Contra o capitalismo 1?
O actual PS é um dos partidos chamados socialistas (e outros que
têm também nomes mais ou menos enganadores) que seguem as novas
concepções neoliberais e fazem da globalização um objectivo a
atingir.
Esta prática que caracteriza o capitalismo
actual e se vai estendendo pelo mundo ofende de tal modo o
trabalho, a justiça social, a solidariedade entre os homens que
não podemos ficar admirados que mesmo personalidades com
percursos muito negativos possam levantar uma voz crítica a
respeito da situação muito geral que actualmente vivemos. Pode
ser que se trate simplesmente de vozes sem correspondência nem
com a acção nem com o conjunto do pensamento próprio. Apesar
de tudo, importa referi-las porque podem ter algum papel junto
daqueles que alimentam preconceitos contra a esquerda, contra o
socialismo, contra os comunistas.
Na conferência inaugural do Fórum Vilamoura, promovido pelo
Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, Mário
Soares afirmou que um capitalismo "sem pátria e sem
valores" está a tomar conta do mundo. É uma verdade dita
por quem meteu, segundo confessou, o socialismo na gaveta. E
quando se mete o socialismo na gaveta é claro que se defende o
capitalismo. O capitalismo que deu "nisto"...
Mário Soares classificou a situação como
"um monstro criado pelo neoliberalismo e pela
globalização, do qual nem os seus únicos beneficiários até
agora, os EUA, poderão, no futuro, ser capazes de se
defender". E chamou a atenção para a "fase
preversa" do capitalismo actual, que já não é dominado
por industriais criadores de riqueza e de postos de trabalho, mas
sim por financeiros e especuladores.
E, embora defenda a economia de mercado e proponha como
alternativa a preservação do modelo social europeu, como se na
Europa não se estivesse a desenvolver cada vez mais o
neoliberalismo, salienta que "o mercado se está, a
transformar numa teologia, como se fosse algo de sagrado,
intocável".(D.N., 25/9/97)
«O Militante» Nº 231 de Novembro/Dezembro de 1997