Alguns resultados das eleições




Pensou-se que seria possível publicar já neste número de O Militante os quadros gerais com os resultados por distritos e regiões autónomas e a sua comparação com os obtidos nas anteriores eleições autárquicas e nas últimas legislativas.
Tal como há quatro anos, temos de adiar para o próximo número a divulgação desses
quadros porque nem os resultados provisórios estão disponíveis na altura em que isto se escreve e já se vai adiar de uma semana a saída deste número.
Publicamos, por isso, somente dois quadros, como também se fez no início de 94. O primeiro, com o número de mandatos obtidos por cada partido e coligação para as
Assembleias de Freguesia, Presidências de Junta de Freguesia, Assembleias Municipais, Câmaras Municipais e Presidências de Câmara Municipal. O segundo, com os números de votos e as percentagens para as Assembleias Municipais, as Câmaras Municipais e as Assembleias de Freguesia referentes a todos os partidos e coligações. Juntamos para comparação os resultados de 93 dos votos para as Assembleias Municipais e dos mandatos, publicados há quatro anos em O Militante.
A origem dos números de 97 é o STAPE (Secretariado Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral), dia 22/12, pelas 13h20.

Números de mandatos

Em relação às Presidências de Câmara, a CDU perdeu 12 - 11 para o PS e uma para o PSD, Silves. E conquistou quatro - três ao PS e uma ao PSD. Ficou com menos oito.
O PS ganhou 27 Câmaras - 14 ao PSD, 11 à CDU e duas ao PP. Mas perdeu 26 - 23 para o PSD e três para a CDU.
O PSD conseguiu 26 novas Câmaras, 23 que eram do PS, duas do PP e uma da CDU. E perdeu 15, sendo 14 para o PS e uma para a CDU. No final ficou com mais 11 Câmaras; foi a força política que aumentou mais o número de Câmaras.
O CDS/PP não ganhou nenhuma nova Câmara e perdeu cinco, duas para o PS, uma para o PSD e uma para o PPM, que ficou com uma Câmara, Penalva do Castelo.
No que respeita aos mandatos nas Câmaras Municipais, a CDU, sem contar com as
coligações em que participou, perdeu somente dez. O PS é que aumenta mais o número de mandatos, o PSD terá ganho um pequeno número e o CDS/PP perde à volta de 50.
Nos mandatos nas Assembleias Municipais, a CDU terá ficado com menos cinco, sem contar com as coligações com outros partidos. O PSD perdeu nitidamente mais e o CDS ainda mais. O PS aumentou cerca de 170 o número de mandatos.
Quanto ao número de Presidentes de Junta de Freguesia, a CDU passou de 316 para 279, sem falar nas coligações em que a CDU entrou. O PSD deve ter perdido mais de 30 e o CDS perto de 80. O PS ganhou cerca de 150.
Finalmente, nos mandatos nas Assembleias de Freguesia, os dados actuais, que não são definitivos, apontam para uma pequena perda da CDU, possivelmente 17 (em 2 747), sem contar com o que sucedeu nas outras coligações, o PS conseguiu aumentar mais de mil, o PSD diminuiu duas ou três centenas e o CDS/PP talvez mais de 600.
A distribuição de algumas dezenas destes mandatos por outros partidos e coligações encontra-se também no quadro junto, no qual se destacam os números referentes a muito diversos Grupos de Cidadãos, que, este ano, atingiram mais 50 Presidências de Junta de Freguesia (total 199) e mais 360 mandatos nas Assembleias de Freguesia (total 1594).


Números de votantes

Em relação aos números globais, pode dizer-se que a principal modificação surge nas abstenções. Embora o número de inscritos tenha aumentado, nos últimos quatro anos, de perto de 400 mil votos, o número de votantes desceu mais de 40 mil. Mesmo supondo que a abstenção vai subindo todos os anos somente por causa da não eliminação de muitos que morreram ou que se inscreveram em outra freguesia sem eliminar a anterior inscrição, não pode haver dúvida que, nas eleições deste ano, a abstenção foi maior. E importa salientar este dado, porquanto, normalmente, as eleições autárquicas são menos concorridas do que as legislativas e também porque os votantes em 1993 tinham sido em maior número do que quatro anos antes.
No que respeita aos votantes, foi o PS que obteve o melhor resultado, aumentando a sua votação e a percentagem em relação a 93 (ter em conta uma sua parte na coligação de Lisboa, que em 93 abrangia o PSR; as outras duas coligações que, nesse ano, juntam o PS com o PCP e o PEV, referem-se a eleições em concelhos dos Açores, Ponta Delgada e Corvo). Mas o PS fica distante não só do número de votantes nas legislativas de 95, sem contar com a emigração (2 567 mil), como da sua percentagem (43,8%). Por isso Guterres não conseguiu, ao conhecer os resultados, esconder a sua decepção.
O PSD, mesmo tendo em conta a sua participação em coligações, perde votos (cerca de 100 mil) em relação a 93 e nitidamente mais em relação a 95, em que teve quase 2 milhões de votos.
O CDS/PP tem um resultado para as Assembleias Municipais muito superior aos outros dois resultados (diferenças da ordem dos cem mil votos). Com o resultado nas Assembleias Municipais, tendo em conta as coligações em que participou, a sua descida pode ter sido muito reduzida. Mas desceu muito, mais de cem mil votos, nas eleições para as Câmaras Municipais e para as Assembleias de Freguesia. E em relação às legislativas, em que obteve 532 mil votos, a descida é ainda maior.
Quanto à CDU há um decréscimo de votação de quase 37 mil votos que pode ser um pouco superior tendo em conta uma possível diminuição da votação da coligação “Mais Lisboa”. Percentualmente deve ter perdido pouco mais de 0,5 pontos. Em relação às legislativas, em que teve 503 mil votos e 8,6%, a subida é muito grande. Mas é preciso ter presente que a nossa votação nas autárquicas e, especialmente, a sua percentagem, são normalmente mais elevadas.
Apesar do Partido considerar, com toda a razão, que o resultado global foi negativo para a CDU, devemos reter que o prestígio da CDU nas autarquias é muito grande e assenta no trabalho, na honestidade e na competência com que desenvolve a sua actividade. Analistas que nada têm com a CDU afirmam-no claramente. É isso que principalmente explica a maior votação que a CDU tem nas eleições autárquicas. Mas na luta que se trava, em que vale quase tudo, a começar pela interferência directa do poder, é natural que uma força política que se nega a seguir o caminho da política-espectáculo, da política assente no dinheiro, nas promessas impossíveis, na mentira e nas calúnias seja algo penalizada.
Isto não significa que não haja necessidade de melhorar a actividade nas autarquias e principalmente atender a aspectos que podem ter sido descurados.


«O Militante» Nº 232 - Janeiro / Fevereiro - 1998