O Ensino em cima da mesa


Mesa Redonda sobre os Ensinos Secundário e Superior com João Pauzinho, Ricardo Oliveira e Vanessa Silva, membros da Comissão Política da Direcção Nacional da JCP e os dois últimos membros do Comité Central do PCP




Que balanço pode ser feito, na vossa opinião, dos recém-realizados 6º Encontro Nacional do Ensino Secundário (ENES) e 8ª Conferência Nacional do Ensino Superior da JCP (CNES)?



Vanessa - Para nós o 6º ENES foi muito positivo. Realizaram-se iniciativas de preparação do Encontro em todos os distritos. A discussão no próprio Encontro foi bastante enriquecedora, destacando-se as questões da carga horária e dos currículos da avaliação nos Ensinos Básico e Secundário e do Acesso ao Ensino Superior. É preciso também destacar o importante papel do 6º ENES na dinamização da luta dos estudantes do secundário, um dos objectivos do Encontro. Ficou claro o sentimento de descontentamento dos estudantes deste grau de ensino, face à actual situação na Educação. Decidimos meter mãos à obra!



Ricardo - Realizada num momento em que estavam em debate importantes questões sobre o Ensino Superior, nomeadamente a Lei de Financiamento e as Alterações à Lei de Bases, a 8ª CNES assumiu-se como um factor importante na discussão sobre o actual estado do Ensino Superior, o Ensino Superior que queremos e a situação da nossa organização. É de realçar o grande crescimento da organização do Superior da JCP desde a realização da 7ª CNES. Temos hoje colectivos, num estado mais ou menos desenvolvido de organização e intervenção, em Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Porto, Covilhã, Coimbra, Santarém, Lisboa, Setúbal, Évora, Beja e Algarve, quando há dois anos e meio contávamos quase exclusivamente com Lisboa, Coimbra e Porto.



Que evolução se tem registado nas organizações do Ensino Secundário e Superior da JCP no plano orgânico e no plano da intervenção?



Ricardo - Como referi, a intervenção da JCP no Ensino Superior alargou-se a novos pólos universitários. Reforçou-se também a organização onde esta já intervinha; por exemplo, temos hoje em Lisboa mais colectivos a funcionar. Mas há ainda algumas deficiências. Não temos dado a atenção necessária à preparação atempada dos processos eleitorais e à coordenação da acção dos comunistas no movimento associativo.



Vanessa - No plano orgânico registamos evoluções na dinamização e criação de colectivos de escola e no envolvimento de estudantes do Ensino Secundário no trabalho da JCP, através do recrutamento de novos militantes e da participação em organismos de direcção da Organização do Ensino Secundário (OESEC). Quanto à intervenção, podemos dizer que, neste ano lectivo, há um saldo importante da participação dos estudantes comunistas no movimento associativo, com um aumento da nossa influência um pouco por todo o país. A Campanha por uma Educação Pública, Gratuita e de Qualidade permitiu-nos estabelecer um contacto mais forte com um vasto conjunto de escolas nas quais existem experiências diversificadas da intervenção própria da JCP.



João - Por exemplo, no distrito de Évora temos assistido, nos últimos anos, a um significativo crescendo quer de adesões, quer da criação de novos colectivos de escola, quer do reforço dos já existentes. Mas pensamos que tem sido sobretudo na nossa intervenção que temos registado uma melhoria extremamente significativa, conseguindo hoje chegar à maioria dos estudantes - no Secundário e no Superior -, a partir da distribuição de documentos, da realização ou intervenção em debates, reforçando o conhecimento que os estudantes têm das propostas da JCP.



Uma vez mais os estudantes estão em luta, tanto no Ensino Superior como no Secundário. Quais são as suas principais reivindicações?



Vanessa - No Secundário são, no essencial, as questões da avaliação - Provas Globais e Exames Nacionais - e do acesso ao Ensino Superior, ainda que existam algumas acções de luta sobre questões mais localizadas. Os estudantes, que no mês de Maio saíram à rua em Évora, Aveiro e Setúbal, exigiram uma avaliação contínua e o fim do numerus clausus, entre outras reivindicações de que é importante salientar a exigência da diminuição da carga horária do 12º ano e de uma verdadeira reforma curricular do Ensino Básico e Secundário.



Ricardo - No Superior destacam-se algumas questões, de alguma forma já antigas e ainda por resolver. O financiamento do Ensino Superior Público, em especial o aumento das propinas, a inexistência de uma efectiva Acção Social Escolar e as condições degradantes vividas em muitas escolas, continuam a ser os problemas centrais das reivindicações estudantis. Podemos resumi-las na palavra de ordem da JCP: a luta “Por um Ensino Superior Público, Gratuito e de Qualidade”.



Parecem-nos que as causas das lutas estudantis se identificam com as propostas e reivindicações da JCP e do Partido?



João - Mais do que nunca a grande maioria dos estudantes têm a consciência de que as propostas da JCP vão ao encontro das suas mais profundas aspirações. Temos feito um enorme esforço de divulgação das nossas propostas nas escolas, no sentido de informar e alertar os jovens para o perigo que representa a política de direita seguida pelo Governo PS ao nível da Educação e, ao mesmo tempo, apresentar as nossas alternativas. É aqui que temos tido grande receptividade por parte dos estudantes.



Vanessa - É verdade, as reivindicações e as causas de luta dos estudantes do Ensino Secundário têm eco nas propostas e reivindicações da JCP, o que demonstra uma JCP próxima e profundamente ligada aos estudantes.



Ricardo - Há algumas semanas atrás a Direcção da JCP recebeu uma delegação de algumas estruturas do movimento estudantil, confirmando-se então o que temos vindo a afirmar: há uma clara coincidência entre as nossas propostas e as reivindicações dos estudantes. Foi inclusivamente afirmado pelas Associações de Estudantes presentes que o PCP é o único partido político que sempre defendeu os interesses dos estudantes.



Em que medida a intervenção e o reforço da JCP nestes sectores resultantes destes encontros, pode ter contribuído para a dinamização destas lutas?



Ricardo - Podemos afirmar que, existindo já dinâmicas próprias, a realização da 8ª CNES, o debate desenvolvido e as próprias conclusões foram um contributo importante para o despoletar do processo de contestação, nomeadamente às propostas do Governo PS - agora leis - relativamente ao aumento das propinas.



João - Pensamos que a fase preparatória dos encontros foi a etapa mais importante para a dinamização da luta. Foi aí que mais se enriqueceu a discussão e que se tomou consciência mais profunda para os problemas reais dos estudantes. A luta e a sua dinamização foram a forma escolhida de intervenção, como o culminar de todo um processo de chamadas de atenção ao Governo de Guterres.



Qual é o papel dos estudantes comunistas no movimento juvenil, concretamente nas lutas estudantis?



João - Os estudantes comunistas são reconhecidos dentro das suas escolas como jovens que sempre e em qualquer situação, por mais difícil que seja, estão ao lado dos estudantes. É por isso que estão no movimento associativo através de listas unitárias e que o seu esforço, capacidade de liderança e dinamização são reconhecidos pelos estudantes.



Vanessa - Hoje podemos reafirmar com orgulho que os nossos camaradas no Secundário gozam de bastante prestígio nas suas escolas, não só pela coerência das nossas propostas como também pelo seu esforço e trabalho nas Associações de Estudantes e em outros núcleos de estudantes.



Ricardo - Os estudantes comunistas têm um papel, juntamente com outros estudantes, de dinamização da contestação estudantil por reivindicações justas e concertadas. Esta influência, esta característica de dinamizadores da luta, torna-se evidente quando a JCP tem capacidade de intervenção, sobretudo em pólos sem grande tradição de luta e que começam a participar na contestação.



Que evolução podemos esperar, na vossa opinião, para o desenvolvimento destas lutas e da intervenção dos estudantes comunistas?


Vanessa - Para o próximo ano lectivo prevemos que as acções de luta se iniciem mais cedo no Ensino Secundário, como aliás vários dirigentes associativos anunciam também. Quanto à nossa intervenção, sabemos que a luta reforça a organização e a organização reforça a luta. Continuaremos a trabalhar para uma melhor intervenção, que seja cada vez mais forte, da JCP na luta justa contra o actual sistema educativo.



Ricardo - O início do próximo ano lectivo será um momento determinante para o desenvolvimento da luta no Superior. Os estudantes comunistas continuarão a debater, a intervir e a lutar no sentido do reforço e alargamento da contestação estudantil, que acreditamos justos e necessários para o desenvolvimento do nosso país. Temos muitos contributos a dar e um grande trabalho pela frente!


«O Militante» Nº 229 de Julho/Agosto de 1997