Um exemplo a não seguir




No Expresso (15/3/97) foi publicado um artigo intitulado “PCP reconhece quebra de influência em Évora”. É assinado por José Frota.

Quem escreveu o texto deve ter tido acesso aos documentos que foram discutidos na IV Assembleia da Organização Regional de Évora do PCP. Se calhar não sabe que numa Assembleia de qualquer organização do PCP se encontram normalmente assinalados os aspectos negativos e os positivos do período que vem da anterior Assembleia.

Mesmo assim, mesmo só lendo a parte negativa, o que se diz no artigo nada tem com o que está escrito nos documentos apresentados na Assembleia.

Um exemplo. Diz-se no Expresso:

A DOREV do PCP “admitiu recentemente que o partido sofreu, nos últimos quatros anos, uma profunda quebra de influência em todo o distrito, o que poderá vir a repercutir-se negativamente nos resultados das próximas eleições autárquicas”.

Em nenhum documento se refere “uma profunda quebra de influência” e a respeito das autárquicas o que se diz é o seguinte: “A obra realizada pelo PCP e a CDU constitui um dos principais aspectos que permitem enfrentar as eleições com grande confiança e determinação”. E apontam-se vários objectivos positivos incluindo “conquistar a Presidência em novos municípios e freguesias, particularmente no município de Vila Viçosa”. É notório que o objectivo do articulista é tratar das eleições autárquicas dando do PCP em Évora uma muito má imagem. Aliás o artigo termina dizendo que o prestígio dos autarcas tem contribuído para que o Partido “disponha no distrito da sua melhor «performance» a nível nacional (onze em catorze câmaras)”. E logo a seguir, para acabar, vem a cutilada:

“só que, na maioria dos casos as populações anseiam pela mudança”. São desejos... Quanto à «performance» a questão deve ser só de ignorância. Em Setúbal a CDU elegeu 12 presidentes de Câmara em 13.

Um último dado. Diz o texto: “O número de efectivos do partido no distrito de Évora, um dos seus últimos baluartes, é agora apenas de 8 055 [são 8 085] quando, nos seus tempos aúreos, chegou a rondar os 30 mil”.

Aqueles “últimos baluartes” é de amigo... E os 30 mil? São o fruto da invenção e do total parcialismo do texto. O maior número de membros do Partido no distrito de Évora foi de 11.385 (12/85). A diminuição do número de membros do Partido em Évora é, percentualmente, um pouco menor que no global do Partido. Como é possível a falta de isenção chegar tão longe?


«O Militante» Nº 228 de Maio/Junho de 1997