Porque é jovem, Aveiro
é um Distrito com futuro!

Por Artur Ramísio
Membro do Secretariado da
Direcção da Organização Regional de Aveiro




O aumento progressivo da população residente (654.350 habitantes em 1991), faz de Aveiro um dos Distritos mais populosos do País. O envelhecimento natural da população é travado por uma das mais altas taxas de nascimento. Aveiro é um Distrito jovem, como o demonstra o facto de 39% da população ter menos de 25 anos.

É na frequência do Ensino Secundário que se encontra o maior número de jovens. Contudo, o Ensino Superior, público e privado, cujo número de estabelecimentos e capacidade tem vindo a aumentar, ocupa largos milhares de jovens oriundos de todo o País. Destaca-se a Universidade de Aveiro, já com perto de 8.000 alunos e ainda em expansão.

O grande peso dos jovens na população activa é também uma outra realidade a ter presente, dado que 27% dos trabalhadores por conta de outrem têm menos de 25 anos. É um número tanto mais relevante se relacionado com o facto de mais de metade da sua população activa pertencer ao sector secundário e mais de 80% desta estar empregada na indústria transformadora. Estes são apenas alguns dados muito gerais mas indispensáveis para qualquer tipo de análise e definição de orientações.

Um balanço positivo na superação de dificuldades

Em apontamentos de reuniões realizadas há cerca de cinco anos, sobre a situação da JCP no Distrito, constatavam-se grandes debilidades em praticamente todos os Concelhos e dificuldades em as superar. Mas também se apreciava que, de um modo geral, os jovens se vinham interessando mais pelos problemas sociais e políticos, registando-se mesmo uma aproximação aos ideais do Partido. Era então já nítida uma alteração no posicionamento de importantes sectores da juventude, durante alguns anos deliberadamente conduzidos ao egoísmo e à adopção de outros valores reaccionários. Concluía-se, por isso, que existiam condições para o recrutamento de jovens e para a criação ou reforço de núcleos da JCP.

Para tal, como condição fundamental para o aproveitamento das boas condições existentes, considerava-se a necessidade de um ou mais quadros a tempo inteiro ou parcial, em condições de estabilidade que até aí não tinham sido conseguidas.

Nos documentos da 3ª Assembleia da Organização Regional do Partido, realizada em Dezembro de 1994, já se faz o seguinte balanço: “A JCP ao longo dos últimos anos tem tido grande irregularidade organizativa e na sua intervenção, sobretudo por dificuldades ao nível dos quadros. Apesar disso, teve um papel fundamental no despoletar e na dinamização de diversas lutas estudantis. Verificou-se, igualmente, que, onde as organizações locais do Partido se preocuparam e tomaram medidas viradas para a juventude, não só a JCP se fortaleceu como foram levadas à prática importantes iniciativas no campo dos debates, da cultura e do convívio”.

O balanço hoje é mais positivo, podendo-se concluir que os objectivos orgânicos anteriormente considerados prioritários, no fundamental, estão atingidos.

Contando presentemente com 307 militantes, 56 dos quais recrutados desde Maio do corrente ano, a JCP tem a maioria dos seus efectivos no Secundário e só pouco mais de uma dezena no Ensino Superior. São poucos os jovens trabalhadores e trabalhadores-estudantes filiados na JCP.

Embora com estados de evolução e dinâmicas diferentes, há núcleos da JCP em Aveiro, Espinho, Feira, Ílhavo, Ovar e S. João da Madeira. Noutros Concelhos, (Águeda, Albergaria-a-Velha e Estarreja), apesar de não terem colectivos formados, existem jovens camaradas activos, o que é condição para, também aqui, a JCP poder vir a contar com colectivos vivos e intervenientes.

Este balanço, que o 5º Encontro Distrital da JCP, realizado no passado mês de Maio, sob o lema “Há 17 anos com os pés assentes na terra e os olhos nas estrelas”, justamente considerou como muito positivo, é o culminar de uma etapa preenchida com avanços e recuos, com sucessos e insucessos, com tentativas de organização que resultaram e com outras que falharam, com expectativas que muitas das vezes se goraram, com formas de intervir acertadas em muitas situações mas também com erros cometidos em várias outras ocasiões. Mas o resultado mostra com evidência que vale a pena correr riscos, ou melhor, que por vezes é mesmo necessário arriscar para romper com grandes dificuldades, seja em relação aos quadros, às formas organizativas ou de intervir. Importa, claro está, é colher sempre os ensinamentos das experiências positivas ou negativas.

Uma prioridade nas atenções das organizações do Partido

A JCP conta desde há cerca de três anos com um quadro subsidiado no Distrito, no fundamental em condições de desempenho estáveis, e presentemente, de um outro quadro subsidiado pela Direcção Regional do Partido para o trabalho eleitoral, mas que dedica uma grande parte do seu tempo ao trabalho da juventude. Mas se este aspecto continua a ser da máxima importância para o reforço orgânico e de intervenção da JCP, a intervenção do conjunto das organizações do Partido foi e continua a ser determinante.

É certo que por vezes ainda se subestima a capacidade dos jovens para determinadas tarefas mas, no fundamental, há hoje uma maior e crescente sensibilidade, no geral das Organizações do Partido, relativamente a esta área de organização e de acção dos comunistas.

A experiência no Distrito mostra à evidência esta realidade: onde as Organizações do Partido discutiram e tomaram medidas para alterar situações de grande debilidade ou mesmo de total inexistência de jovens comunistas, os resultados mais cedo ou mais tarde acabaram por aparecer. S. João da Madeira, Espinho, Aveiro, Ovar e Feira, são exemplos concretos de alterações profundas operadas tanto ao nível da JCP como do Partido. Hoje, não só já existem núcleos da JCP com bastante dinamismo como em qualquer destas Comissões Concelhias do Partido há jovens quadros da JCP.

Alguns exemplos que vale a pena salientar

Em Espinho um jovem mais empenhado fez o levantamento de filhos de membros do Partido (mas não só) e, de recrutamento em recrutamento, de reunião em reunião, de discussões e pequenos choques entre si, a organização foi crescendo em número e em actividade. Convívios abertos à participação de outros jovens, depois debates sobre temas ideológicos e outros, agora a responsabilidade de formação de listas para as Autárquicas, conduziram a que hoje haja uma organização forte e dinâmica.

É o exemplo de S. João da Madeira, onde desde há vários anos se vem multiplicando com muita regularidade a realização de debates públicos com dirigentes do Partido e da JCP, onde já se intervém e se obtêm vitórias no Movimento Associativo (MA) estudantil, onde a JCP, em parte resultante de um núcleo de Pioneiros e da atenção constante da Comissão Concelhia, já deu quadros de grande valor ao Partido.

É o exemplo de Aveiro, onde os convívios e os debates fazem parte da actividade regular da JCP, mas também onde a intervenção no MA ao nível do Ensino Secundário tem vindo a ser cada vez mais forte e empenhada (não só na altura das eleições mas também durante o ano lectivo), onde o conhecimento dos problemas, uma grande ligação aos jovens e uma boa perspectiva política tem dado à JCP o papel dinamizador e dirigente de fortes lutas estudantis.

É o exemplo da Feira, onde durante anos não se conseguiu recrutar jovens, mas que em torno da criação de um espaço para a juventude no Centro de Trabalho do Partido, se mobilizaram dezenas de jovens dos núcleos já existentes. Por este espaço de cultura, de convívio, de amizade e de camaradagem já passaram centenas de jovens, participando nos espectáculos musicais e nos debates políticos e temáticos que lá se levam a efeito. Agora a JCP já existe e na sede do Concelho é um jovem de 18 anos que encabeça a lista à Assembleia de Freguesia.

A intervenção dos jovens comunistas no movimento associativo e nas lutas estudantis

Sendo ainda muito reduzida a capacidade de intervenção da JCP no MA, há a registar que no ano lectivo 96/97 os jovens comunistas não só alargaram a intervenção a outros Concelhos além do de Aveiro, como conseguiram que quase todas as listas apoiadas pela JCP saíssem vitoriosas (três Associações de Estudantes em Aveiro sendo uma de trabalhadores-estudantes, uma em Ílhavo, outra em S. João da Madeira e outra ainda numa Escola Profissional de Espinho).

Tem muito a ver com este alargamento da intervenção e da influência da JCP no MA as grandes lutas que, em crescendo, quase todos os anos tem trazido às ruas os estudantes do Secundário e até mesmo do Superior. Lutas resultantes da correcta interpretação dos reais problemas dos estudantes para a definição de orientações reivindicativas justas e sentidas. Lutas em que se têm obtido importantes vitórias e onde se tem ganho consciência política e experiência revolucionária. Lutas que têm prestigiado a JCP, e que, esperamos, conduzam a novo reforço na intervenção associativa neste ano lectivo.

A Juventude nas eleições autárquicas

Embora na altura em que se escreve este artigo ainda se ultime a composição das listas para as eleições autárquicas, é nossa convicção que o balanço final no Distrito confirmará um salto qualitativo de grande significado. Trata-se não só de uma grande participação de jovens nas listas, muitos deles em lugares destacados e encabeçando mesmo listas para Assembleias Municipais e de Freguesia, mas também da responsabilidade atribuída a militantes da JCP na formação de listas.
Uma profunda renovação e rejuvenescimento das listas em vários Concelhos do Distrito, o romper com dificuldades crónicas em várias Freguesias é, no imediato, um primeiro resultado positivo obtido antes do dia das eleições, porque são portas que já se abriram para o futuro em várias localidades do Distrito.

Um melhor conhecimento dos problemas que mais directamente dizem respeito à juventude, novas formas de transmitir a mensagem, mais responsabilidades confiadas e o entusiasmo que os jovens trazem à campanha, são factores que permitem contribuir para um bom resultado para a CDU nas eleições de 14 de Dezembro.

Novas etapas...

Finalmente parece estarem criadas as condições para melhorar substancialmente a organização da JCP no Ensino Superior, até aqui extremamente débil e com um funcionamento bastante irregular.

Para além da dezena de militantes já existente, número que será superior porque haverá também jovens comunistas que vieram de outras regiões, há ainda o facto de, a partir deste ano, haver na Universidade de Aveiro quadros da JCP já experientes oriundos do Secundário, o que, à partida, constituem factores da maior importância para a organização e actividade da JCP no Ensino Superior em Aveiro.

...E prioridades de sempre

Por outro lado, o elevado número de jovens trabalhadores é uma realidade que tem de ser encarada na prática como uma das maiores prioridades na actividade do Partido. Há sectores de actividade dos mais importantes no Distrito, como os casos do calçado, do têxtil, da transformação de cortiça, ou grandes empresas com milhares de trabalhadores como a IASAK SALTANO, a PHILIPS, a ECCO ou a ROHDE, onde é difícil o Partido entrar ou reforçar-se sem medidas adequadas que levem ao recrutamento e organização dos jovens trabalhadores, porque são jovens os trabalhadores destes sectores e empresas.

Por parte da Direcção Regional já se procurou tomar algumas medidas nesta direcção, no sentido de corresponder melhor à natureza do Partido e às muitas orientações saídas de Conferências e Congressos.

Mas tais medidas são ainda claramente insuficientes. Daí a ideia de aprofundar a discussão desta questão após as eleições autárquicas, no quadro da previsível realização da 4ª Assembleia da Organização Regional de Aveiro


«O Militante» Nº 231 de Novembro/Dezembro de 1997