No número anterior de O Militante foi publicado um artigo
sobre Fluxos financeiros entre Portugal e a UE,
particularmente no domínio da agricultura. Nesse artigo
mostra-se que, «no tocante à agricultura e no plano
estritamente financeiro, Portugal é profundamente penalizado».
Como é conhecido, a nossa agricultura vive uma profunda crise.
Houve muita gente que terá pensado que, entrando para o Mercado
Comum, para a CEE, aí estava uma boa solução para fortalecer e
desenvolver essa parcela muito importante da nossa economia. Só
o PCP alertou para os riscos que a adesão ia acarretar. Para o
PS, o PSD e o CDS tudo eram rosas! Também não é possível
esquecer que o Governo de Cavaco Silva exaltou como uma grande
«vitória» a reforma da PAC (Política Agrícola Comum) que
teve lugar durante a presidência portuguesa. Mais uma vez, só o
PCP esteve contra essa reforma, que foi apoiada na AR e no PE,
para além dos deputados do PSD, pelos do PS e do CDS/PP! Agora,
é o próprio ministro da Agricultura a reconhecer que «a actual
PAC não serve os interesses da agricultura portuguesa e
constitui mesmo um obstáculo à sua transformação e ao seu
necessário ajustamento estrutural. Curiosamente é a própria
Comissão (que dirige a União Europeia) a reconhecê-lo: a PAC
é uma política anticoesão em Portugal» (excerto da sua
intervenção na AR - DN, 8/3/97). Depois ainda disse: «Esta
situação só poderá ser alterada através de uma reforma da
PAC que privilegie a reorientação dos apoios (...) mas (...) o
eixo franco-alemão não pretende a alteração da actual
política agrícola com os contornos que exibe». Já dias antes
(DN, 4/3/97), num documento enviado ao comissário europeu Franz
Fischler, o ministro referia o facto de a própria Comissão ter
reconhecido em 1996 no relatório da coesão que «Portugal é um
contribuinte líquido agrícola» e que no conjunto dos países
da coesão é o «o único perdedor agrícola» numa situação
que «tende a agravar-se» Tudo isto significa que a agricultura
portuguesa, no seu conjunto, tem estado, ao longo dos anos, a
ajudar as fortes agriculturas dos grandes países, a começar
pela Alemanha e a França. A Comissão sabe isso muito bem. E os
governos portugueses têm procurado esconder o que se passa. Com
aqueles parceiros e estes governos «não precisamos de
inimigos»...