A estória dos jobs
e dos boys
(leia-se bóis)...
Num debate televisivo entre António Guterres e Fernando Nogueira
antes das eleições legislativas de 1995, o então dirigente do
PSD disse que existiam cerca de 5.500 cargos de nomeação
política. Ante a indignação provocada por tal afirmação,
Guterres afirmou que, se fosse eleito, acabaria com tal
"escândalo". E fartou-se de falar disso na sua
campanha eleitoral. Depois de ter ganho as eleições declarou
mesmo: "no jobs for the boys" ("não há empregos
para a rapaziada") (manhã Popular, 21/5/97).
A verdade, depois, foi totalmente diferente. Não tem havido falta de empregos para a rapaziada...
Até 16 de Maio deste ano, o Governo fez 4.947 nomeações. No dia anterior o Governo decidiu suspender as nomeações para cargos dirigentes da função pública até à entrada em vigor da Lei da Revisão do Estatuto do Pessoal Dirigente. Esta lei fora aprovada pela Assembleia da República em 20/3/97 mas só dois meses depois (15/5/97), o Governo considerou ser altura para pôr "cobro a uma situação indesejável" (Público, 16/5/97).
Um dia depois dessa deliberação, o Diário da República de 16/5 ainda publicava mais 54 nomeações feitas pelo secretário de Estado da Produção Agro-Alimentar (manhã Popular, 21/5/97). E depois ainda continuaram a ser feitas muitas outras nomeações sem qualquer concurso porque teriam datas anteriores à aprovação da lei... (Avante! , 24/7/97).
Mas não são só os boys e os jobs que estão em jogo. O PS não quer ficar atrás do que fazia o PSD. Até intervém nas promoções. Um exemplo disso passou-se há poucos meses na Brisa. Porque uma determinada engenheira não tinha sido promovida este ano, o antigo Presidente da empresa que está agora à frente da Expo 98, Torres Campos, mandou um recado para a Brisa a dizer para a promoverem... e foi promovida.
É uma cultura que ganha aderentes com facilidade, particularmente entre os "convertidos" (por alguma razão se deslocam para outras culturas). É o caso do médico de Évora, José Ernesto de Oliveira, que já foi deputado do PCP e agora é o candidato do PS à Câmara daquela cidade. Ele era também o vice-presidente da Comissão de Coordenação da Região Alentejo (CCRA). Como o Presidente desta Comissão se demitiu e há dois vice-presidentes, aquele médico disse que, se não fosse designado presidente da CCRA, "se demitiria do cargo de vice-presidente e já não seria candidato à Câmara de Évora" (Diário do Alentejo, 27/6-3/7). E, deste modo, ficou Presidente da CCRA "em regime de substituição", até às eleições de Dezembro.
Assim vai a vida... no reino dos jobs e dos boys.