Notas e Comentários
António Guterres foi à Assembleia da República em 24 de Abril
último «vender» um verdadeiro oásis. Com números do Banco de
Portugal, do FMI e da Comissão Europeia, pretendeu impingir que
a situação económica e social vai por bom caminho. O Avante!
publicou já (8/5/97) um esclarecedor artigo do camarada Octávio
Teixeira sobre este assunto. Aí se diz:
«O Primeiro-Ministro procurou desmentir a realidade sentida pela generalidade dos portugueses com as previsões de algumas instituições».
E não se pense que são os comunistas que vêem a situação que se vive no País com óculos escuros. Vale a pena trancrever alguns trechos de um artigo do Diário de Notícias (3/5/97) que tem por título «Os escravos da produção».
«(...) há muitas (empresas) em que os trabalhadores aparecem
como escravos da produção, submetidos a condições de trabalho
injustas e degradantes»
«As condições laborais em grande número de empresas continuam precárias, quer ao nível da assistência médica, quer no que diz respeito à segurança e ao necessário tempo de descanso; de tal modo que, em muitos casos, o local de trabalho é tudo menos um espaço de dignificação da condição humana; persiste o trabalho infantil, agora mais camuflado porque passou a ser feito no domicílio».
«A concentração da riqueza nas mãos de poucos, a ganância dos poderosos, a insaciável ambição de opulentos que impõem um jogo quase servil aos operários também encontra exemplos evidentes na nossa (...)» região.
A tudo isto acresce «o forte desnível entre salários, que aumenta cada vez mais o fosso entre ricos e pobres, tanto mais que os aumentos salariais são pensados em termos de percentagem e não segundo aquilo que cada trabalhador já aufere.»
«(...) não é raro verificar-se que os trabalhadores mais conscientes e activos na defesa dos seus direitos sejam perseguidos e vejam os seus empregos ameaçados, para além dos casos de exploração legal de trabalhadores migrantes».
Estas frases são de um diagnóstico aprovado pela terceira assembleia plenária do quadragésimo sínodo diocesano da Igreja bracarense. Nas citações feitas não transcrevemos a palavra diocese e colocamos região para não mostrar logo qual a origem do texto.
A verdade é que, ante uma situação social tão grave, até sectores da Igreja não podem deixar de ter uma posição bem contrária à do Primeiro-Ministro. Aliás no mesmo texto encorajam-se os trabalhadores a empenharem-se «na luta pelo direito a um trabalho digno e à existência de trabalho para todos» e são instigados «à denúncia corajosa das injustiças e dos atropelos à dignidade humana.»