«O Militante» Nº 227 de Março/Abril de 1997 - Contradições demasiado claras


Contradições demasiado claras




Em meados de Janeiro passado foi muito tratado na comunicação social o caso do Canadá ter decidido expulsar um português que nos últimos 13 anos fora condenado 18 vezes por assaltos e tráfico de droga.

Ultimamente têm sido expulsos pelos EUA dezenas de portugueses, naturais dos Açores, em virtude de terem sido condenados nos tribunais norte-americanos. Muitos deles nem sequer têm família próxima para onde são mandados e vivem situações de grave marginalidade.

No caso de Hélder Marques, o português expulso do Canadá, não só não tem família em Portugal nem fala português como está gravemente doente com sida e é tóxicodependente.

Em Toronto, onde vive uma muito numerosa comunidade de emigrantes portugueses, desenvolveu-se um movimento de protesto contra esta expulsão, que não só juntou pessoas de diversos quadrantes políticos, como realizou uma manifestação frente à Câmara Municipal.

O médico que o tem acompanhado, César Cordeiro, diagnosticou aspectos de esquizofrenia os quais poderiam ajudar a explicar os actos que o condenaram. Um outro médico, Tomás Ferreira, presidente do Congresso Nacional Luso-Canadiano, declarou, durante a manifestação, que “a lei que permite deportar Hélder Marques para um país que só o viu nascer é uma desumanidade”. A irmã de Hélder Marques foi vista nos noticiários dos canais de televisão portuguesa a protestar contra a expulsão.

É neste contexto que o secretário de Estado das comunidades portuguesas, José Lello, diz ao DN tratar-se “de um indivíduo perigoso e violento, desequilibrado e com lapsos de memória, que já devia ter sido expulso há muito tempo” (DN, 1/1/97).

Entretanto, a acção de solidariedade desenvolvida pela comunidade portuguesa conseguiu que a expulsão não tivesse lugar. E logo José Lello afirma que o volte-face na decisão do Governo canadiano é “uma conquista da diplomacia portuguesa”. Só depois refere que é também “uma prova da força que a comunidade portuguesa ali radicada atingiu, além do último relatório que um médico independente fez há poucos dias sobre o seu estado de saúde” (DN, 15/1/97).


«O Militante» Nº 227 de Março/Abril de 1997