XIV
Festival Mundial
Momentos inesquecíveis!
Por João Frazão
Membro do Secretariado da Direcção Nacional da JCP
Por Paulo Raimundo
Membro da Comissão Política da JCP
Cerca de 12.500 jovens de mais de 2.000 organizações juvenis,
representando 132 países, juntaram-se, este verão, em Havana,
Cuba, no XIV Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes.
Oito anos após o Festival de Pyongyang (República Popular Democrática da Coreia) o grande sucesso deste XIV Festival imprimiu um novo impulso ao movimento que nasceu há 50 anos e que passou por cidades tão diferentes como Budapeste, Moscovo, Helsínquia ou Viena.
A participação neste Festival veio confirmar uma ideia que já se levava à partida. Se por mais não fosse, o simples encontro com milhares de jovens tão diferentes nas perspectivas e opiniões, na cultura e nos gostos, nas origens e na intervenção junto de outros, só por isto teria valido a pena. Mas o XIV Festival foi mais que um encontro de jovens de todo o mundo.
Realizado em condições díspares dos precedentes - desaparecimento da União Soviética e de outros países socialistas; tentativa imperialista de impor um mundo unipolar; crescimento da repressão e exploração dos povos e particularmente da Juventude; aumento do desemprego, do analfabetismo, dos cortes nos orçamentos para a educação e outras áreas sociais fundamentais; agravamento da pobreza e do fosso entre os mais ricos e os mais pobres; destruição do meio ambiente; alastrar da toxicodependência - este Festival assume-se como uma iniciativa de princípios, condena a política agressiva do imperialismo internacional e em especial do seu ponta de lança, os Estados Unidos, questiona a inevitabilidade do capitalismo, reclama unanimemente a concretização dos Direitos da Juventude.
Animados pelo resultado do XIV Festival, os jovens presentes exprimiram a sua vontade de manter vivo o movimento dos Festivais Internacionais da Juventude e dos Estudantes, conservando o espírito de luta de todos que, independentemente das suas diferenças políticas, raciais, sexuais e religiosas, lutam contra o imperialismo, o colonialismo, unidos numa frente comum.
O encontro ficou marcado para o XV
Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes!
Perto de duas centenas de jovens, com opiniões e maneiras de
estar diferentes, mas com um sentimento em comum, a solidariedade
para com os povos oprimidos, em especial pelo povo cubano.
Eis como se pode caracterizar a delegação portuguesa que participou no XIV Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Muitos visitavam Cuba pela primeira vez, muitos não tinham a certeza do que iriam encontrar, certos estavam do calor, dos mosquitos, das magníficas paisagens, do rum, mas do resto...
Ao chegar a Havana foi a primeira sensação que estávamos num país diferente, não só por aterrarmos no Aeroporto Internacional José Martí, mas também pelo imenso calor e pela elevada humidade que se fazia sentir.
Dois dias depois, passados em convívio com todos os delegados numa Escola pré-universitária, chegava um dos momentos mais esperados, mas também um dos que mais incerteza trazia. Era a altura dos delegados irem para as casas das famílias cubanas que nos iriam acolher até ao fim do Festival.
Para espanto dos delegados à chegada ao Parque esperavam-nos muitas famílias, com uma enorme alegria e de cartazes na mão com palavras de boas-vindas ou com os nomes de quem iam acolher em suas casas.
Depois da instalação, os delegados tiveram pequenas festas de recepção nos bairros, pequenas festas, mas enormes demonstrações de hospitalidade, de amizade e de alegria a pessoas de quem os cubanos apenas sabiam que eram portugueses e delegados ao Festival.
Como era possível que um povo que vive com tantas dificuldades, um povo que vive diariamente sob a opressão do imperialismo norte-americano, ser tão alegre, tão confiante, tão humano, um povo que partilha tudo o que tem e o que não tem.
Como era possível que um povo tão forte, que dá um exemplo de luta e resistência contra o imperialismo, só pela sua maneira de ser tão simples e humilde fazia-nos sentir tão importantes só pelo facto de sermos delegados ao Festival.
Como é possível que desde o primeiro contacto com as famílias sentimos que tínhamos uma mami, um papi, irmanitos, e que para as famílias nós eramos tratados como verdadeiros filhos.
Cuba tem um sistema político diferente. Quem vá a Cuba por pouco tempo pode não se aperceber directamente que está num sistema diferente, mas há um factor impossível de ignorar e que está inerente à revolução e ao sistema cubano que é o seu povo, por um lado, lutador, orgulhoso, resistente, pronto a defender até à última hora a sua pátria, um povo que vive e que sente Cuba e a revolução como sendo suas, por outro lado, um povo amigo, humilde, hospitaleiro, solidário, um povo alegre, que sabe viver.
Um povo que apenas com 15 dias de relacionamento com os delegados, chorou o nosso regresso a Portugal.
Por parte dos jovens portugueses que
estiveram no XIV Festival, ficou uma enorme tristeza de deixar as
suas famílias acolhedoras, mas também ficou a certeza de um dia
voltar e de continuar em Portugal uma justa luta de solidariedade
para com Cuba e o seu Povo.
«O Militante» Nº 231 de Novembro/Dezembro de 1997