Modificações políticas a ter em conta
Temos de continuar a falar no fortalecimento do Partido
tendo em conta as suas diversas expressões. Como foi bem vincado
no XV Congresso, esse fortalecimento é fundamental para abrir o
caminho para uma alternativa à política de direita que se
mantém e pretende ir cada vez mais longe nos seus desígnios.
Num período em que se estão desenvolvendo muito diversas lutas, em que têm lugar importantes manifestações, em que a ligação do actual Governo ao grande capital se vai tornando mais que evidente, em que o PS cada vez mais se confunde com o PSD e a ele se alia para levar por diante objectivos que ferem a democracia, o progresso social, o desenvolvimento económico, a própria independência do país, o PCP vai surgindo para muito mais gente como a única grande força política que defende os valores da esquerda, que se preocupa com as aspirações dos trabalhadores e das outras camadas laboriosas, que luta por uma democracia avançada e pelo socialismo.
Em cada organização é preciso analisar o melhor possível a situação existente. É necessário conhecer bem o meio em que a organização exerce a sua actividade e as modificações que vai sofrendo em virtude de questões que não dominamos mas também em virtude da nossa acção, da nossa influência, seja ela grande ou seja pequena.
É também indispensável acompanhar com atenção a repercussão que os últimos acontecimentos políticos estão a ter entre os trabalhadores da empresa em que existe uma célula (ou mesmo que seja uma ligação mais frouxa), ou do sector que tem uma organização do Partido, ou entre os que vivem num dado lugar, freguesia, concelho ou região onde uma organização comunista está implantada.
Cabe naturalmente à direcção de uma organização a primeira responsabilidade em discutir essas questões, procurando que o debate atinja o maior número de membros do Partido através dos diversos organismos que formam a estrutura orgânica ou recorrendo a outras formas de ligação, desde o contacto individual aos plenários.
É devido à importância do papel do organismo dirigente de qualquer organização que, quando se trata do fortalecimento do Partido, se terá de ter a preocupação de procurar reforçar esses organismos. Como a direcção de uma dada organização deve ser eleita sempre que se realiza a respectiva Assembleia, é claro que a convocação desta tem de ser regular e suficientemente frequente para que, para além do seu relevo na vida democrática do Partido, permita não só uma discussão mais ampla sobre os aspectos positivos e negativos da actividade realizada como para eleger o conjunto de camaradas que assumem a responsabilidade de dirigir essa actividade.
Isto significa que o fortalecimento do Partido passa pela realização regular das Assembleias, por um debate crítico e autocrítico sobre a actividade realizada e por uma eleição responsável dos respectivos organismos de direcção.
Estes devem ter a preocupação de distribuir criteriosamente as tarefas de modo a responsabilizar cada um dos seus membros, melhorar o trabalho colectivo, elevar o nível das suas reuniões, acompanhar a realização das tarefas, fortalecer a organização (a sua estrutura, o seu alargamento, o seu desenvolvimento político e ideológico), aprofundar a sua ligação ao meio em que actua e reforçar a sua influência.
Para acompanhar uma organização que não seja muito reduzida é indispensável proceder à sua estruturação.
A estruturação tem de ter em conta as realidades objectivas do meio em que se desenvolve a acção do Partido e a realidade da organização partidária existente. A constituição dos organismos que compõem uma dada estrutura tem que aproximar os seus membros aos seus companheiros de trabalho ou colegas (na empresa e nas suas secções, nos sectores profissionais, etc.), aos seus vizinhos, às populações, de modo a facilitar uma maior ligação entre os comunistas e os outros trabalhadores e pessoas em geral.
É através desses organismos, nas suas reuniões regulares, que é possível concretizar a participação directa dos membros do Partido, debater as questões que se consideram mais importantes, assentar nas tarefas a efectuar e acompanhar o seu cumprimento. É na base da regularidade e da crescente responsabilização dessas reuniões que se vão formando os membros do Partido.
A formação de novos quadros é questão essencial para permitir o fortalecimento e o alargamento de qualquer estrutura orgânica. E a existência de uma estrutura adequada e forte cria melhores condições para resolver o problema dos camaradas que estão desligados ou sem contacto regular com o Partido.
O fortalecimento do Partido passa, por isso, também por uma melhor estruturação da organização, pela formação de novos quadros, pela criação de laços orgânicos com muitos mais membros do Partido.
Também em relação ao recrutamento se verificam melhores condições para o seu êxito. Há actualmente muita gente que está mais disposta a aproximar-se do nosso Partido. Mas em muitas organizações há poucos camaradas dispostos a avançarem para o recrutamento.
Por isso é necessário discutir mais a importância do recrutamento, levar essa discussão a muitos organismos e organizações que pouco ou nada fazem a esse respeito, assentar as formas concretas para realizar o recrutamento e acompanhar os seus resultados.
No XV Congresso destacou-se especialmente a necessidade desta actividade normal de qualquer organização que é a de recrutar novos membros. E também a importância de uma maior militância e de uma maior atenção com as organizações de base.
Na verdade, o fortalecimento do Partido passa pela intensificação do recrutamento, pela elevação da militância e por um cuidado maior no acompanhamento e no reforço das organizações de base.
A leitura do Avante! e de O Militante é muito necessária aos membros do Partido que estão empenhados num trabalho de esclarecimento.
Actualmente há condições para esse trabalho ter uma melhor recepção dado o descrédito crescente e bem visível da política seguida pelo Governo do PS e das posições dos dirigentes do PSD e do CDS/PP. Isto quer dizer que mais necessário é conhecermos as análises e a orientação do nosso Partido. Contamos para isso com as reuniões regulares do Partido e com outras reuniões e iniciativas, que por todo o país se vão realizando. Mas a nossa imprensa pode desempenhar um papel mais importante se se fizer um esforço maior para a tornar leitura habitual de mais membros do Partido e se aumentarmos a sua divulgação junto de outros democratas.
Por outro lado, as receitas do Partido têm de ter um aumento significativo para se poder desenvolver a nossa actividade em muitas frentes, incluindo a actual movimentação pelas eleições autárquicas.
Não se trata só da campanha dos 200 mil contos mas de um maior empenhamento com o pagamento das quotas por parte de muitos membros do Partido que as não pagam, com a elevação do valor de muitas das quotas existentes, com um maior número de contribuições e de iniciativas de fundos.
Para o fortalecimento do Partido é indispensável uma maior divulgação da nossa imprensa e uma nítida elevação das nossas receitas.
Todas estas questões tratadas como importantes para o fortalecimento do Partido são principalmente problemas de organização.
Mas é preciso ter presente que o fortalecimento orgânico é de muito grande importância na medida em que, com ele, se criam melhores condições para ligar a organização ao meio em que actua.
É esta ligação, mais do que qualquer outra característica, que mede o fortalecimento de uma organização do Partido.
É esta ligação que, agora, nas circunstâncias económicas, sociais e políticas que se vivem, ganha um maior interesse, pois importa que os comunistas desenvolvam uma maior aproximação com os outros trabalhadores e elementos de outras camadas laboriosas e da população em geral.
Dialogando sobre as diversas situações que se vivem, escutando as razões dos outros e esclarecendo, sem jactância nem sectarismos, as nossas, e realçando o que é comum, é possível aproximar mais, sensibilizar para acções unitárias, criar novos aliados e até, em muitos casos, alargar o nosso Partido.
O fortalecimento orgânico do Partido tem de traduzir-se, desde já, numa mais intensa actividade junto dos trabalhadores e dos democratas em geral de modo a ganhar para posições de esquerda muitos que têm sido ludibriados, ao longo de anos, por preconceitos anticomunistas, pela demagogia, pela hipocrisia, pela política de direita imposta desde 1976 no nosso país quer pelo PS, quer pelo PSD e pelo CDS/PP.