Vila do Paúl - Concelho da Covilhã
Uma experiência vivida
Por Victor Reis Silva
Membro do Executivo da Direcção da ORCB
Presidente da Junta de Freguesia do Paúl e
actual cabeça de lista para a eleição da Câmara Municipal da Covilhã
Estamos, em 1974, numa aldeia rural com um povo religioso
dependente de um pároco que dominava os mais diversos aspectos
da vida das pessoas. Uma população que sentiu o peso da
emigração nos anos 60 e que via os seus melhores filhos
procurar nos grandes centros urbanos e no estrangeiro o pão, o
saber e a liberdade que não tinham.
Logo após o 25 de Abril procurou-se mudar a composição da
Junta. A população opôs-se e os democratas foram
escorraçados com vivas à "Junta velha".
Um grupo de jovens procurou criar condições para a prática desportiva e o acesso à cultura, constituíram uma Associação. Era o tempo da procura de novos valores, de ideais, da defesa intransigente do desenvolvimento de uma juventude sã com mente sã e culta.
Nas primeiras eleições para as autarquias (1976) apresentou-se uma lista da FEPU. Tivemos 86 votos e elegemos um elemento para a Assembleia de Freguesia que nunca foi convocado. A direita obteve a maioria absoluta com cerca de 900 votos.
Os comunistas e outros democratas eram, nesta época, ameaçados, agredidos e insultados (uma caravana de distribuição de propaganda para as eleições à Assembleia Constituinte, ao som dos sinos da igreja em toque de "a rebate", teve que abandonar a aldeia de forma precipitada).
Apesar das ameaças e insultos, sempre participámos nas campanhas eleitorais e de propaganda, colando cartazes, distribuindo os materiais de informação, vendendo o Avante! e o O Militante, procurando constituir listas abertas a independentes e até a activistas do PS que connosco quisessem colaborar.
Em 1979, já com 3 eleitos na Assembleia da Freguesia, foi
possível (no meio do mandato) provar que a Junta era mal gerida.
A inspecção actuou e aconselhou o presidente a demitir-se.
Nas eleições de 1982 a direita continuou com a maioria absoluta mas elegemos um elemento para o Executivo, que desenvolveu um trabalho muito positivo de denúncia das ilegalidades e de ajuda à população na resolução dos problemas da Freguesia.
Em 1985, a direita perdeu a maioria absoluta e o PS ficou como o segundo partido mais votado. Foi possível eleger um elemento do PS e um da CDU para o Executivo e ficarmos com o 1º Secretário da Mesa da Assembleia.
A partir desta data tudo mudou.
Apesar da direita ter o presidente da Junta, a CDU orientava os
destinos da Freguesia e os trabalhos da Assembleia, que passou a
reunir com regularidade, a elaborar, pela primeira vez, planos de
actividade, orçamentos credíveis, contas e relatórios de
actividade de acordo com a lei. Também se reforçou a presença
na imprensa com artigos informativos e de opinião e a
informação junto da população com documentos oportunos sobre
a vida colectiva.
Em 1989, a CDU ganhou a Junta com maioria relativa.
Trabalhámos durante 4 anos dentro de um espírito de inteira abertura, envolvendo cada vez mais gente no trabalho autárquico, tendo sempre como perspectiva o desenvolvimento da comunidade.
Procurou-se acesso a programas comunitários, do Instituto do Emprego e Formação Profissional, do Ministério da Agricultura. Equipou-se a Junta com material informático (antes nem telefone tinha). Criou-se uma brigada de pessoal de limpeza, conservação e execução de pequenas obras. Criaram-se espaços verdes e parques de merendas. Apresentaram-se candidaturas a instituições diversas. Elaboraram-se projectos de beneficiação de regadios, de caminhos agrícolas, de electrificação rural e de apoio aos jovens através do Instituto Português da Juventude. Executaram-se beneficíos em edifícios e equipamentos colectivos, nas vias intra-urbanas e em caminhos rurais de maior utilização. Criaram-se várias associações de interesses específicos e um conselho cultural onde têm assento todas as colectividades, com programação e execução de um calendário anual de actividades culturais. Publicou-se com regularidade um boletim da Junta. Criou-se um serviço de atendimento à população com a oferta de vários serviços públicos (recepção de declarações do IRS, do pagamento da água ao domicílio, declarações para benefício de redução da taxa de telefone e para apoio à agricultura, etc.). Ofereceu-se, através da compensação de encargos e da AECOD, equipamento para salas de convívio e instrumentos à Banda Filarmónica.
Como resultado do trabalho desenvolvido, a CDU obteve a
maioria absoluta, em 1993, com 630 votos. A direita desceu
para 340 votos e o PS para 120 votos.
A experiência indica-nos que a participação nos órgãos autárquicos e nas colectividades com propostas credíveis e trabalho concreto, dota os eleitos de um capital de credibilidade fundamental junto das populações e que mesmo em situação de minoria devemos ter consciência de que estamos a resolver os problemas da população e, como tal, devemos ajudar os órgãos autárquicos a encontrar soluções.
Que devemos ouvir e escutar as populações para melhor conhecer os seus reais problemas, ajudando-as e prestando especial atenção e carinho aos mais idosos e às crianças.
Em suma: um estilo de trabalho que honre a trilogia: trabalho, honestidade e competência. Um estilo de trabalho virado essencialmente para a melhoria do serviço público pois as autarquias existem para servir as populações e o seu desenvolvimento.
A persistência, a coerência, a humildade, a capacidade em escutar o outro, a honestidade, a transparência são valores fundamentais dos homens e mulheres do PCP e da CDU que devem ser preservados e desenvolvidos no dia a dia junto das populações. Só com o nosso exemplo, na vida profissional e pública, é possível afirmarmos tais valores.