirma que, mesmo nas condições mais adversas,
os trabalhadores e os
povos não cruzam os braços, não se rendem, não se submetem.
Naturalmente que em geral
se trata de lutas por objectivos parciais, limitados, não
directamente políticos e muito menos
revolucionários. Mas que só um profundo desprezo pelas massas e
pelo papel decisivo da
acção das massas no processo de transformação social pode
conduzir a minimizar. A
experiência histórica mostra que entre a luta social e a luta
política, a luta por objectivos
parciais concretos ou por uma alternativa global, a
luta por melhorias e reformas no quadro
do sistema ou pela sua superação revolucionária, não existe
nenhuma muralha da China.
Pelo contrário, trata-se de realidades complementares e
indissociáveis. Desde que,
evidentemente, se não confine a luta aos limites consentidos
pelo capitalismo, e não se
perca nunca de vista a perspectiva de ruptura revolucionária com
o sistema, desde logo no
que respeita à questão central do poder.
Para o PCP o caminho da revolução é o caminho das massas, da
sua organização e da sua
mobilização para a luta. Desde logo no plano de cada país. A
nosso ver o espaço nacional
continua a ser marco decisivo e incontornável da luta de
classes. A própria luta em defesa
da independência e soberania nacional ganha maior importância
na actualidade.
Simultaneamente é necessário fortalecer os laços de
cooperação e solidariedade
internacionalista dos povos, dos trabalhadores, dos comunistas e
dos progressistas de todo o
mundo. Há problemas comuns que exigem uma resposta em comum. Os
próprios processos
objectivos de internacionalização, de cooperação e
integração, de divisão internacional do
trabalho, conduziram a uma mais estreita interdependência dos
povos e da sua luta. A
dialéctica dos factores nacionais e internacionais ganhou maior
importância.
O desenvolvimento da acção comum ou convergente das forças do
progresso social é
desde logo indispensável para fazer frente à ofensiva global e
planetária do imperialismo e
às tentativas de imposição de uma nova ordem
totalitária. Daí a importância que
atribuímos ao processo de cooperação de forças de esquerda e
progressistas na Europa
frente a uma União Europeia dominada pelas grandes potências e
pelo grande capital, e
que, entre outros, teve no Comício de 24 de Maio em Lisboa um
momento de massas muito
significativo. Daí a nossa solidária participação no processo
do Forum de São Paulo. Daí a
nossa valorização de iniciativas multilaterais que, como este
Debate, contribuem para
melhorar o conhecimento e a compreensão e tecer relações de
solidariedade
internacionalista.
4. A luta pelo socialismo assume em cada país, antes e depois da
conquista do poder pelas
forças revolucionárias, formas necessariamente diversificados.
Não há nem pode haver
modelos de revolução.
Diferenças no grau de desenvolvimento económico, na arrumação
das forças sociais, nas
tradições e na cultura, nas características da vanguarda
revolucionária, no enquadramento
externo entre outras, determinam que assim seja. Isto para além
da própria dinâmica do
processo revolucionário em que a energia e a criatividade das
massas se manifesta
exuberante. Sabemos que assim é por experiência própria com a
revolução do 25 de Abril
de 1974. Vemo-lo na extraordinária experiência acumulada pelo
movimento comunista e
revolucionário, em que é oportuno destacar a profunda
originalidade e criatividade da
revolução cubana, incluindo hoje nas condições do
período especial, explorando novos
caminhos e persistindo na opção socialista da sua revolução.
Vemo-lo ainda nas
consequências negativas que resultaram, por cópia ou
exportação, da transplantação
mecânica de soluções e experiências alheias, erigidas em
receitas de valor universal quanto
a vias de revolução e modelos de sociedade.
Hoje tudo isto é mais claro do que décadas atrás.
80 anos passados sobre a primeira revolução proletária
vitoriosa, no findar de um século
que, não obstante as dramáticas derrotas do socialismo,
representou grandes avanços no
processo de libertação social e humana - dispomos de um
património de experiências
riquíssimo cujo conhecimento e assimilação é da maior
importância para prosseguir com
maior segurança a luta por uma sociedade nova.
O leque de questões a exigir investigação, exame e certamente
também experimentação, é
muito amplo. Por exemplo: as que se relacionam com a edificação
de sociedades socialistas
nas condições de competição e confronto com o capitalismo,
aliás mundialmente
hegemónico nos planos económico e ideológico; a natureza do
socialismo como período de
transição entre o capitalismo e o comunismo, questão que se
perdeu de vista durante muito
tempo; soluções que, após milénios de sociedades baseadas na
exploração e opressão de
classe, estimulem uma superior produtividade do trabalho; a
construção de sistemas de
poder popular que garantam a democracia directa e participativa e
assegurem o controle
efectivo do exercício do poder a todos os níveis de forma a
impedir deformações e abusos.
Poderiam formular-se muitas outras. De qualquer modo uma
conclusão se tem de dar
necessariamente por adquirida: a nova sociedade só pode ser
construída pela acção
revolucionária e o empenhamento consciente e criativo das
massas, nunca apenas em seu
nome ou sem o seu empenhamento e muito menos contra a sua
vontade. É assim que na
concepção programática do PCP socialismo e democracia
(considerada não em termos
formais mas nas suas múltiplas vertentes - económica, social,
política e cultural) são
inseparáveis.
5. A terminar, duas palavras sobre o PCP.
Com as derrotas do socialismo na URSS e Leste da Europa foi
desencadeado uma
formidável ofensiva ideológica visando o enfraquecimento,
diluição, degenerescência ou
liquidação dos partidos comunistas e outras forças
revolucionárias tendo como ideias
centrais o fracasso do socialismo, a falência
do marxismo-leninismo, o declínio
irreversível do movimento comunista, etc..
Logo no seu XIII Congresso Extraordinário (Maio de 1990) e
posteriormente nos seus XIV e
XV Congressos (Dezembro de 92 e 96), o PCP deu uma resposta muito
clara a tais
campanhas confirmando e renovando a identidade comunista do PCP.
Identidade que se
traduz fundamentalmente na natureza de classe do partido, no
objectivo do socialismo, na
teoria revolucionária que o inspira, numa concepção e numa
prática de estrutura e
funcionamento democrático que asseguram a sua unidade e
capacidade de intervenção, na
ligação estreita e indissolúvel à classe operária e às
massas, no seu patriotismo e
internacionalismo. É afirmando a sua independência e autonomia
política e ideológica e a
sua identidade que o PCP desenvolve a sua acção.
Sem dúvida que não temos vivido em Portugal tempos fáceis. O
processo de recuperação
capitalista com a reconstituição do poder económico e
político dos monopólios que a
revolução de Abril liquidara, a desfavorável evolução
mundial, o processo de integração de
Portugal na União Europeia, nomeadamente com as suas nefastas
imposições
supranacionais e políticas neoliberais; o empobrecimento da
democracia; transformações e
mutações do aparelho produtivo que afectaram a base social de
apoio do partido - pesaram
negativamente na evolução da influência orgânica, política e
eleitoral do PCP. Mas, ao
contrário dos que profetizavam o declínio irreversível
do PCP o nosso partido continua
profundamente enraizado no povo, está unido, conta com um forte
colectivo de 140.000
membros, exerce uma influência determinante no movimento
sindical e outras organizações
unitárias de massas, mantém sólidas posições no plano
institucional, com destaque para o
poder local democrático.
Na luta em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do
País, na firme oposição à
política de direita do actual Governo do Partido Socialista
(que, como a generalidade dos
partidos social-democratas, se rendeu ao neoliberalismo e aos
ditames do grande capital),
na procura de uma alternativa de esquerda para Portugal - o PCP
afirma-se como uma força
necessária e insubstituível que tem diante de si reais
perspectivas de fortalecimento. É que
sentimos nomeadamente em sectores cada vez mais largos da
juventude, junto de quem os
valores, os ideais, a coerência e seriedade dos comunistas
exercem crescente poder de
atracção.
Esta uma razão mais a reforçar a nossa confiança no futuro do
socialismo em Portugal e no
mundo.
Havana, Outubro de 1997