1998 - Uma batalha para o fortalecimento do Partido
As eleições autárquicas foram analisadas logo
no dia 16 de Dezembro pelo Comité Central. Os
resultados foram classificados, globalmente, como negativos. Mas,
como é natural, as situações são muito diferentes consoante
os concelhos, consoante as freguesias. E não há só maus
resultados. Há também muitos resultados bons.
O Comunicado aprovado pelo Comité Central, que
publicamos em documentos, faz uma avaliação esclarecedora da
situação actual, dos factores que tiveram maior importância
nos resultados obtidos, da apreciação enganadora que certa
comunicação social faz das perdas da CDU, da necessidade de
aprofundar o debate e de preparar o trabalho a realizar no ano
que agora começou. Publicamos ainda dois artigos sobre as
eleições.
A discussão sobre as razões do resultado global e de cada um
dos resultados apontará sempre para questões que não podemos
dominar e para outras que nos cabem mais directamente. Mas mesmo
em relação às primeiras temos de as ter em conta e algumas
medidas tomar.
Temos de ter em conta as modificações da composição
social em muitos concelhos, produto ou de uma evolução
natural, ou de uma desindustrialização que atinge algumas zonas
do País (ou industrialização em poucos casos), ou da
deslocação de muitos para as cidades, para zonas de maior
desenvolvimento. Os chamados dormitórios obrigam a
que consideremos as melhores formas de conseguir chegar até
àqueles que os habitam.
Temos de ter em conta a influência da comunicação social dominante,
e particularmente de alguns dos seus analistas, que
tudo fazem para, de forma mais habilidosa ou mais grosseira,
pregar a bipolarização e atingir-nos de qualquer modo. Há
possibilidades de contrariar esta situação e de reagirmos
melhor.
Temos de ter em conta que a governamentalização das
eleições atingiu niveis cada vez mais elevados. O próprio
primeiro-ministro faz apelo ao voto no PS à saída de uma
entrevista com o Presidente da República. Os governadores civis
distribuem cheques por colectividades e já nem pedem recibo.
Governantes diversos prometem e combinam favores se o PS ganhar.
Querem tornar ainda mais geral a sensação de que só os eleitos
amigos do Governo é que comem.
Por outro lado, quem tem dinheiro compra votos, através de
almoços, lanches e jantares para quem quiser comer e muitas
outras formas mais encobertas. Candidatos prometem facilidades
cativantes e até coisas impossíveis no caso de serem eleitos.
Tem de se desmascarar muito mais estes processos, dos
governantes, do dinheiro, das promessas, que inquinam
profundamente a seriedade das eleições e que se juntam às
ameaças e às prepotências dos pequenos e grandes ditadores que
continuam a mandar em regiões e outras zonas deste Portugal, que
já não se pode considerar que é de Abril.
É natural que a governamentalização das eleições tenha
podido conter de alguma forma as desilusões que as promessas
não cumpridas do PS criaram em muitos dos seus apoiantes em
Outubro de 1995. Também é possível que o aumento da
abstenção tenha sido uma forma de protesto. Mas o percurso que
o PS tem escolhido para governar vai continuar a criar-lhe
dificuldades.
As movimentações que têm tido lugar e que mobilizam
sectores tão diferentes - operários e outros trabalhadores,
agricultores, reformados, estudantes, professores, médicos,
função pública em geral, populações carenciadas e outros -
não vão diminuir. Este socialismo neoliberal de
Guterres não pode ter futuro.
A remodelação do Governo, que teve lugar em virtude da
demissão do ministro número dois, nem foi simples nem resolveu
dificuldades internas que se tornaram mais patentes com algumas
saídas. A chamada de um antigo ministro do fascismo para dirigir
a Defesa Nacional é um verdadeiro castigo aos militares de
Abril. E o comportamento do ministro que se demitiu e que, por
isso, foi muito aplaudido, como se se tratasse de uma novidade
ser-se sério, no fim de contas, até o foi pouco pois, na
própria explicação que deu na Assembleia da República, faltou
à verdade (ver Público, 27/11/97)
Entre as razões que nos compete dominar melhor há que dar
saliência às deficiências existentes em muito diversos
aspectos do trabalho do Partido, em geral, e dos seus eleitos.
Tem de se compreender melhor que a obra realizada é muito
importante mas tem de ser acompanhada de uma informação mais
cuidada e atempada e, especialmente, de uma ligação mais
estreita com as populações, algumas das quais (as dos
dormitórios, por exemplo) nem têm, muitas vezes,
ocasião de se aperceberem do que foi realizado.
A audição constante das populações permite mais facilmente ir
ao encontro das suas
necessidades, das suas reivindicações, as quais, muitas vezes,
são até de pequena monta.
Sem diminuir a importância das obras de maior folgo, é
indispensável acompanhar a
resolução rápida das pequenas questões.
A informação, a comunicação e o atendimento
da parte dos eleitos em relação às
populações são questões de grande importância que têm de
ser analisadas, acompanhadas e bem resolvidas. A CDU tem
excelentes exemplos a este respeito.
Quanto ao próprio Partido é necessário tratar incansavelmente
de duas questões principais: o reforço das diversas
organizações e uma sua maior ligação aos que labutam e vivem
na área da sua acção.
No que se refere à organização, continua a ter de ser uma
grande preocupação a elevação da militância, o
aumento do recrutamento e um melhor acompanhamento das organizações
de base, questões particularmente salientadas no XV Congresso do Partido.
A organização do Partido tem de assentar numa estrutura capaz
de enquadrar um maior número dos seus membros, através da
constituição de organismos com objectivos bem definidos e com
reuniões regulares.
E cada membro do Partido deve considerar-se mobilizado para uma
tarefa muito simples e básica. É o contacto com os seus
companheiros de trabalho, com os seus vizinhos, com os seus
conhecidos, de modo a poder esclarecer e influenciar.
Aqueles que consideram que os que não são comunistas não
prestam demitem-se de qualquer esclarecimento e influência. Não
podem, nas suas reuniões regulares, contar alguma coisa sobre a
sua tarefa.
Uma organização desorganizada não tem qualquer força, não
tem préstimo algum. Uma organização isolada, sectária, não
desenvolve qualquer actividade nas diversas camadas da
população, não influencia ninguém. E é necessário ter
presente que a nossa inserção na sociedade tem de ter hoje em
conta as diversas camadas antimonopolistas, tem de as conhecer
bem e exercer influência sobre todas elas.
Uma importante batalha pelo fortalecimento do Partido tem de
ser levada a cabo durante todo este ano.
Saudação
Mais uma vez, no início de um novo ano, O
Militante dirige a todos os seus leitores
um voto de bom futuro. Um ano que tem de ser de grande actividade
para o fortalecimento do Partido, para o alargamento e a
intensificação das lutas reivindicativas dos trabalhadores e
das outras camadas antimonopolistas, para o desenvolvimento da
acção em defesa dos
direitos sociais e políticos.
O Militante, que se
apresenta, neste primeiro número do ano, com um grafismo
nitidamente diferente e um conteúdo com alguma novidade,
continua a estar atento à ajuda que lhe pode ser dada pelos seus
leitores e amigos, de quem depende também a elevação da sua
qualidade e da sua divulgação.