Célula do Arsenal do Alfeite
de novo activa e forte

Por Vicente Merendas
Membro do Comité Central
e do Executivo da Comissão Concelhia de Almada




O Arsenal do Alfeite é uma casa com uma honrosa história de mais de 50 anos de trabalho e de luta. Daqui saíu Bento Gonçalves, que foi Secretário-Geral do Partido, Jaime Serra e tantos outros camaradas que, com a sua acção, contribuiram para que o Arsenal se transformasse num baluarte na luta contra o fascismo e estivesse sempre presente nas lutas marcantes levadas a cabo no concelho de Almada.

O Arsenal é uma empresa integrada na Marinha de Guerra onde trabalham 2200 trabalhadores, funcionando como estaleiro preferencial da Armada, isto é, é a empresa a quem, estatutariamente, são entregues as reparações da frota da Marinha de Guerra.

É certamente, em termos de potencialidades e de população trabalhadora, das maiores empresas do País. Mas é também uma empresa cheia de incertezas quanto ao futuro. Futuro que tarda em definir-se, começando a ficar cada vez mais claro o porquê do adiamento da sua reorganização.

A célula do Partido

A existência de organização do Partido no Arsenal data de há longos anos. As lutas travadas no tempo do fascismo e que fazem parte da história do movimento operário português são inseparáveis da existência da acção organizada dos arsenalistas no Partido Comunista Português.

Naturalmente, após o 25 de Abril a célula conheceu um crescimento espantoso, atingindo largas centenas de militantes. Realiza a sua primeira Assembleia em 1976, repetindo-se depois em 77, 82 e 84.

Com o sistema de aposentações, um número significativo de trabalhadores, incluindo militantes do Partido, saem do Arsenal. E a célula do Partido não consegue contornar esta adversidade. Deixou-se abater, caiu no desânimo e o seu funcionamento foi-se tornando cada vez mais fraco. Perdeu toda a sua capacidade de intervenção no seio dos trabalhadores, delegando nas estruturas unitárias a resposta para os problemas. Aconteceu o inevitável: as estruturas unitárias, sem o funcionamento do Partido, foram-se fragilizando. A Comissão de Trabalhadores ficou debilitada chegando ao ponto de perder o prestígio no seio dos trabalhadores.

A descrença foi-se apoderando dos militantes do Partido. A sua participação foi-se reduzindo, ou seja, o Partido quase que desapareceu do Arsenal e os militantes logicamente não apareciam.

O seu ressurgimento

Em 1996, a Comissão Concelhia de Almada discute a situação do Arsenal e toma medidas de direcção. Foi um trabalho árduo e persistente.

Primeiro, começou-se por vencer as hesitações, os desânimos e o Partido surge com tomadas de posição dentro da empresa através de comunicados. São distribuídas tarefas a muitos camaradas, tendo ficado bem patente nesta distribuição que nunca se tinham conhecido novos quadros porque não tinham realizado tarefas.

A célula torna-se cada vez mais actuante dentro da empresa, os militantes participam em maior número nas reuniões do Partido e assim renasceram as esperanças e fortaleceu-se a confiança de muitos camaradas.

Em Fevereiro de 1997, treze anos depois da 4ª Assembleia, realiza-se a 5ª Assembleia. Foi eleito um Secretariado de 18 membros e a célula reestruturou-se. Cada membro do Secretariado é responsável por um núcleo (13 núcleos sectoriais e mais o núcleo da Comissão de Trabalhadores, o da Comissão Sindical, o da Juventude, o da Informação e Propaganda e o da Organização e Fundos).

O papel dos jovens

De realçar o papel dos jovens que entraram no Partido à medida que foram amadurecendo no mundo do trabalho. São jovens operários que se impõem dentro da empresa, com informação própria virada para os jovens e que, a nível da célula, têm dado um forte contributo para o seu engrandecimento.

As conclusões da 5ª Assembleia em relação à situação da empresa definiram que o Partido dentro do Arsenal não pode abdicar da sua acção política, visando a ideia de que, com um PCP mais forte e influente, melhor serão defendidos os direitos dos trabalhadores e as suas aspirações.
Foi neste sentido que, analisando a situação da empresa, a Assembleia tomou posições e as divulgou junto dos trabalhadores. Assim, os comunistas do Arsenal assumiram uma posição frontal contra a tentativa de privatização da empresa pelo Governo do PS.

Em relação ao falado processo de reestruturação, o mesmo não poderá desrespeitar os direitos e garantias fundamentais dos trabalhadores arsenalistas, tendo sido exigido que os trabalhadores sejam chamados a pronunciarem-se através dos seus órgãos representativos.

Uma célula de novo activa

A célula do Arsenal é um exemplo vivo de que não são só as questões objectivas que determinam as dificuldades de muitas organizações, são também questões subjectivas que dependem da tomada de medidas certas na altura certa.

Hoje, a célula do Arsenal com os seus 160 militantes é uma grande célula profundamente enraízada na classe operária. Está recuperando o seu prestígio e tornou-se uma força de vital importância na defesa dos trabalhadores.

A célula, respeitando e incentivando a independência das estruturas unitárias, contribuiu para que, dentro do Arsenal, os trabalhadores possuam, actualmente, uma Comissão Sindical e uma Comissão de Trabalhadores fortes e actuantes.

Foi com uma pontinha de emoção que os arsenalistas no 1º de Maio de 1997 se foram juntando ao seu pano e partiram desfilando, enquadrados no concelho de Almada, coisa que há muitos anos não acontecia.

Os arsenalistas recuperaram o ânimo e sentem-se orgulhosos da sua célula.

Existe uma ideia generalizada, a célula é o Partido dentro da empresa.

A esta ideia junta-se uma outra que se está enraizando e generalizando no seio dos trabalhadores: o PCP é o Partido que melhor defende os trabalhadores e é quem mais luta pelos seus direitos.


«O Militante» Nº 231 de Novembro/Dezembro de 1997