«O Militante» Nº 227 de Março/Abril de 1997 - Democracia?

Democracia?




A União Europeia, apesar de ter criticado a lei Helms-Burton, tem objectivos que não podem ser muito diferentes dos dos Estados Unidos.

Aquela lei, que Clinton suspendeu por seis meses, em virtude dos protestos vindos de muitos países (e renovou, recentemente, essa suspensão por outro semestre), dá o direito às empresas norte-americanas de processarem as empresas que negoceiem com Cuba. Esta pretensão, imperialista, de mandar no comércio dos outros chocou-se naturalmente com os interesses de países que querem continuar a negociar com Cuba.

Entretanto, na segunda quinzena de Dezembro passado, o presidente da Comissão da UE, Jacques Santer, após conversações com Clinton, disse que elas tinham ajudado a «desanuviar o ambiente» quanto a Cuba e que estavam de acordo quanto ao objectivo final de estabelecer aí uma democracia» (DN, 17/1/96).

Por que será que aquelas duas figuras acordam em estabelecer uma democracia em Cuba e não estabelecem um tal acordo em relação à Indonésia? E em relação à Arábia Saudita? E em relação ao Zaire? E em relação a muitos outros países em que, na verdade, não há respeito nenhum pelos mais simples direitos democráticos e, ainda menos, pelos económicos, pelos sociais, pelos culturais? Como é que isto se compreende?

É claro que quando Clinton e Santer falam em democracia o que querem (ou, melhor, não querem) dizer é capitalismo.

Ah! Assim já se percebe...


«O Militante» Nº 227 de Março/Abril de 1997