Quantos
Saleiros haverá no País
a enriquecer à custa de falcatruas?
O Público (8/10/97) traça numa das suas páginas, sob
o título Saleiro a todo o gás, uma curiosa
história sobre os negócios no mundo dos combustíveis de António
Saleiro, Presidente da C. M. de Almodôvar entre 1983 e 95 e
actual Governador Civil de Beja, dirigente socialista neste
distrito.
Segundo o artigo publicado, na base de uma empresa em nome individual - MJ Saleiro -, fundada pela mulher em 1988, A. Saleiro tem conseguido evitar a instalação de qualquer concorrente num território equivalente ao da ilha da Madeira e alargou, nos últimos três anos, a sua influência ao Algarve.
Inicialmente, a actividade daquela empresa resumia-se a uma pequena bomba de gasóleo para a lavoura. Os bons contactos que mantinha com a Petrogal permitiram que A. Saleiro ficasse com o único posto de gasolina e gasóleo do concelho. Em escassos cinco ou seis anos acumulou um património notável, incluindo casas em Vilamoura e Lisboa, um avião e um iate, e amealhou 92 mil contos em depósitos a prazo, de acordo com as suas declarações ao Tribunal Constitucional em 1995.
A. Saleiro conseguiu afastar a instalação de concorrentes ao seu negócio de combustíveis em todo o concelho por processos em que ressaltam as suas boas relações com a Petrogal, o seu domínio na Câmara de Almodôvar e, também, a sua falta de escrúpulos.
Depois alargou a sua acção para São Marcos da Serra e Vilamoura. E tentou ainda, (pela mão de Roque Lino, que era advogado da Câmara de Almodôvar e presidia (então, em 1992) aos serviços municipalizados (SMAS) de Loures, tornar-se o único fornecedor de combustíveis àqueles serviços. Não o conseguiu neste caso, mas A. Saleiro é fornecedor de combustíveis a diversas autarquias e tenta, actualmente, substituir a Petrogal nos fornecimentos à Somincor.
É natural que se pergunte: Como é que um
fulano que tem na sua biografia um comportamento destes consegue
ser eleito vezes sucessivas para dirigir uma Câmara? É, na
verdade estranho, mas é necessário lembrar que, infelizmente,
não é caso único. Há muitos, muitos outros exemplos e para
cargos mais elevados e responsáveis. E esses exemplos,
negativos, claro, somam-se à ignorância, que atinge uma grande
percentagem da população particularmente em certas zonas, ao
receio e à submissão ante os poderosos e os que vencem na
vida (sem olhar a meios), à falta de uma cultura
verdadeiramente democrática, tão esmagada durante o fascismo e
que desde 75 tem sido crescentemente combatida. Tudo isso leva a
situações como esta... e tantas outras.
«O Militante» Nº 231 de Novembro/Dezembro de 1997