Alguns comem e outros cheiram
O actual Presidente da Câmara de Penalva do Castelo, eleito pelo
PP, decidiu passar-se para o PS e ser candidato nas próximas
eleições. Ao pretender dar uma explicação para tal mudança,
não mediu bem as palavras e afirmou que quem é afecto ao
poder, come, quem não o é, cheira.
Tal ingenuidade saiu-lhe cara - deixou de ser candidato do PS. Foi uma crítica demasiado clara aos costumes democráticos que foram sendo criados e consolidados desde o primeiro Governo PS, em 76.
Mas a verdade é que tais costumes estão
tão enraizados que a comunicação social está constantemente a
fazer-lhes referência, explícita ou implícita.
É certo que há exemplos, que não são poucos e ao longo dos
anos, de solicitações ou reivindicações de câmaras, não
afectas ao Governo, que conseguem ter deste respostas positivas.
Mas tais câmaras têm de lutar mais e muito mais para
conseguirem o que pretendem.
Com o Governo PS já se chegou ao cúmulo de cedências a reivindicações de algumas câmaras serem transmitidas à população, não pela Câmara mas pelo dirigente concelhio do PS. Ainda recentemente, numa Assembleia Municipal, o dirigente do PS nessa assembleia se prontificava a levar para o Governo um plano ou relatório cujo envio, evidentemente, pertencia à Câmara.
Dois exemplos retirados da comunicação
social (itálicos nossos):
1 - Sobre a situação em Mourão no que respeita às eleições
autárquicas. O Presidente da Câmara é do PS. Diz o D.N.
(29/9/97): O autarca tem obra feita e as suas boas
relações com o Governo arrastaram para Mourão (...)
alguns programas de dinamização que aliviaram a crise social e
económica".
2 - Cravinho trava metro da Margem Sul (D.N.,
8/9/97).
Neste artigo compara-se a pressa com que o Governo quer resolver o problema do metro do Porto e a lentidão na resolução do Metro Ligeiro da Margem Sul do Tejo (MST). Informa-se que o anteprojecto do MST foi entregue em Abril e que o Ministério do Equipamento o remeteu ao Conselho Superior de Obras Públicas. Isto, dizem, é uma «manha política». O metro do Porto não teve anteprojecto e avançou-se logo para a fase de concurso (...). Se não se registasse esta «indecisão do Governo, em parte explicada pela cor política das autarquias envolvidas, (...)».
Mais adiante:
O projecto do MST ronda os 70
milhões de contos (...) os cálculos para o metro do Porto
ascendem a cerca de 130 milhões de contos. «Só por razões
políticas é que o projecto do MST está atrasado», dizem
(...).
«O Militante» Nº 231 de Novembro/Dezembro de 1997